Corinthians usa fundo da Arena em manobra contra déficit

Ex-presidente Mario Gobbi Filho reconhece no balanço que o clube passou por dificuldades em 2014

7 mai 2015 - 14h44

Para cobrir o déficit de R$ 97 milhões amargado em 2014, o Corinthians usou no balanço financeiro R$ 327,6 milhões em recursos do fundo de investimentos da Arena, elevando a conta para um saldo positivo de R$ 230,6 milhões. O resultado negativo pode ser atribuído à queda na receita, a pior nos últimos quatro anos: R$ 258,2 milhões, 18% a menos em relação a 2013.

Junto a isso, as informações sobre os valores oriundos do Fundo Imobiliário Arena Corinthians (Arena FII) não foram referendadas pelos auditores independentes do fundo. Ou seja, os valores deste fundo apresentados não são totalmente confiáveis do ponto de vista contábil. Para fazer um comparativo, no ano passado, o clube apresentou um saldo positivo de R$ 1 milhão em 2013 e caiu para R$ 97 milhões negativos no ano seguinte.

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Roberto de Andrade está no primeiro ano como presidente do Corinthians
Roberto de Andrade está no primeiro ano como presidente do Corinthians
Foto: Rodrigo Gazzanel / Futura Press

O balanço contábil é um documento que atesta a situação financeira da empresa com reflexos na avaliação de bancos para concessão de financiamentos com juros e prazos mais baixos, benefícios normalmente concedidos pelas instituições bancárias de acordo com a saúde financeira de quem pede um empréstimo.

Presidente do Corinthians até fevereiro de 2015, Mario Gobbi Filho reconhece no balanço que o clube passou por dificuldades em 2014: "encerramos o ano com um déficit operacional e aumento no endividamento", afirmou. As justificativas apresentadas por ele foram a crise econômica, o resultado no Campeonato Brasileiro 2013, a equipe ter ficado de fora da Copa Libertadores de 2014 e a mudança na forma como é contabilizada a bilheteria, que passou a entrar na conta do fundo responsável pela administração da Arena.

A justificativa apresentada por Gobbi é visível no balanço. Os valores obtidos com bilheterias caíram 78% no ano passado, passando de R$ 32 milhões em 2013 para R$ 6,9 milhões no ano passado. A falta de títulos e o desempenho instável no Brasileiro também tiveram reflexo nas contas do Corinthians, tanto que a arrecadação com premiações, fiel torcedor, loterias e outros caiu de R$ 15,3 milhões para R$ 9,3 milhões.

Gobbi teve um ano de 2014 complicado nas finanças corintianas
Foto: Sergio Barzaghi / Gazeta Press

Departamento de Futebol mais caro que o recomendado

Uma análise sobre as finanças dos clubes brasileiros feita pelo consultor de marketing e gestão esportiva Amir Somoggi aponta que os gastos com departamento de futebol devem ficar na casa de 70% da receita, mas no caso do Corinthians esse percentual chegou a 92% no ano passado. Entre os 20 maiores clubes analisados, ele foi o mais caro, com o custo de R$ 238,5 milhões em 2014.

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Ironicamente, em 2012, quando conquistou a Copa Libertadores da América e o Mundial de Clubes da Fifa, o custo do departamento de futebol era de 65% do total de receitas do clube, dentro, inclusive, do patamar recomendado por especialistas.

Tramita no Congresso a Medida Provisória 671, mais conhecida como MP do Futebol. O texto prevê mecanismos para evitar que os clubes gastem mais do que arrecadam com a folha de pagamento do futebol, estabelecendo um limite máximo de 70%. De acordo com o movimento Bom Senso Futebol Clube, isso evitaria um descontrole nas contas e consequente aumento dos déficits.

Entre os deputados que analisam a medida está o ex-presidente do Corinthians, Andrés Sanchez (PT-SP), que já teria se posicionado contra o teto máximo de 70%.

Mas não foi só o Corinthians que amargou prejuízos financeiros nos últimos anos. Os maiores clubes brasileiros fecharam 2014 com um déficit acumulado de R$ 598 milhões, um valor 43% maior que o registrado em 2013. De acordo com o Somggi, foi o pior resultado financeiro da história do futebol brasileiro (da série histórica iniciada em 2003).

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Andrés Sanchez já teria se posicionado contra o teto máximo de 70%
Foto: Reginaldo Alves de Castro / Gazeta Press

Nos últimos dois anos, os 20 maiores clubes somaram perdas de mais de R$ 1 bilhão. Desde 2003, esse valor passa de R$ 3 bilhões. Apenas nos anos de 2005 e 2012 (este quando houve renegociação dos direitos de TV) os clubes fecharam o ano no positivo. O Terra entrou em contato com o Corinthians por intermédio do diretor financeiro Emerson Piovezan, que explicou a manobra contábil realizada pelo clube.

"O clube fechou o ano com R$ 97 milhões negativo. Isso é fato. Com relação as cotas do fundo imobiliário que compõem a nossa Arena, é um lançamento legal porque isso foi contabilizado", comentou Emerson.

"Outros clubes fizeram algo semelhante, e vai passar a ser um ativo do Corinthians neste ano. Mas vai ser um ano no qual vamos fechar com déficit, não vai ser possível resolver isso neste ano", acrescentou o diretor financeiro do clube alvinegro.

Receitas do segmento futebol

  2013 2014
Direitos de transmissões R$ 102,5 milhões R$ 108,7 milhões
Patrocínio e Publicidade R$ 60,1 milhões R$ 63,6 milhões
Arrecadação com jogos R$ 32 milhões R$ 6,9 milhões
Premiações, loterias e outros R$ 15,3 milhões R$ 9,3 milhões

Receita total do Corinthians

2013 2014 Variações
R$ 316 milhões R$ 258,2 milhões - R$ 57,8 milhões

Custos do departamento de futebol

2014 2013 2012
R$ 238,5 milhões R$ 248,3 milhões R$ 233,3 milhões

*em 2014 os custos representaram 92% da receita. Em 2012, ano do Mundial e da Libertadores, o percentual era de 77%

Superávit/Déficit

2014 2013 2012 2011
- R$ 97 milhões* R$ 1 milhão R$ 7,5 milhões R$ 5,3 milhões

*R$ 230,6 milhões com a manobra contábil que incluiu nas contas dinheiro do fundo imobiliário da Arena Corinthians

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Dívida total do Corinthians

2014 2013 2012
R$ 313,5 milhões R$ 193,7 milhões R$ 177,1 milhões
Fonte: Terra
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