Aracruz: ‘Ainda não consegui tirar nada dela do lugar’, diz mãe de menina de 12 anos morta em ataque

Bióloga de 31 anos espera que tragédia sirva de alerta sobre a necessidade de medidas preventivas para evitar novos massacres em colégios

28 nov 2022 - 20h57
(atualizado às 21h05)
Selena tinha 12 anos
Selena tinha 12 anos
Foto: Arquivo pessoal

A bióloga Thais Fantini Sagrillo Zucolotto é mãe de Selena, de 12 anos, uma das quatro vítimas dos ataques em colégios em Aracruz, no interior capixaba. Ela e a família ainda tentam se recuperar do choque da perda da filha única, mas querem que a tragédia sirva de alerta para que a sociedade seja mais vigilante sobre o problema dos massacres em escolas. “Ainda não consegui tirar nada dela do lugar”, conta a mulher de 31 anos.

“Minha família precisou me ajudar a tirar os uniformes dela que estavam secando no varal. Tem uma cestinha com as roupas dela para lavar e não sei quando vou conseguir forças para fazer isso”, desabafa a mãe da vítima, que era aluna do 6.º ano do ensino fundamental em uma das escolas onde houve o tiroteio.

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Ela também cobra uma investigação rigorosa por parte das autoridades e responsabilização dos pais do assassino, que tinha 16 anos e era ex-aluno de um dos colégios. Nas redes sociais, o pai do jovem, que é policial militar, foi acusado de preparar o filho para o uso de armas e o atentado, o que ele nega. “Quero ver polícia investigando polícia, de forma justa”, afirma Thais.

Thais critica ainda a alegação do PM de que o autor dos ataques era alvo de bullying e diz acreditar em influência negativa do pai sobre o rapaz. “Dor estou sentindo eu, que enterrei minha filha”, afirma. A bióloga conta morar “impressionantemente perto” da família do atirador, mas afirma nunca ter tido contato com ele nem seus pais, que agora se mudaram da cidade capixaba. O atirador foi apreendido na sexta-feira.

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Apesar da revolta, Thais disse priorizar o luto por sua filha juntamente com seu marido e o restante da família. “Estamos vivenciando nossa dor e nossa revolta. Guardando mensagens boas que recebemos sobre nossa pequena”, relata.

Perguntada sobre que mensagem retirar disso tudo, Thais responde rapidamente que a carta escrita por ela à filha, após o massacre da última sexta-feira, define bem o sentimento de amor e proteção às crianças que ela espera ser passado às pessoas.

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“É preciso ter leis específicas para massacres em escolas. Tipificação criminal. Abertura de canais para denunciar comportamentos. Inteligência em análise de dados da internet para mapear preventivamente perfis perigosos para a sociedade. Tem tantas coisas que podemos fazer enquanto sociedade”, alerta. “Em 2022, não deveria ser mais possível fazer exaltação ao nazismo. Já vimos o que esse caminho faz”, acrescenta.

Segundo a apuração policial, o adolescente usou uma suástica nazista na roupa durante o atentado. O pai já havia publicado nas redes sociais uma foto da capa do livro Minha Luta, em que o ex-ditador da Alemanha Adolf Hitler expôs suas ideias antissemitas. A publicação motivou debates nas redes sociais, com pessoas associando o pai à ação do filho. “Livro péssimo. Li e odiei”, afirmou o PM ao Estadão, sobre a obra que é considerada referência ideológica para neonazistas.

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Foto: Reprodução/Twitter

Saiba quem são as outras vítimas

Maria da Penha Pereira de Melo Banhos, de 48 anos: Maria, mais conhecida pelo seu sobrenome, Penha, lecionava artes na Escola Estadual Primo Bitti sob contrato de designação temporária desde março deste ano. A professora morreu no local logo após o disparo dos tiros.

Ela deixou o marido, o eletricista Wellington Banhos, e três filhos: um menino de 11 anos e duas meninas, de 7 e 17 anos. À imprensa, Wellington contou que soube do ataque por meio da filha mais nova. “Minha filha mandou mensagem para mim, fui ao hospital para verificar e fui para a escola. Eu queria ver ela, abraçar ela. Mas não consegui”, disse.

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Cybelle Passos Bezerra Lara, de 45 anos: Assim como Maria da Penha, Cybelle também morreu na escola em que trabalhava, a Primo Betti, após os tiros. Ela era mestre em Matemática pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e lecionava a disciplina na escola desde 2018.

Na mesma semana em que foi morta, Cybelle havia recebido a premiação de Boas Práticas da Educação em um evento que aconteceu na própria escola e contou com a presença do governador reeleito Renato Casagrande (PSB).

Fonte: Redação Terra
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