A bandeira arco-íris e seus símbolos representam resistência, orgulho e segurança para a comunidade LGBT+, conectando pessoas e lembrando a luta por direitos e respeito em uma sociedade ainda marcada pelo preconceito.
"Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é." A frase, repetida por Adriana Arco-íris em meio às suas bandeiras, camisetas e brincos coloridos, resume bem o que significa, para muitas pessoas LGBTQIA+, usar as cores do arco-íris no peito. Mais do que adorno, a bandeira é identidade, é proteção e é aviso: aqui tem alguém que resiste.
Vendedora de acessórios LGBT desde 1995, antes mesmo de São Paulo ter sua hoje mundialmente famosa Parada do Orgulho, Adriana construiu uma vida entre tecidos coloridos e histórias de luta. "Minha trajetória começou com uma bandeira, que era chamada bandeira gay. Não era nem LGBT, nem GLS. Eu conheci através de uma boate, a Joy, e pedi pra minha mãe fazer uma camiseta pra mim", relembra em entrevista ao Terra.
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Foi na costura caseira que surgiram suas primeiras peças. Depois vieram os broches, as bandeirinhas, e a coragem para se lançar em encontros e feiras. Em 1997, Adriana, uma mulher lésbica, esteve no nono encontro de gays, lésbicas, bissexuais e travestis no Hotel São Rafael, onde conheceu de perto o movimento organizado. No ano seguinte, sua mãe costurou, de forma voluntária, os 300 metros de tecido que se tornaram a primeira grande bandeira a desfilar na Parada.
Para quem vê de fora, uma bandeira pode parecer só uma estampa. Mas, para quem veste, ela é sinal de segurança -- um código silencioso que cria um território mais confortável para existir. "Onde tiver alguém com uma pulseirinha do arco-íris, o outro vai ficar mais confortável. Está surgindo agora uma campanha linda da pessoa usar algum acessório para se identificar, para aceitação. É orgulho mesmo. Hoje a gente tem orgulho", diz Adriana, que hoje expõe seus produtos na Feira da Diversidade, no Memorial da América Latina, e em paradas pelo Brasil.
A comerciante lembra que o cenário mudou muito em quase três décadas de trabalho. Se antes vendia principalmente para militantes ou quem trazia novidades de fora do país, hoje atende famílias inteiras, crianças e adolescentes que crescem em lares mais abertos. "Se uma criança nasce hétero, vai continuar sendo hétero. Não é uma fórmula pra se tornar LGBT. A gente já nasce."
A experiência de ver pais, mães e filhos usando juntos camisetas coloridas é, para ela, uma confirmação de que valeu a pena resistir.
Sinal silencioso de apoio
Quem veste sabe bem do poder desse símbolo. Wellington Santos Corrêa, de 44 anos, metroviário de Belo Horizonte, também veio a São Paulo para a Parada, usando boné e camiseta com as cores LGBT. Para ele, vestir esses sinais é uma forma de resistência silenciosa, mas poderosa. "Eu vim para parada com os amigos, por ser LGBT e por achar que é um movimento que é realmente necessário no momento em que vários dos nossos direitos estão sendo ameaçados. A gente precisa unir forças e apresentar para o mundo a nossa condição de pessoa", disse à reportagem.
Usando a frase "Não tolerarei" estampada no peito, ele explica que escolheu a camiseta como homenagem a Erika Hilton, ativista e deputada federal, e como resposta a uma realidade ainda hostil: "A gente está sendo tão ameaçado, tão pressionado para ficar no canto, que a gente não pode tolerar esse tipo de comportamento com a gente. A gente tem que se mostrar combativo quando é preciso e mostrar que nós somos seres humanos, sujeitos de direito, como todos os outros, e que merecemos respeito."
Para Wellington, cada detalhe de bandeira visto na rua é como um farol que conecta quem ainda caminha com medo. "Eu me sinto representado. A insegurança parte do pressuposto de que, num ambiente mais plural, mais aberto, a violência está mais perto. Mas eu acho que quanto mais a gente estiver próximos uns dos outros, a gente se fortalece e mostra que a gente vai combater a violência, o preconceito, o racismo, todas as formas de fobias que existem no mundo afora."
Nem todo mundo, porém, se sente seguro para exibir essas cores todos os dias. Rosalina Aparecida da Silva, de 64 anos, veio de Osasco para celebrar mais uma Parada, cercada de amigas, com sua blusa colorida e um cachecol que ajudou a fazer no ano passado. Para ela, os sinais são também uma conquista -- mas ainda cercada de cautela.
"Na realidade, isso é uma conquista. Então, a gente aproveita, interage, mas é um dia de luta também. Porque o Brasil é o país que mais mata LGBT. Então, é um dia também de relembrar a luta da comunidade LGBT."
No dia a dia, Rosalina confessa que evita carregar símbolos muito visíveis, por segurança. "Se tiver que usar, eu vou usar. Mas, assim, no dia a dia, não. Por precaução." Ainda assim, ver outra pessoa com uma pulseira ou uma camiseta colorida na rua funciona como um recado silencioso de cuidado mútuo. "Aí a gente fica muito feliz. É um cuidado mútuo. Assim, um cuida do outro, estar sempre atento".
Neste Mês do Orgulho, as histórias de Adriana, Wellington e Rosalina lembram que cada bandeira hasteada, seja em um prédio, presa à mochila ou estampada numa camiseta, é também um lembrete: daqueles que lutaram e ainda lutam.