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Se não fosse o Muro, a tragédia em Porto Alegre seria pior

Mesmo em meio às demandas geradas pela cheia, a enchente poderia ser muito pior não fosse a grande barreira

9 mai 2024 - 06h15
Resumo
Uma estrutura complexa e única no país, com 68 km de diques, 14 comportas e 23 casas com grandes bombas capazes de movimentar 170 mil litros de água por segundo.
Foto: Reprodução

Porto Alegre tem uma relação complexa com o Guaíba. Assim mesmo, descrito como gente, como um corpo vivo, parte de uma relação umbilical e impossível de separar, de dissolver. Tem muitas coisas que as pessoas não se dão conta sobre Porto Alegre, e que eu mesmo só entendi quando comecei a vir e eventualmente me mudei pra cidade.

Em primeiro lugar, que Porto Alegre não é alta, não está na Serra Gaúcha. A cidade fica ao nível do mar. Na beira de um lago/estuário gigantesco, de 500km² que recebe a água de vários grandes rios, e serve de ponto de passagem até esse volume alcançar a Lagoa dos Patos e desembocar no mar em Rio Grande, 300 km ao sul do estado.

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Esse conjunto de características, estar na beira de uma grande massa de água protegida do oceano e com acesso seguro por terra ao interior, é o que dá nome a cidade, até porque o litoral do Rio Grande do Sul, selvagem e sem proteção, não tem muitos lugares adequados para um grande porto marítimo.

Porto Alegre sempre foi, então, relativamente segura e protegida. Relativamente porque tem o Guaíba, ali na frente. Que apesar de plácido por padrão, sem ondas nem grandes ventos, é um reflexo do comportamento dos rios que o alimentam.

E até é capaz de equilibrar e compensar o mal comportamento de um deles. Mas às vezes, em períodos que ficaram muito mais próximos recentemente, vários desses rios enchem ao mesmo tempo, e aí o Guaíba sobe, devagar, mas inexoravelmente, em direção a cidade de Porto Alegre e suas vizinhas Guaíba e Eldorado.

Foto: Reprodução

Para isso existe o que chamamos simplesmente de Muro. Uma estrutura complexa e única no país, com 68 km de diques, 14 comportas e 23 casas com grandes bombas capazes de movimentar 170 mil litros de água por segundo. Uma estrutura hercúlea feita para conter e expulsar de volta a água que eventualmente ameace a cidade, que foi construída a partir da última cheia, em 1941, ao longo de décadas, e sempre resistiu, com exceção desta semana, em que o Guaíba alcançou níveis históricos, que muitos especialistas consideravam impossível, até que aconteceu.

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Por incrível que pareça, e mesmo em meio às demandas críticas geradas pela cheia, esta enchente poderia ser muito pior não fosse a grande barreira, que fez seu papel pelas últimas muitas décadas, e está fazendo hoje, resistindo em sua maior parte, ainda que sob pressão extrema.

Uma obra essencial, que terá que ser revista, repensada e certamente ampliada para alcançar as cidades ao redor, para atender as necessidades de uma natureza ainda mais furiosa com o aquecimento global, se pretendemos continuar habitando esta região, que em breve precisará ser reconstruída.

(*) Alex Winetzki é CEO da Woopi e diretor de P&D do Grupo Stefanini, de soluções digitais. 

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