Moraes lembra em julgamento da trama golpista que Bolsonaro tentou enquadrar Fux em ameaça ao STF

Elevando o tom, o ministro criticou as falas do ex-presidente que teriam instigado ameaças até as famílias dos magistrados da Suprema Corte

9 set 2025 - 11h18
(atualizado às 12h32)
Resumo
Em julgamento, Alexandre de Moraes relembra ataques de Jair Bolsonaro ao STF, incluindo ameaças a ministros e suas famílias, e destaca discursos do ex-presidente que instigaram ações contra o estado democrático de direito.

O ministro Alexandre de Moraes subiu o tom ao relembrar discursos feitos pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) durante o feriado de 7 de setembro de 2021, em que ele e seus colegas do Supremo Tribunal Federal (STF) foram abertamente atacados. Ainda na leitura de seu voto no julgamento da trama golpista, nesta terça-feira, 9, Moraes mencionou um ataque de Bolsonaro ao então presidente da Corte, Luiz Fux, e, em seguida, listou frases que tinham ele próprio como alvo. 

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"O réu Jair Bolsonaro, se dirigindo ao ministro presidente, Luiz Fux, disse: 'Ou o chefe desse Poder enquadra o seu ou esse poder pode sofrer aquilo que não queremos, porque nós valorizamos, reconhecemos e sabemos o valor de cada Poder da República'. Uma frase que confessa, novamente de viva voz perante milhares de pessoas, o crime de abolição do estado democrático de direito, que, como todos nós sabemos, diz tentar abolir. É uma clara ameaça de impedir ou restringir o livre exercício do Poder Judiciário", afirmou Moraes.

Parte da apresentação levada por Moraes com falas de Bolsonaro no discurso de 07/09/2021
Parte da apresentação levada por Moraes com falas de Bolsonaro no discurso de 07/09/2021
Foto: Reprodução/STF

O relator do processo continuou afirmando que, por causa das ameaças, Fux precisou reforçar a segurança nos arredores do STF durante o feriado da Independência e nos dias subsequentes. 

Depois, Moraes mencionou as falas de Bolsonaro que eram direcionadas a ele próprio. O magistrado relembrou quando o então presidente disse que havia um "ministro do Supremo que ousa continuar fazendo aqui que nós não admitimos".

"Só nas ditaduras, juízes ou ministros fazem o que o ditador determina. E nem em ditaduras, todos os juízes ou ministros fazem", defendeu Alexandre de Moraes. 

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O ministro Alexandre de Moraes é o primeiro a votar nesta terça-feira, 9
Foto: Reprodução/STF

Em seguida, ele reforçou a importância da posição de quem estava fazendo o discurso. "Isso não é conversa de bar, isso não é alguém no clube conversando com amigo. Isso é o Presidente da República no 7 de setembro, a data da Independência do Brasil, instigando milhares de pessoas contra o STF, contra especificamente um ministro", disse. 

Para Moraes, os discursos de Bolsonaro calibraram ameaças direcionadas não só aos próprios ministros, mas a suas famílias. Em uma das falas recuperadas, o ex-presidente teria afirmado diretamente: "Acabou o tempo dele. Sai Alexandre de Moraes, deixe de ser canalha, deixe de oprimir o povo brasileiro. Dizendo a vocês que qualquer decisão de Alexandre de Moraes, esse presidente não mais cumprirá. A paciência desse presidente acabou. Ele tem tempo ainda para cuidar da tua vida". 

"Me parece que qualquer estudante de primeiro ano do direito vai caracterizar como uma grave ameaça e também a consecução de não entregar o poder, manter o seu grupo no poder, só saindo preso, morto ou com a vitória, como afirmou o réu", finalizou Moraes sobre o episódio.

Além de Jair Bolsonaro, estão sendo julgados neste núcleo:

  • o ex-ministro da Defesa e da Casa Civil, Walter Braga Netto;
  • o ex-ajudante de ordens Mauro Cid;
  • o almirante de esquadra que comandou a Marinha, Almir Garnier;
  • o ex-ministro da Justiça, Anderson Torres;
  • o ex-ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), Augusto Heleno;
  • e o general e ex-ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira.

O julgamento deve ser finalizado até sexta-feira, 12. Após o voto de Moraes, devem dar prosseguimento os seguintes ministros da Primeira Turma, nesta ordem: Flávio Dino, Luiz Fux, Cármen Lúcia e Cristiano Zanin (presidente da Turma).

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Fonte: Redação Terra
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