3/12 abre o portal para o mundo invertido onde todos são inclusivos e acessíveis

Dia Internacional das Pessoas com Deficiência foi criado em 1992 pela ONU para a promoção de direitos e dignidade. Data vira o discurso da vez de quem ignora o tema durante todo o ano.

2 dez 2025 - 12h21
Foto: Arte sobre fotografia de Marcelo Camargo / Agência Brasil. / Estadão

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Foto: Arte sobre fotografia de Marcelo Camargo / Agência Brasil. / Estadão

Tem todo ano e precisamos celebrar. O Dia Internacional das Pessoas com Deficiência, comemorado nesta quarta-feira, 3/12, é nosso. Devemos nos apropriar, destacar nossas conquistas, exigir o respeito aos nossos direitos e cobrar mudanças para ampliar os espaços a serem ocupados.

Nos tempos atuais, não há mais argumentos para tolerar o capacitismo, venha de onde vier, inclusive da família e dos amigos, não há justificativa para o desconhecimento a respeito de nossas demandas ou para a lentidão em temas urgentes na educação, no trabalho, na saúde, na segurança e outros setores básicos. Negligência e desinteresse devem ser encarados com energia máxima.

São 33 anos desde que Organização das Nações Unidas (ONU) proclamou a data, em 1992, para "conscientizar a sociedade sobre a importância de uma sociedade mais inclusiva e acessível". E, para cada um de nós, gente com deficiência, é uma vida inteira de enfrentamentos.

Algo que me incomoda muito, e ocorre cada vez mais, é o aproveitamento da pauta que nos é tão íntima para montar o discurso da vez e buscar engajamento. O 3/12 virou uma espécie de código para um mundo invertido, das coisas mais estranhas, onde tudo é acessível e todos são inclusivos.

No restante dos dias voltamos à realidade do capacitismo, à negligência pública, à invisibilidade do tipo mais perverso, como aquela que cercou a vida do jovem de 19 anos, Gérson de Melo Machado, com deficiência intelectual e esquizofrenia, que invadiu o espaço de confinamento de uma leoa no Parque Arruda Câmara, em João Pessoa (PB), e acabou morto. A leoa foi apenas leoa, reagiu conforme seus instintos, atacou o rapaz no pescoço, exatamente o que leoas fazem, mas não o comeu. Para a sociedade e até para a leoa, Gérson era descartável.

Então, surgem os mais variados formatos de temas repetidos, de exaltação da acessibilidade como um favor, uma benevolência. Uma avalanche de clichês invade a caixa de emails, sobrecarrega o Whatsapp, esmaga a capacidade das mensagens diretas pelo Instagram, tudo em favor da superficialidade, do momento oportuno para dizer "veja que bonitinho o nosso produto para PCDs (Ah, como odeio essa sigla), feito com muito carinho". São alguns dias com esse portal aberto. E tudo acaba logo após e.

Nas horas comuns, quando o rasgo se fecha, a fera da discriminação e da exclusão nos ataca em qualquer lugar.

Vamos em frente.

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