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Moradores de Sochi criticam falta de melhorias na infraestrutura da cidade

2 jul 2013 - 09h19
(atualizado às 09h25)
População precisa guardar galões por causa do medo da falta de água
População precisa guardar galões por causa do medo da falta de água
Foto: Luciano Fernandes / Especial para Terra

“A gente achava que a vida fosse mudar aqui em Sochi. Foi o que nos prometeram. Sempre tivemos problemas de água e luz na cidade. Você acha que mudou algo?”. É com pouco otimismo que Irina (nome fictício), de 59 anos, fala sobre as Olimpíadas de Inverno que a cidade de Sochi receberá em fevereiro de 2014. “Se você ficar aqui um mês, vai perceber que sempre temos quedas de eletricidade, apagões, falta d’água. Olha isso”, queixa-se Irina, mostrando os quatro galões de água que tem no banheiro para qualquer emergência.

Moradores contam que às vezes a cidade fica dias e até mesmo mais de uma semana sem eletricidade. “Ninguém nos explica o porquê. Tem energia para os Jogos, mas nós que moramos a vida inteira aqui não temos. Às vezes nem no inverno”, conta a aposentada Marina Ilitskaya, de 73 anos.

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A projeção internacional de Sochi decorrente do evento esportivo não veio acompanhada de uma melhoria na infraestrutura para os moradores. “O que ganhamos? Mais engarrafamentos. Temos uma avenida ligando Sochi ao Parque Olímpico e todos têm que passar por ali. Agora demoramos até uma hora pra ir a Adler, a 20km. Esse é o grande desenvolvimento que conseguimos”, ironiza Pyotr Tryushkno.

Os residentes de Sochi também acusam que a maior parte da força de trabalho para os Jogos não é local. A informação é confirmada por Ekaterina Titova, uma das coordenadoras de Recursos Humanos do Comitê Olímpico. “Estimamos em apenas 5% o número de trabalhadores locais envolvidos na organização dos Jogos de Sochi”, conta a jovem russa, que também não é da região.

“Vim de Krasnoyarsk (cidade da Sibéria) com meu namorado para trabalhar aqui. Há muita demanda de trabalho, mas poucas pessoas falam inglês na cidade. Estou em Sochi com o meu namorado e já conseguimos dar entrada na hipoteca de um apartamento em Moscou”, conta Ekaterina. “Só não contratamos pessoas dos países que estão em crise na Europa, como Grécia e Espanha, porque o visto de trabalho para a Rússia não é simples. Se não, seriam muito bem-vindos”.

Trânsito na região da Olimpíada só piorou
Foto: Luciano Fernandes / Especial para Terra

Nem mesmo os trabalhadores das obras de construção do Parque Olímpico são de Sochi. A maioria vem dos países vizinhos, como Kirguistão, Tajiquistão e Uzbequistão, onde os salários são muito mais baixos que na Rússia. Para uma jornada de 10 horas diárias, de segunda a domingo ininterruptamente, os trabalhadores ganham aproximadamente 30 mil rublos (R$ 2 mil). Como o contratante provê alojamento e comida, muitos conseguem economizar 90% do salário. Dados do Observatório de Direitos Humanos apontam a existência de pelo menos 50 mil trabalhadores ilegais envolvidos no projeto olímpico.

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E as controvérsias de Sochi não param por aí. 2014 é o ano que marca o 150° aniversário da limpeza étnica dos circassianos de Sochi, derrotados pelas forças do Império Russo. Estima-se que pelo menos 400 mil circassianos tenham sido assassinados durante a limpeza étnica feita pela Rússia entre 1860 e 1864. O grupo tem feito manifestações para informar à comunidade internacional sobre o que chamam de “injustiça”. Para a diáspora circassiana, os jogos em Sochi “acontecerão sobre as sepulturas de nossos ancenstrais” e “os atletam estarão esquiando sobre os ossos dos nosso parentes”.

“Estes jogos estão sendo feitos para passar ao mundo a imagem de que a Rússia é uma país desenvolvido, que pode organizar um evento deste porte. Eles só se esquecem de pernsar em nós, russos”, desabafa a dona-de-casa Masha Lyutrovna. Quando perguntada se assistiria aos Jogos Olímpicos, ela não titubeia: “Os ingressos são caros, mas eu vou assistir pela televisão. Isso se não faltar luz aqui”.

Confira "bastidores" da produção das medalhas dos Jogos de Inverno

Fonte: Especial para Terra
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