RJ: moradores da Rocinha recebem títulos de propriedade

Prefeitura do Rio de Janeiro começou a entregar nesta terça-feira mais de 1.000 títulos de legitimação de posse de imóveis no bairro mais populoso do cidade

9 dez 2014 - 09h51
Prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, na quadra da escola de samba Acadêmicos da Rocinha, em evento de entrega de títulos de legitimação de posse de imóveis no bairro
Prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, na quadra da escola de samba Acadêmicos da Rocinha, em evento de entrega de títulos de legitimação de posse de imóveis no bairro
Foto: Marcus Vinícius Pinto / Terra

Ainda nem é carnaval mas a quadra da Acadêmicos da Rocinha amanheceu lotada nesta terça-feira. Isso porque a prefeitura começou a entrega de mais de 1.000 títulos de legitimação de posse de imóveis na Rocinha, bairro mais populoso da cidade. “É a certidão de nascimento dos seus imóveis”, disse o prefeito Eduardo Paes, que fez a entrega de títulos a alguns dos moradores mais antigos da comunidade, como Teresinha Nascimento, que desde 1976 mora no local.

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O prefeito prometeu que as coisas vão melhorar ainda muito mais com a chegada do metrô e de mais serviços da prefeitura e do governo do Estado. Porque, apesar da chamada pacificação com a chegada da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), pouca coisa mudou na comunidade. “A Rocinha precisa melhorar em tudo. As pessoas moram em casas sem ventilação. É tudo muito abafado”, conta Raimunda de Souza, 75 anos, desde 1960 no local.

Títulos de legitimação de posse entregues a moradores da Rocinha, no Rio de Janeiro
Foto: Marcus Vinícius Pinto / Terra

Para Waldemar Souza, o título de posse vai apressar a chegada do serviços. “É só a gente ter paciência que as coisas chegam”, afirmou o morador com a pasta que lhe dá direito, dentro de cinco anos a ter a propriedade definitiva do imóvel. Laura Marcelino afirma que o título é algo com que sonhava, já que paga seus impostos. “E não são poucos. Taxa de incêndio, de lixo, de água de IPTU”, conta.

Apesar disso é possível ver que muita coisa ainda precisa ser feita. Uma volta rápida pela comunidade passando pela Via Ápia, Largo do Boiadeiro, é possível ver que a coleta de lixo ainda é deficiente, o emaranhado de fios elétricos ainda não se organizou e há cheiro de esgoto no ar. “Quando cheguei aqui era possível ver peixes nos córregos e podíamos deidxar tudo à vontade que ninguém pegava”, conta Raimunda.

Moradores da Rocinha, no Rio de Janeiro, lotaram a quadra da escola de samba local durante evento em que a prefeitura entregou títulos de legitimação de posse de imóveis
Foto: Marcus Vinícius Pinto / Terra

Para o prefeito Eduardo Paes, a gentrificação, ou seja, a valorização de local com as melhorias e a saída quase que forçada das pessoas dos seus locais de origem por conta dos altos preços é algo inevitável. “Se as pessoas quiserem vender seus imóveis amanhã não podemos fazer nada. As cidades estão melhorando e não podemos deixar de fazer isso. Isso não acontece só no Rio. Acontece em Paris, Nova York”, disse, afirmando que o que a prefeitura pode fazer é criar áreas sociais onde se a moradia continue sendo subsidiada.

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Clima estranho

Mas nem tudo é festa na Rocinha. Laura Marcelino está na comunidade desde 1959 e disse que o clima anda esquisito na comunidade. "Falo com minhas amigas que tudo anda muito esquisito nos últimos tempos. Nunca mexeram comigo, mas a gente sente”, diz, sobre o clima de guerra que voltou ao local mesmo com a UPP. “Eu moro no paraíso, mas quem mora mais para dentro anda sofrendo”, conta. “Em 1964 quando fomos invadidos pelo tráfico, muita gente passou fome porque não podia nem sair de casa, é que era pior do que está hoje”, conta.

Alguns moradores que preferem não se identificar contaram ao Terra que os tiroteios na comunidade voltaram a ser constantes.As mulheres aceitam falar mais abertamente, mas os homens têm mais medo de dar qualquer tipo de declaração. O imóvel eles já tem, a liberdade total é que ainda não chegou.

Fonte: Terra
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