O governo brasileiro enviou nesta terça-feira, 1º, uma carta rebatendo as críticas feitas a Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pela The Economist, que descreveu o presidente como “incoerente no exterior” e “impopular em casa”. A resposta para a revista britânica foi assinada pelo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira.
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Para a The Economist, o “presidente deveria parar de fingir que o Brasil é importante em questões de guerra na Europa ou no Oriente Médio e se concentrar em questões mais próximas de casa". Além disso, Lula foi tido como “incoerente” por se reunir com líderes de países orientais, enquanto não demonstra esforços para se aproximar de Donald Trump, presidente dos EUA.
"Lula parece não estar disposto ou não ser capaz de reunir as nações latino-americanas para apresentar uma frente unida contra as deportações de imigrantes e a guerra tarifária de Trump", escreveu a The Economist.
Já o Brasil, em resposta assinada pelo embaixador Mauro Vieira, disse que não faz “tratamento à la carte do direito internacional" e que o respeito "à autoridade moral" do chefe do Executivo brasileiro é "indiscutível".
“Como Presidente do G20, Lula construiu um difícil consenso entre os membros, no ano passado, e ao longo do processo logrou criar uma ampla aliança global contra a fome e a pobreza. Também apresentou uma ousada proposta de taxação de bilionários que terá incomodado muitos oligarcas”, pontuou o governo brasileiro.
Sobre a resolução de conflitos, a carta frisa que “como um país que não tem inimigos, o Brasil é também um coerente defensor do direito internacional e da resolução de disputas por meio da diplomacia”.
“Lula não é popular entre os negacionistas climáticos”, acrescentou o governo, explicando que o Brasil está “entre os líderes que denunciam a irracionalidade de investir na destruição, em detrimento da luta contra a fome e do aquecimento global.”
Confira a carta na íntegra:
"Em relação ao recente artigo publicado na sua página na internet em 29 de junho, gostaria de fazer as seguintes considerações.
Poucos líderes mundiais, como o Presidente Lula, podem dizer que sustentam com a mesma coerência os quatro pilares essenciais à humanidade e ao planeta: democracia, sustentabilidade, paz e multilateralismo. Como Presidente do G20, Lula construiu um difícil consenso entre os membros, no ano passado, e ao longo do processo logrou criar uma ampla aliança global contra a fome e a pobreza. Também apresentou uma ousada proposta de taxação de bilionários que terá incomodado muitos oligarcas.
O Brasil vê o BRICS como ator incontornável na luta por um mundo multipolar, menos assimétrico e mais pacífico. Nossa presidência trabalhará para fortalecer o perfil do grupo como espaço de concertação política em favor da reforma da governança global e como esfera de cooperação em prol do desenvolvimento e da sustentabilidade.
Sob a liderança de Lula, o Brasil tornou-se um raro exemplo de solidez institucional e de defesa da democracia. Mostrou-se um parceiro confiável que respeita as regras multilaterais de comércio e oferece segurança a investidores. Como um país que não tem inimigos, o Brasil é também um coerente defensor do direito internacional e da resolução de disputas por meio da diplomacia. Não fazemos tratamento à la carte do direito internacional nem interpretações elásticas do direito de autodefesa. Lula é um eloquente defensor da Carta das Nações Unidas e das Convenções de Genebra.
A posição do Brasil quanto aos ataques ao Irã e, sobretudo, às instalações nucleares é coerente com esses princípios. Nossa condenação responde ao fato elementar de que essas ações constituem uma flagrante transgressão da Carta da ONU. Ferem, em particular, as normas da Agência Internacional de Energia Atômica, organização responsável por prevenir contaminação radioativa e desastres ambientais de larga escala.
Na gestão do Presidente Lula, o Brasil condenou a invasão da Ucrânia pela Rússia, ao mesmo tempo em que apontou a necessidade de abrir caminhos para uma resolução diplomática do conflito, ainda em 2023.
Lula não é popular entre os negacionistas climáticos. Em face de uma nova corrida armamentista, ele está entre os líderes que denunciam a irracionalidade de investir na destruição, em detrimento da luta contra a fome e do aquecimento global.
Para humanistas de todo o mundo, incluindo políticos, líderes empresariais, acadêmicos e defensores dos direitos humanos, o respeito à autoridade moral do presidente Lula é indiscutível."