A chegada de uma série de novas marcas de carros no Brasil fez crescer as vendas de modelos importados. De janeiro a novembro de 2025, esses veículos responderam por 18,5% dos emplacamentos, segundo a Anfavea, associação que representa as montadoras. Como comparação, em 2022, esse número era de 13%.
Vale destacar que boa parte da importação de carros é feita justamente por montadoras tradicionais, há muito estabelecidas no Brasil. Mas essa nova leva de modelos trazida de fora, principalmente da China, chega ao mercado com o frescor da novidade, grande parte deles com o apelo de motores elétricos e híbridos, além da promessa de novas experiências para o cliente.
Sobre isso, muito tem se falado. Agora, cabe lembrar que os modelos brasileiros têm bons atributos para competir com os recém-chegados. E a lista de modelos brasileiros também fica cada vez mais ampla, com marcas entrantes que já iniciaram montagem local.
O Jornal do Carro conversou com especialistas para entender se os modelos made in Brazil trazem vantagem aos consumidores e quais são elas.
1- Carros feitos para a realidade brasileira
Não é raro encontrar carros importados que parecem fora de contexto ao circular nas ruas brasileiras. Questões relacionadas principalmente à suspensão, ao acerto dinâmico, são bastante recorrentes. Claro que muitas marcas investem para fazer esses ajustes o quanto antes, mas a tendência é que, quando há produção local, qualquer desenvolvimento adicional que o veículo precise aconteça mais rápido, ainda que o modelo tenha sido desenhado no exterior.
Ricardo Bastos, presidente da ABVE e diretor de assuntos institucionais da GWM, associação do veículo elétrico, fala a respeito: "Marcas com produção local têm também estruturas mais robustas de engenharia por aqui. Isso agiliza o entendimento das necessidades do cliente, a tomada de decisão e, claro, as melhorias nos carros".
2- Menos exposição à variação do dólar
Murilo Briganti, COO da Bright Consulting, concorda que carros nacionais têm melhor adequação ao contexto local, em relação ao clima, combustível, asfalto, etc. Ele acrescenta que veículos made in Brazil são ainda menos sujeitos à variação de preço por causa do câmbio e de questões logísticas.
Uma alta no dólar, por exemplo, tem impacto muito maior na tabela dos carros importados do que em modelos nacionais, ainda que esses contem com peças e componentes trazidos de fora. E claro, o impacto se estende às peças de reposição.
Um problema logístico em outro canto do planeta também pode afetar a oferta de veículos e itens de manutenção importados, como aconteceu em 2021, quando o porta-contêineres Ever Given ficou preso de bloqueou o Canal de Suez, gerando atrasos em entregas de veículos mundo afora.
3- Gastos mais previsíveis
Briganti acrescenta que carros brasileiros tendem a ter maior previsibilidade de custos. Segundo ele, valores de seguros, peças e revisões já são melhor estabelecidos nesses casos. Além disso, a presença da marca com estrutura industrial não deixa de ser um compromisso a mais com a presença no país, o que acaba por trazer certa tranquilidade sobre a continuidade de suporte em relação a peças de reposição, recalls e atualizações, lembra o consultor.
4- Mais tranquilidade na hora da revenda
Já Murilo Moreno, sócio da Sequoia Estratégia e Marketing, lembra que veículos made in Brazil costumam trazer tranquilidade ao consumidor em relação à revenda. Quer dizer, na maioria dos casos. "É importante lembrar que, muitas vezes, marcas tradicionais que têm estruturas pequenas no Brasil podem apresentar os mesmos problemas de empresas novatas", ressalva.
Ainda assim, em geral, o especialista acredita que as companhias com mais tempo no mercado brasileiro e produção local têm estrutura de distribuição e atendimento melhor estabelecidas. "Isso reduz o receio de ter um carro daquela marca", aponta, dizendo que a lógica vale tanto para o zero quilômetro quanto para a revenda do usado.
5- Crescimento da economia brasileira e geração de empregos
Essa não é uma vantagem ligada diretamente a quem compra o carro, mas cabe a menção honrosa. Ao investir em um veículo feito localmente, há maior impacto social e econômico, com geração de empregos e renda no país.
O setor automotivo responde por 18% do PIB (Produto Interno Bruto) industrial brasileiro. É uma cadeia de valor complexa, que inclui a produção de matérias-primas, componentes, investimento em engenharia, produção do carro em si, logística em cada uma dessas etapas, etc.
Briganti lembra que, como efeito indireto, comprar carros brasileiros "fortalece a cadeia produtiva local, ajudando a sustentar emprego, fornecedores e oferta".
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