Jogos de futebol, no geral, costumam sofrer certo descaso por parte da comunidade gamer por seguirem o mesmo ciclo anual, com FC (antigo FIFA) e o eFootball, que antes era conhecido como PES e se tornou um jogo de serviço com atualizações pontuais. Títulos como Rocket League, que mantêm a essência do futebol mas com carros, acabam caindo nas graças do público justamente por fugirem do convencional.
A nova aposta que surge para quebrar esse ciclo é Rematch, produção da Sloclap, estúdio conhecido por Sifu. Ver a desenvolvedora sair de um jogo de combate com elementos de roguelike para se aventurar no universo do futebol pode parecer arriscado, mas o estúdio acertou em cheio ao entregar uma experiência divertida, com jogabilidade sólida e ritmo envolvente nas partidas.
Embate nas quatro linhas
Apesar de ser um título com foco exclusivo no online, logo na primeira entrada somos apresentados a um prólogo que funciona como tutorial. Nele, acompanhamos os primeiros passos de um jogador treinando na comunidade até conseguir uma chance de se provar nas grandes ligas. A narrativa mostra suas dificuldades no banco de reservas e sua ascensão ao time titular. A introdução é curta, mas tem cenas bem animadas que deixam um gostinho de quero mais. Seria ótimo ver um modo solo mais elaborado nesse estilo no futuro.
O jogo permite personalizar o jogador com várias opções visuais, como tom de pele, cabelo, olhos, tatuagens, brincos e até próteses. Uma surpresa positiva é a presença de dublagem em português, com quatro tipos de voz que podem ser escolhidos para o personagem. Também é possível personalizar uniformes, chuteiras, meiões e mais. Para quem prefere não gastar tempo com isso, há um visual especial gratuito disponível, que é justamente o treinador visto no prólogo. Além disso, a loja já oferece o visual do Ronaldinho Gaúcho, mas, como esperado, ele só pode ser adquirido com dinheiro real.
No modo online, a estrutura das partidas lembra bastante uma franquia que está sumida há gerações: FIFA Street. Os modos disponíveis incluem confrontos 3v3, 4v4 e 5v5, além de partidas ranqueadas para quem busca desafios maiores. As partidas duram seis minutos, mas caso um time abra quatro gols de vantagem, a regra de misericórdia encerra o jogo automaticamente. Se o tempo acabar em empate, uma prorrogação com gol de ouro é iniciada. Esse formato deixa as partidas mais tensas e emocionantes. Em várias delas, me peguei ajeitando na cadeira e levando mais a sério, especialmente nas viradas que precisavam daquele gol salvador.
O que acaba sendo um ponto negativo é a ausência de crossplay no momento. A desenvolvedora já confirmou que pretende incluir o recurso em atualizações futuras, mas no estado atual do jogo, essa ausência pesa bastante. Em modos como o 3v3 e 4v4, as partidas online funcionam bem, com tempo de espera curto. Já no 5v5, a demora para encontrar uma sala é perceptível, algo que poderia ser facilmente resolvido com suporte a outras plataformas.
Graficamente, o jogo lembra Sifu, com um estilo visual que remete a animações estilizadas. Mas o verdadeiro destaque são os estádios. Eles fogem do tradicional ao trazerem cenários ambientados em desertos, florestas e grandes cidades com um toque futurista. O único ponto negativo é que boa parte desses estádios está atrelada ao passe de temporada. Embora alguns sejam gratuitos, desbloqueá-los exige bastante tempo, e o passe atual está longe de ser equilibrado em termos de recompensas por nível.
A jogabilidade é onde o título realmente se destaca. Não há nenhum tipo de punição ao aplicar carrinhos, nem mesmo quando a bola sai pela lateral ou linha de fundo. Uma mecânica que lembra bastante o Rocket League é a possibilidade de usar as paredes para passes inesperados, criando jogadas criativas, como voleios a partir de tabelas.
Os controles causam certa estranheza no começo. Chutar com o R2 e a execução dos passes exigem paciência, já que é preciso esperar a mira ser ativada antes do toque. O jogador conta com duas barras: uma de vigor e outra para corridas em posse da bola. Ambas são consumidas com o tempo e se regeneram ao parar de se movimentar. Há também comandos específicos para se posicionar na defesa e outro para driblar. Essa última ação, no entanto, pode parecer confusa, pois sempre que realizamos um drible, a bola escapa do jogador, exigindo que ele corra novamente para recuperá-la.
Jogar como goleiro é mais divertido do que parece. É comum que ninguém queira assumir a posição por achá-la chata, mas aqui o goleiro é essencial e bastante único. Apesar de ser possível sair da área e atuar como um líbero ou até atacante, o goleiro tem uma vantagem clara: seu chute não pode ser interceptado. Se o adversário estiver desatento e fora do gol, é totalmente viável marcar de longe. Além disso, defender é relativamente fácil, com animações rápidas que facilitam as reações nos chutes.
Fora o prólogo e os modos online, o jogo também conta com uma área de prática. Ela funciona como uma espécie de desafio com tempo e metas a cumprir, sendo ótima para treinar os comandos presentes. Também há um modo livre, que remete aos jogos antigos da série FIFA, como os de 2011 e 2012, despertando uma certa nostalgia.
Considerações
Rematch é um projeto ousado da Sloclap e, mesmo com limitações, acerta em sua proposta principal. A jogabilidade é acessível, criativa e oferece partidas que realmente envolvem. Os modos de jogo são bem estruturados, e a estética ajuda a reforçar a identidade do título. O sistema de dribles, passes e jogadas com apoio nas paredes trazem um dinamismo que falta em outros jogos de futebol.
Ainda assim, há pontos que precisam de atenção. A ausência de crossplay limita o matchmaking, principalmente nos modos com mais jogadores. O passe de temporada é desequilibrado e prende conteúdo interessante atrás de uma progressão pouco recompensadora. Mesmo assim, o saldo é positivo. Com atualizações e suporte contínuo, Rematch tem tudo para se consolidar como uma alternativa sólida no cenário de jogos esportivos.
Rematch estará disponível em 19 de junho para PC, PlayStation 5 e Xbox Series X|S, podendo ser jogado também via Game Pass.
Esta análise foi feita no PlayStation 5, com uma cópia gentilmente cedida pela Sloclap.