Intoxicação por metanol em São Paulo: o que se sabe e quais são os riscos

Casos ligados a bebidas adulteradas já resultaram em mortes na Grande São Paulo; especialista explica como o metanol age no organismo

30 set 2025 - 19h22
(atualizado às 19h23)
Resumo
Autoridades em São Paulo investigam casos de intoxicação por metanol em bebidas adulteradas, com cinco mortes confirmadas, adotando ações como interdições, apreensões e campanhas para conter riscos graves à saúde.
Mojito é uma bebida que é preparada com rum branco, açúcar, suco de limão, água com gás, um ramo de hortelã e gelo picado.
Mojito é uma bebida que é preparada com rum branco, açúcar, suco de limão, água com gás, um ramo de hortelã e gelo picado.
Foto: Youtube/Tô Bem na Cozinha / Flipar

As autoridades de São Paulo intensificaram as ações de fiscalização e investigação após o registro de casos de intoxicação por metanol, supostamente ligados ao consumo de bebidas alcoólicas adulteradas.

De acordo com a prefeitura, já são 22 casos notificados, sendo 17 suspeitos e 5 confirmados. Até o momento, houve cinco mortes -- uma delas confirmada como decorrente de metanol e quatro ainda sob análise. A principal hipótese é de que a contaminação esteja associada a destilados como gin, whisky e vodka vendidos em bares e adegas.

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Gabinete de crise

Na tarde desta terça-feira, 30, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) anunciou a criação de um gabinete de crise.

"No estado de São Paulo, no mês de setembro, tivemos 43 mil fiscalizações realizadas em todo o estado. Então, é um objeto constante de preocupação", disse Tarcísio.

O governo determinou a interdição cautelar de todos os estabelecimentos onde houve consumo de bebidas adulteradas e orientou a Secretaria de Saúde a reforçar protocolos de atendimento, além de exigir notificação ágil de novos casos. O Ministério da Saúde também determinou a notificação imediata de qualquer suspeita. O Procon-SP abriu um canal específico para denúncias relacionadas a bebidas suspeitas.

Segundo o secretário estadual da Saúde, Eleuses Paiva, a primeira notificação foi registrada em 1º de setembro. Desde então, mais de 50 mil garrafas foram apreendidas, principalmente na Grande São Paulo, onde estão concentrados os cinco casos confirmados.

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Na segunda-feira, 29, novas operações resultaram na apreensão de mais de 100 garrafas nos bairros da Mooca e dos Jardins. Conforme o Estadão, um dos locais vistoriados foi o bar Ministro, na Alameda Lorena, onde uma das vítimas relatou ter consumido bebida alcoólica antes de apresentar sintomas de intoxicação. A pessoa segue internada, após ter perdido a visão.

Crime organizado

O governador negou envolvimento de facções nas ocorrências: "Muito tem se especulado sobre a participação do crime organizado nessa adulteração de bebida. Só para deixar claro, não há evidência nenhuma de que haja crime organizado nisso".

As investigações agora buscam identificar em que etapa da cadeia de comercialização ocorre a adulteração e conter a circulação das bebidas contaminadas.

Entenda os riscos de intoxicação

Ao Terra, a neurologista pela Universidade Católica de Brasília, Carolina Colaço explicou que o metanol é um álcool industrial usado como solvente e combustível e possui uma aparência líquida e transparente. Já o álcool que se consome em bebidas é o etanol. 

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"A diferença clínica central é o metabolismo: o etanol vira acetato (relativamente seguro), enquanto o metanol é convertido em formaldeído e ácido fórmico, que são tóxicos, sobretudo para o nervo óptico, e causam acidose metabólica". A especialista alerta: pequenas quantidade já oferecem risco sério para a saúde".

Os primeiros sintomas podem ser enganosos, já que nas primeiras horas se assemelham ao efeito do álcool comum, com tontura, náusea e sonolência. O quadro se agrava entre 8 e 36 horas após a ingestão, quando surgem alterações visuais, dor de cabeça intensa, respiração acelerada e acidose. Em casos graves, a intoxicação evolui para confusão mental, coma e até parada cardiorrespiratória.

"Esse atraso é típico e explica por que algumas pessoas parecem bem inicialmente e pioram no dia seguinte", disse a médica.

De acordo com Colaço, a literatura médica descreve episódios de cegueira com cerca de 10 mL de metanol puro e risco de morte a partir de 30 mL. Ela reforça que qualquer suspeita de ingestão deve ser tratada como emergência médica.

A especialista detalhou que os danos ao organismo ocorrem porque o fígado transforma o metanol em ácido fórmico, substância que intoxica o nervo óptico e a retina, além de causar acidose metabólica no sangue e no cérebro. Essa combinação explica a perda de visão e o rebaixamento do nível de consciência em muitos pacientes.

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O tratamento, segundo Colaço, é tempo-dependente e inclui o uso de antídotos como fomepizol ou etanol (quando o primeiro não está disponível), além de hemodiálise nos casos mais graves, correção da acidose e administração de ácido fólico para acelerar a eliminação das toxinas.

Ela ressaltou que os danos podem ser parcialmente reversíveis se o atendimento for rápido, mas há risco de sequelas permanentes, como a perda visual por neuropatia óptica.

"O prognóstico depende da dose ingerida, do tempo para início do tratamento e da gravidade da acidose", concluiu.

Fonte: Portal Terra
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