BRASÍLIA e SÃO PAULO - O senador Flávio Bolsonaro, pré-candidato à Presidência da República, mencionou o presidente de El Salvador, Nayib Bukele, como referência para suas políticas de segurança pública caso venha a se eleger durante um almoço com empresários em São Paulo nesta quarta-feira, 17.
Organizado pelo ex-secretário de Desenvolvimento Social de São Paulo Filipe Sabará, o evento foi feito na casa de Gabriel Rocha Kanner, empresário da terceira geração da família fundadora da Riachuelo, e reuniu nomes de empresários de peso. Sabará realizou trabalho semelhante de aproximação com representantes do mundo dos negócios em campanhas para o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e para o ex-candidato a prefeito Pablo Marçal, no passado. Sabará também foi auxiliar de João Doria em duas gestões.
O encontro de Flávio com empresários trata-se de mais um movimento para aproximar o senador da Faria Lima após a repercussão negativa no mercado a partir do anúncio de sua pré-candidatura. Também visa tirar os empresários da órbita de Tarcísio.
O almoço contou também com a presença de Daniela Marques (Legend), Davide Marcovitch (LVMH), Daniel Mendez (Sapore), Luiz Messici (BMC), Mia Stark (Gazit Brasil), Ricardo Campos (Reach Capital) e Daniel Gonzalez (Fram Capital). Adolfo Sachsida, ex-ministro de Minas e Energia e ex-assessor especial de Assuntos Econômicos na gestão Guedes, também participou.
É a segunda vez que Sabará leva o senador para estreitar laços com nomes do mercado. Os questionamentos que predominaram no almoço da semana passada, se a empreitada de Flávio era realmente definitiva ou apenas um balão de ensaio, estavam menos presentes, segundo relato de Sabará.
Em contrapartida, os empresários perguntaram a Flávio sobre questões econômicas e de segurança pública. Aí o senador citou o salvadorenho conhecido por sua política de encarceramento em massa — que fez despencar os índices criminais enquanto dispararam as denúncias de violação de direitos humanos.
Flávio afirmou aos participantes que teria uma política de "tolerância zero" com a violência urbana e se comparou com a postura do governo Lula — que, segundo ele, é complacente com criminosos.
Após o almoço, ao qual chegou por volta das 15h, Flávio foi até Alphaville, em Barueri, na Região Metropolitana de São Paulo, para se encontrar com o coach Pablo Marçal, candidato derrotado à Prefeitura de São Paulo em 2024. Marçal deve ajudar na campanha do senador à Presidência da República, segundo Sabará.
Cerca de 20 presentes e reforço de que candidatura é para valer
A lista de convidados tinha 40 investidores, empresários e executivos, com 20 deles comparecendo, e era o ponto alto da agenda marcada para aproximar o senador candidato à presidência do empresariado e dos representantes da Faria Lima. O encontro ocorreu a portas fechadas, sem a presença da imprensa. Segundo um participante do almoço, o senador abriu a conversa afirmando que sua candidatura é definitiva e que não há chance de recuo. Flávio reconheceu que enfrenta rejeição, mesmo ainda sendo desconhecido de boa parte da população, e atribuiu a resistência à sua candidatura ao sobrenome Bolsonaro. Disse, no entanto, que a rejeição deve cair à medida que o eleitorado perceber que ele é mais moderado que o pai.
Aos presentes, Flávio também afirmou que já trabalha na formulação de um plano de governo e que pretende anunciar com antecedência alguns nomes de um eventual ministério. Segundo ele, serão quadros técnicos. O ex-ministro da Economia Paulo Guedes foi avisado do almoço, mas estaria em viagem. Dois dos nomes próximos de sua gestão, no entanto, participam como mentores da campanha para a área econômica: o atual sócio de Guedes em investimentos Gustavo Montezano, ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), e Adolfo Sachsida, ex-ministro de Minas e Energia e ex-assessor especial de Assuntos Econômicos para a pasta que era comandada pelo ex-ministro.
O próprio senador levou o nome do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) à mesa. Disse que os dois caminharão juntos e negou que haja divisão no grupo.
Depois do evento, o pré-candidato disse à imprensa que o almoço com empresários em São Paulo teve como objetivo "acalmar a torcida" e reduzir a animosidade em torno da eventual candidatura do governador paulista, Tarcísio de Freitas (Republicanos), como nome da direita ao Palácio do Planalto.
"Foi mais uma conversa para mostrar que, a cada dia que passa, a candidatura é mais forte, mais viável e que será vitoriosa", disse Flávio. "Para acalmar todos aqui com relação a essa torcida, por parte de alguns, de querer causar animosidade entre (Jair) Bolsonaro, Tarcísio e outros partidos, como União Brasil, Progressistas, PSD, Republicanos."
Flávio chegou por volta das 15h10, direto de Brasília, onde acompanhava a Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) do Senado que votava o projeto de lei (PL) da Dosimetria. O almoço estava marcado para às 14 horas.
Na semana passada, Flávio Bolsonaro participou de um outro eventom na quinta-feira, 11, com empresários no escritório do banco UBS, que foi seguido de encontros privados com investidores e empresários no mesmo dia, além de outro almoço para 40 convidados, do qual participaram Flávio Rocha (Riachuelo), Richard Gerdau (Gerdau), Alexandre Ostrowiecki (Multilaser), Helio Seibel (Duratex) e Mario Araripe (Casa dos Ventos). Foram mais de dez encontros privados desde a semana passada.
A expectativa para esta semana era fazer visitas do senador a dois bancos, na terça-feira e quarta-feira, no Itaú e no BTG. Com a proximidade do Natal e a agenda mais apertada, a estratégia mudou para a realização do almoço na casa de Kanner, segundo os organizadores.
Percepções do empresariado
Um dos empresários presentes ao evento afirmou não ter visto nos pares qualquer empolgação com a candidatura de Flávio Bolsonaro após o encontro. Segundo ele, embora não tenha havido rejeição ao senador e, principalmente, à agenda econômica que ele propõe, a interpretação geral é de que o filho de Jair Bolsonaro "não seria competitivo" contra Lula, sobretudo em razão de o senador herdar a rejeição ao bolsonarismo.
Outro empresário afirmou que Flávio tentou apontar aos empresários que parte de um patamar em torno de 20% e que tem espaço para crescer com um discurso mais moderado e com diálogo com os setores que hoje rejeitam a direita. Segundo o empresário, Flávio afirmou ter aprendido com erros do governo passado, prometendo uma postura "mais institucional" em uma futura gestão.
Um outro participante do encontro apontou que o grupo queria mais clareza do rumo político e liderança de Flávio. Eles também teriam, segundo ele, compartilhado a percepção de que a presença de Tarcísio no governo estadual é importante. Houve, nesse sentido, relatos sobre a preocupação de que o governo federal possa aproveitar uma eventual saída de Tarcísio para crescer em São Paulo.