Civilization, criação do lendário Sid Meier, é uma das franquias de estratégia mais amadas desde que foi lançada em 1991 e acaba de receber o seu sétimo jogo.
Desenvolvido pela Firaxis Games, Civilization VII conta com mudanças no núcleo de gameplay icônico da saga e adiciona o inédito sistema de Eras. A novidade deve dividir os fãs e a falta de conteúdo definitivamente prejudica o lançamento.
Conteúdo deixa a desejar
Logo de cara somos apresentados ao novo menu inicial, que surpreendentemente apresenta poucas opções em comparação com outros jogos da franquia. Um exemplo é a falta do Civlopédia, que fornece aos jogadores explicações sobre as mecânicas do jogo e contextos históricos de líderes e civilizações.
Ao escolher iniciar uma nova partida, é possível ter uma noção do conteúdo presente no lançamento, que conta com 21 líderes e 31 civilizações. O número pode até parecer satisfatório para quem olha de longe, porém, o elenco de líderes não é dos mais empolgantes e a falta de personalidades históricas apresentadas nos outros jogos da franquia incomoda.
Já no quesito de customização de partidas há pouquíssimas opções no lançamento, com poucas opções além de dificuldade, ritmo e tipo de mapa. Neste sentido, jogadores que desejam criar experiências únicas irão ficar desapontados com as possibilidades, principalmente na questão dos tamanhos de mapa, onde o maior disponível é o padrão. Ou seja, é impossível criar partidas em mapas enormes e com maior distribuição de jogadores.
Mudanças significativas
Várias mecânicas de gerenciamento inéditas estão presentes no jogo, como o novo sistema de expansão de cidades, que desta vez conta com a possibilidade de inserir uma melhoria automaticamente ao escolher o campo, evitando perder tempo ao construí-las. Estes campos são considerados como rurais e são convertidos em bairros urbanos caso seja construído algo em cima, com a possibilidade de inserir duas edificações distintas em cada um desses espaços urbanos. Isso permite um gerenciamento mais detalhado e dá mais opções de construções em uma única cidade.
A questão de novos assentamentos também foi alterada. Quando o jogador decide fundar ou dominar uma nova cidade, estas são consideradas como “cidades pequenas” e seus recursos são convertidos em ouro para a capital. Não é possível utilizar a produção para a construção de edificações. Existe também a opção de escolher o foco da conversão de recursos destes assentamentos, como converter todo o alimento e produção em cultura e ciência ou criar uma área militar onde suas unidades se recuperam mais facilmente. Ainda há a opção de fazer a conversão para uma cidade normal, onde a mesma começará a funcionar como a capital. É uma mecânica interessante, que dá mais opções de gerenciamento de recursos para o seu império, entretanto, a construção de instalações nestas cidades pequenas só pode ser realizada com ouro, o que pode acabar pesando nos recursos da civilização.
Outra mudança significativa foi a questão militar do jogo, com a adição de comandantes militares que possuem uma árvore de habilidades. Estas unidades podem agrupar outras em formato de exército, o que facilita a locomoção pelo mapa e permite usar habilidades como ataques coordenados de seus soldados, dentro de uma área de efeito e com ofensividade aumentada. Essa é uma ótima adição, que fornece aos jogadores formas de realizar ataques mais fortes contra os adversários e também facilita a mobilização de unidades militares em vários cantos do mapa.
Simplificações também aconteceram em partes do game, como na área diplomática, que agora é um pouco mais intuitiva e permite criar relações de forma mais fácil com outros líderes. O problema é o leque pequeno de opções diplomáticas, que acabam ficando bem repetitivas ao longo de uma partida de duração para lá de 15 horas. A interface também foi bem simplificada, o que danificou o microgerenciamento do jogo, dificultando a vida de jogadores mais assíduos que desejam ter controle completo sobre todos os aspectos da civilização.
