O Ministério Público de São Paulo denunciou o deputado Lucas Bove por histórico de violência física e psicológica contra a ex-esposa, Cíntia Chagas, incluindo episódios de ameaças e agressões graves, pedindo sua prisão preventiva por descumprimento de medidas protetivas.
A denúncia oferecida pelo Ministério Público de São Paulo (MP-SP) contra o deputado estadual Lucas Bove (PL-SP) detalhou o histórico de agressões do parlamentar contra a ex-esposa, a influenciadora Cíntia Chagas. O órgão também pediu à Justiça a prisão preventiva por descumprimento de medidas protetivas concedidas à sua ex-companheira.
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De acordo com o documento ao qual o Terra teve acesso, Bove utilizava de agressão física para constranger a mulher, com quem foi casado por sete meses. Segundo relato citado pela Promotoria, o denunciado tinha o hábito de apontar sua arma de fogo para a influenciadora enquanto fumava maconha, como se fosse uma ‘brincadeira’.
Ainda segundo a denúncia, ele chegou a arremessar uma faca contra a perna da vítima, em uma forma de intimidá-la. O deputado também a ameaçava dizendo que se descobrisse alguma traição “ele a mataria com a arma dele e pediria para o segurança esconder o corpo da vítima”.
Diante de uma amiga de infância de Cíntia Chagas, o parlamentar, novamente fumando maconha, constrangeu a companheira apertando o “bico do peito” dela por cima da roupa e, algumas vezes, colocando a mão por baixo da roupa, enquanto debochava da situação: “Olha Clarissa, o que eu faço com sua amiga”, teria dito.
Outro episódio de agressão psicológica cita uma ida do casal a um casamento na cidade de Ribeirão Preto, no dia 2 de agosto de 2024. No evento, após uma discussão entre eles, Bove obrigou a influenciadora a deixar a festa sozinha.
Sem ter como voltar para São Paulo, ela contou com a ajuda da assessora para conseguir um carro de aplicativo. Durante a viagem, o deputado descobriu a placa do carro e passou a intimidá-la, inclusive com ameaças de morte.
Já com os dois no apartamento em que moravam na capital, as ameaças continuaram: “você só não vai apanhar agora porque tem 6 milhões de seguidores”, teria dito. Ele também teria se aproximado do rosto da vítima com o punho fechado e ameaçado queimar as coisas dela.
As agressões também incluíam puxões e apertões em Cintia Chagas. Uma dessas ações teria causado “tendinite calcificante do ombro”, com a influenciadora tendo que fazer uso de tipoia. Quanto à lesão, o MP destacou que a natureza ainda será apurada, conforme prontuário médico e imagens de radiografia.
Além do laudo físico, a violência psicológica fez com que a vítima passasse a fazer uso de antidepressivo e desenvolvesse Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT). Ela também relatou queda significativa de cabelo e disse que, por medo, precisou começar a usar veículos blindados, o que restringiu seu direito de ir e vir, já que antes usava veículos de aplicativo.
Bove ainda monitorava a movimentação de Cíntia e questionava roupas que ela usava. Durante uma viagem dela a trabalho, ele fez com que a influenciadora enviasse foto de sua comanda de alimentação para provar que estava sozinha no hotel.
Em outra ocasião, ela teve de dispensar os serviços de seu cabeleireiro e se afastar da empresária com quem realizava campanhas publicitárias, pois o deputado dizia que elas tinham um “caso".
Ainda segundo relatos contidos na denúncia oferecida pelo MP, Bove constrangeu Cíntia a apagar uma postagem de campanha publicitária em que utilizava roupas esportivas. Ele escreveu seguidos comentários depreciativos e disse à esposa que ela ganhava dinheiro “com a bunda”: “Eu conheci uma professora de direita, não uma blogueira vendida”.
Ele seguia a chantageando afirmando que iria “acabar com a sua carreira e retirar o sustento dela”. Com o uso de nomes de pessoas influentes na área política - as quais não são citadas na denúncia -, o deputado também dizia que iria se valer do “gabinete do ódio” para difamá-la na internet, prejudicando-a profissionalmente.
O que dizem os envolvidos
Em nota assinada pela advogada Gabriela Manssur, a defesa de Cíntia coloca a denúncia do MP como “um marco importante para as mulheres na busca pela verdade, pela responsabilização e pela dignidade da vítima. A mensagem que fica é clara: ninguém está acima da lei e da justiça”.
Em seu perfil no Instagram, com mais de 7,6 milhões de seguidores, Cíntia se manifestou após saber do pedido de prisão contra o ex-marido. "Recebo a decisão com serenidade e inabalável confiança na Justiça. Trata-se de um homem público, e é moralmente inaceitável que agressores de mulheres permaneçam investidos em funções de poder. A violência contra a mulher não se circunscreve à esfera privada: constitui crime e afronta à dignidade humana. Que a lei siga o seu curso e que, como sempre, a verdade prevaleça", disse.
Bove, por sua vez, criticou o fato de a imprensa ter tido acesso à decisão judicial antes dele próprio e diz que a delegada responsável pela investigação afastou acusações de violência física.
"Estou em paz, pois além de ter consciência limpa, confio na justiça e tenho fé de que a juíza será justa ao analisar tanto o pedido de prisão quanto a única narrativa que permaneceu de pé, violência psicológica", disse.
A defesa do deputado enviou uma nota à reportagem, em que afirma ter recebido com surpresa o oferecimento de denúncia pelo MP e o "descabido pedido de prisão formulado". "Inexistem razões, pressupostos e ou requisitos para a cogitação ou adoção dessa medida", diz.
A nota fala que a defesa do parlamentar não se conforma "com o vazamento contínuo de informações a respeito do processo, que possui segrego e sigilo judicial". O texto acusa Cintia Chagas de desrespeitar "a ordem judicial que existe contra si e que reiteradamente é descumprida".
"A defesa já se manifestou nos autos, formalmente, contra o pedido formulado pelo Ministério Público, e, agora reafirma que nosso cliente confia na Justiça e continuará empenhado a comprovar que não praticou crime algum, respeitando, como sempre fez, o que e o quanto determinado", finaliza o texto.
Em caso de violência contra a mulher, denuncie
Violência contra a mulher é crime, com pena de prisão prevista em lei. Ao presenciar qualquer episódio de agressão contra mulheres, denuncie. Você pode fazer isso por telefone (ligando 190 ou 180). Também pode procurar uma delegacia, normal ou especializada. Saiba mais sobre como denunciar aqui.