BRASÍLIA - Quase um quarto da malha rodoviária brasileira pavimentada está em estado péssimo (6,9%) ou ruim (16,3%). A maior fatia, 38,6%, encontra-se apenas regular. Com isso, 61,8% das rodovias têm qualidade insatisfatória. É o que mostra nova pesquisa da Confederação Nacional do Transporte (CNT) sobre as rodovias no País. Em contraste, apenas 38,2% da malha está em boas ou ótimas condições - esse número era de 41% em 2019.
Para a reconstrução e a restauração de vias, a CNT calculou ser necessário o investimento de R$ 62,9 bilhões. Já a manutenção dos trechos desgastados custaria R$ 19,6 bilhões.
A pesquisa da CNT foi baseada no estudo de 109.103 quilômetros de rodovias pavimentadas. A extensão abrange todas as rodovias federais e, ainda, trechos de rodovias estaduais considerados relevantes em termos socioeconômicos.
O quadro de problemas piora no recorte de rodovias sob gestão pública. Nele, apenas 28,2% dos trechos analisados estão em estado ótimo ou bom. O número regrediu em relação à sondagem feita pela CNT em 2019, quando 32,5% das rodovias estavam boas ou ótimas.
O encolhimento também pode ser percebido na injeção de investimentos públicos nas rodovias, quando analisados os recursos federais. Entre 2016 e 2020, o investimento médio do governo foi de R$ 8,9 bilhões, segundo a entidade. Já em 2021, se considerado todo o montante autorizado no Orçamento federal para obras em rodovias, o valor cai para R$ 5,8 bilhões.
"A baixa qualidade das rodovias impacta diretamente na segurança de seus usuários, havendo um maior potencial de risco de acidentes (...). Ela gera, portanto, custos intangíveis e financeiros para a sociedade, que poderiam ser evitados com a melhora da pavimentação, sinalização, densidade e manutenção das rodovias", aponta a CNT.
Outros custos
Além dos problemas de segurança, a condição insatisfatória das estradas impacta diretamente no bolso do brasileiro. As irregularidades nas rodovias pavimentadas representam, em média, um acréscimo de 30,9% no custo operacional do transporte, aponta a CNT. A situação é causada pelo aumento de despesas com a manutenção do veículo e maior demanda por reparos de motor, por exemplo.
A análise por regiões mostra que o Norte do País é onde existe uma maior proporção de pavimentos com algum tipo de irregularidade, chegando a 75,5%. O ranking é seguido por Centro-Oeste (71,2%); Nordeste (65,9%); Sul (64,8%); e Sudeste (62,3%).
Um efeito negativo relevante da má qualidade das estradas aparece no consumo do combustível. O tráfego nas rotas com irregularidades pode resultar no aumento de consumo médio em 5% do combustível queimado no veículo, quando comparado com o gasto em estradas com melhores condições.
Dessa forma, aponta a CNT, é possível estimar que, em 2020, 956 milhões de litros de diesel foram consumidos de forma desnecessária, o que ocasionou uma descarga de aproximadamente 2,53 milhões de toneladas de carbono na atmosfera.
Acidentes
Outro dado destacado pela entidade é que, enquanto o valor de investimentos pagos em rodovias federais neste ano foi de R$ 4,16 bilhões, o custo com acidentes movimentou o dobro. A estimativa é de que até setembro R$ 8,85 bilhões tenham sido gastos em razão de acidentes. "É histórico no Brasil o custo dos acidentes superar o valor investido em infraestrutura rodoviária, realidade que poderia ser evitada com melhora da pavimentação, sinalização e geometria das rodovias", afirma a confederação.
Uma das medidas defendidas pela CNT para reverter esse cenário é que as outorgas arrecadadas em concessões de rodovias sejam revertidas em investimentos no próprio setor. Hoje, esses recursos vão para a conta do Tesouro, e não necessariamente são usados na infraestrutura pública. A confederação defende uma mudança na regra, assim como já é feito no segmento de ferrovias.