Já em relação às outras mecânicas menores do game, tudo funciona bem. Desastres naturais estão presentes e desolam suas cidades, as crises dentro de sua civilização tendem a ocorrer uma vez por era e podem te atrapalhar em diversas áreas e as narrativas que são apresentadas ao longo de uma partida fornecem uma maior imersão para o jogador durante o gerenciamento do império.
Um jogo que perdura sobre eras
O principal foco da desenvolvedora foi a implementação da nova mecânica principal de gameplay, denominada de “Eras”. O foco é dar sensação de progresso durante três momentos históricos da humanidade: Os períodos da antiguidade, da exploração e dos tempos modernos. A minha experiência geral com essa mecânica foi confusa e atrapalhada!
A apresentação do novo estilo de progressão do jogo passa pela a barra de progresso de eras, que é um esforço coletivo entre todas as civilizações da partida e vai sendo preenchida mediante a realização de algumas missões atribuídas pelos conselheiros. No geral, os jogadores devem realizar pequenas missões nas áreas de interesse para progredir pelas eras e obter pontos de legado. Ao chegar em 100% de progressão, a era atual é encerrada e é dado início a um novo período histórico, onde o jogador deve escolher uma nova civilização para continuar a partida. Há a possibilidade de também gastar pontos de legado para obter novas vantagens ao longo da partida. Desta forma, os jogadores devem atravessar todas as três eras para liberar a condição de vitória, impossibilitando que a partida acabe nas duas primeiras eras.
Ao longo da minha experiência com o game, o principal problema que encontrei com essa nova mecânica foi a implementação confusa, já que os tutoriais disponíveis não fazem um bom trabalho ao explicar as novidades e deixam o jogador perdidinho. No meu caso, eu só consegui entender completamente a progressão quando estava na reta final da partida e, portanto, fiquei quase 10 horas completamente sem saber o que estava acontecendo de verdade. Outro aspecto que me decepcionou bastante foi a linearização da progressão das missões. Elas obrigam o jogador a realizar pequenos feitos para progredir, o que acaba tirando muito da experiência regular de jogos da franquia - aquela sensação de liberdade completa para realizar o que quiser e da forma que bem entender.
A mudança de eras também é bagunçada e parece iniciar uma nova partida, dando pouco senso de continuidade. Algumas unidades militares desaparecem, e as que continuam são realocadas. As cidades são convertidas novamente para cidades pequenas, obrigando o jogador a gastar um belo montante de ouro para desfazer as alterações. As tecnologias e cívicos da era anterior somem e não podem ser pesquisadas mais. As relações com outros líderes são praticamente reiniciadas e guerras em progresso são encerradas. Tudo isso me passou a impressão de que o jogo estava me forçando a praticamente recomeçar tudo do zero, sem uma sensação legal de progressão.
A obrigação de escolher uma nova civilização também me trouxe sentimentos mistos. Se por um lado é legal ter uma mudança de gameplay com novos ares durante a liderança de novas civilizações, por outro acaba criando situações bizarramente cômicas, como Carlos Magno, líder do império mississipiano. Restringir algumas civilizações às suas respectivas eras também é algo frustrante, sendo impossível, por exemplo, chegar à era moderna com o império romano.
Considerações
Civilization VII apresenta boas ideias para o futuro da franquia, com algumas simplificações que deixam a experiência mais amigável para novos jogadores e mecânicas inéditas que trazem qualidade de vida ao jogo. No entanto, o conteúdo do jogo no lançamento deixa a desejar e as opções de customização de partidas e de interface são escassas.
A progressão geral da mecânica de eras é confusa, linear e muito mal executada, minando o senso de progressão e limitando algumas civilizações. Apesar de tudo, o jogo ainda apresenta uma experiência modestamente divertida, mas jogadores veteranos da franquia devem se frustrar em vários pontos.
Civilization VII está disponível para PC, PlayStation 4, PlayStation 5, Switch, Xbox One e Xbox Series X|S.
Esta análise foi feita no PC, com uma cópia do jogo gentilmente cedida pela 2K.