Oposição aciona TCU contra campanhas do governo Lula que atacam Congresso

Reportagem do 'Estadão' mostrou que gestão Lula vem utilizando perfis institucionais nas redes sociais para defender agendas do Palácio do Planalto e fazer contraponto ao Legislativo; Secom negou irregularidades

10 dez 2025 - 20h30

Líder da oposição na Câmara, o deputado federal Zucco (PL-RS) protocolou uma representação no Tribunal de Contas da União (TCU) pedindo a suspensão de campanhas do governo federal que promovem propostas legislativas do Executivo e atacam opositores.

A representação ocorre após reportagem do Estadão mostrar que a gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vem usando perfis institucionais do governo nas redes sociais para defender agendas do Palácio do Planalto, fazer contraponto a decisões do Congresso e criticar adversários.

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A ação, que cita servidores da Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom), incluindo o ministro Sidônio Palmeira, pede a suspensão das campanhas e que o governo deixe de usar publicidade oficial para promover suas propostas e "incitar a população contra parlamentares".

"O governo Lula transformou a publicidade oficial em arma política: promove seus projetos como se já estivessem aprovados, ataca quem discorda, convoca militância para pressionar o Congresso e espalha desinformação para moldar a opinião pública. Isso nunca aconteceu nesta escala e viola frontalmente a Constituição", afirmou o deputado, que também vai ingressar com uma ação popular com mesmo teor.

Segundo Zucco, trata-se de um "desvio de finalidade inaceitável". "Enquanto deveria informar a população, o governo usa recursos públicos para constranger parlamentares, distorcer dados e interferir diretamente em votações. Acionamos o TCU e a Justiça porque a democracia não resiste quando o Executivo tenta controlar o debate público com propaganda disfarçada."

Como mostrou o Estadão, especialistas divergem sobre a legalidade da conduta do governo. Parte avalia que as publicações podem configurar propaganda pública irregular, enquanto outros sustentam que não há vedação expressa na Constituição a manifestações políticas em perfis oficiais.

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Um exemplo do tom adotado pelo governo é um vídeo publicado um dia após a megaoperação policial no Rio de Janeiro. A peça critica a ação da gestão de Cláudio Castro (PL), afirma que operações como essa "colocam policiais, crianças e famílias inocentes em risco" e que a morte de mais de uma centena de pessoas "não adianta nada no combate ao crime".

Já no dia da votação da proposta para zerar o Imposto de Renda de quem ganha até R$ 5 mil, o perfil institucional do governo afirmou haver "risco" de os deputados derrubarem a compensação financeira da medida para proteger os super-ricos. Segundo o post, isso prejudicaria "milhões de trabalhadores", porque, sem a compensação, "vai faltar dinheiro para manter e melhorar programas sociais". A publicação convoca os seguidores a fazerem "barulho nas redes" e dizerem "em alto e bom som para os deputados" que apoiam a isenção e a compensação.

Em outros momentos, o governo adotou um tom ainda mais duro contra o Congresso, com quem entrou em rota de colisão recentemente. Na discussão sobre o PL Antifacção, postagens afirmam que o projeto foi criado pelo governo para "sufocar as facções criminosas", enquanto os "relatórios apresentados na Câmara dos Deputados vão na direção contrária". "A quem interessa dificultar o combate às facções?", questiona um dos vídeos.

Quando a publicação da reportagem pelo Estadão, a Secretaria de Comunicação Social (Secom) do governo federal, responsável pelas publicações nas redes, foi procurada e afirmou que elas observam estritamente o que determina a Constituição e negou que faça ataque ou crítica a adversários políticos. "A divergência entre Poderes faz parte da dinâmica democrática. Manifestar a posição institucional do Executivo — inclusive quando distinta da adotada por outros entes federativos ou pelo Legislativo — não constitui propaganda irregular, desde que não haja personalização, promoção política ou pedido de voto, o que não ocorre em nenhuma das peças citadas", disse a Secom em nota.

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