Ao decretar prisão, Moraes diz que Bolsonaro agiu "ilicitamente" e vê tentativa de coação ao STF

Ex-presidente violou medidas cautelares ao veicular conteúdo nas redes sociais dos filhos

4 ago 2025 - 18h43
(atualizado às 21h06)
O ex-presidente Jair Bolsonaro esteve em evento de motociclistas em Brasília na semana passada
O ex-presidente Jair Bolsonaro esteve em evento de motociclistas em Brasília na semana passada
Foto: Wilton Junior/Estadão / Estadão

Ao decretar a prisão domiciliar de Jair Bolsonaro (PL) nesta segunda-feira, 4, o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes destacou o descumprimento do ex-presidente às medidas cautelares impostas a ele na reta final do julgamento da tentativa de golpe de estado, em que é réu ao lado de aliados. 

Segundo o documento com 25 páginas, Bolsonaro utilizou redes sociais de seus três filhos parlamentares (Carlos, Eduardo e Flávio Bolsonaro) para divulgar mensagens com “claro conteúdo de incentivo e instigação a ataques ao Supremo Tribunal Federal e apoio ostensivo à intervenção estrangeira no Poder Judiciário brasileiro”.

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Moraes afirma, na decisão, que Bolsonaro infringiu as restrições impostas pela Justiça deliberadamente, mesmo sem usar suas redes sociais diretamente. “Não há dúvidas de que houve o descumprimento da medida cautelar imposta a Jair Messias Bolsonaro”, diz a decisão.

Segundo o ministro, Bolsonaro agiu "ilicitamente" ao se dirigir aos manifestantes reunidos em Copacabana, no Rio de Janeiro, no último domingo, 3. "Produzindo dolosa e conscientemente material pré-fabricado para seus partidários continuarem a tentar coagir o Supremo Tribunal Federal e obstruir a Justiça, tanto que o telefonema com seu filho, Flávio Nantes Bolsonaro, foi publicado na plataforma Instagram.”

Com letras maiúsculas, Moraes repetiu o bordão adotado em decisões relativas ao ex-presidente: "Como diversas vezes salientei na presidência do TSE, a JUSTIÇA É CEGA MAS NÃO É TOLA". Segundo o ministro, a "Justiça não permitirá que um réu a faça de tola, achando que ficará impune por ter poder político e econômico."

Moraes também destacou a igualdade da Justiça: "A Justiça é igual para todos. O réu que descumpre deliberadamente as medidas cautelares pela segunda vez - deve sofrer as consequências legais."

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O Terra procurou a defesa de Bolsonaro, mas até, o momento, não se manifestou. 

Novas penalidades

Nesta nova decisão, Moraes determinou que Bolsonaro cumpra prisão domiciliar em seu endereço residencial. Mas também impôs as restrições abaixo

  • Continuidade do uso de tornozeleira eletrônica;
  • Proibição de visitas, exceto de familiares próximos e advogados;
  • Recolhimento de todos os celulares disponíveis no local; 
  • Proibição de manter contatos com Embaixadores ou quaisquer autoridades estrangeiras, bem como com os demais réus e investigados por tentativa de Golpe de Estado. 

Relembre o caso

No último domingo, 3, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do ex-presidente, publicou um discurso de seu pai feito para as manifestações em apoio a ele no Rio de Janeiro. O post ficou no ar durante algumas horas e, em seguida, foi apagado. “Obrigado a todos. É pela nossa liberdade. Pelo nosso Brasil. Sempre estaremos juntos”, dizia Bolsonaro, no vídeo.

As manifestações aconteceram em várias capitais do país, como Brasília e São Paulo. Bolsonaro não pôde comparecer em razão das medidas cautelares impostas por Moraes. Durante o ato em Copacabana, na Zona Sul do Rio de Janeiro, o senador ligou para o pai e pediu que enviasse uma mensagem aos manifestantes. O mesmo vídeo foi exibido ao público e depois veiculado nas redes sociais antes de ser deletado.

Desde 18 de julho, quando a Polícia Federal (PF) realizou uma busca e apreensão na casa de Bolsonaro e na sede do Partido Liberal (PL), o político era obrigado a cumprir as medidas cautelares determinadas pelo Supremo. Elas são:

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  • Uso da tornozeleira eletrônica;
  • Proibição de acessar redes sociais;
  • Recolhimento domiciliar de 19 horas às 6 horas de segunda a sexta-feira e em tempo integral nos fins de semana e feriado;
  • Proibição de contato com embaixadores e autoridades estrangeiras e de aproximar de sedes de embaixadas e consulados

Moraes afirmou, na decisão, que as condutas de Bolsonaro demonstram “a necessidade e adequação de medidas mais gravosas de modo a evitar a contínua reiteração delitiva do réu”.

Em nota, a defesa de Bolsonaro alegou surpresa e negou que o ex-presidente "não descumpriu qualquer medida". "A frase “Boa tarde, Copacabana. Boa tarde meu Brasil. Um abraço a todos. É pela nossa liberdade. Estamos juntos” não pode ser compreendida como descumprimento de medida cautelar, nem como ato criminoso", destacaram os advogados, que acrescentaram que irão apresentar os recursos cabíveis.

Fonte: Redação Terra
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