A IG4 Capital e a Novonor (ex-Odebrecht) devem assinar um acordo de transferência das ações da Braskem na próxima semana, segundo apurou o Estadão/Broadcast. O passo seguinte será a celebração do acordo de acionistas, que já está definido, entre a IG4 e a Petrobras, a maior acionista na Braskem. A Novonor tem atualmente o controle da petroquímica.
Procurada, a Novonor não comentou. A Petrobras não retornou até a publicação deste texto.
Segundo pessoas a par das negociações, o acordo ampliará os poderes da Petrobras, incluindo o controle operacional da Braskem. Com o avanço das tratativas entre os bancos e a Novonor, já está em gestação também uma nova diretoria para a Braskem.
A IG4 representa os bancos credores da Novonor, que têm ações da Braskem como garantia a empréstimos feitos no passado à companhia. Nessa nova gestão, caberá à IG4 cuidar das questões financeiras da Braskem, que não serão poucas daqui em diante, dado o endividamento bastante elevado da petroquímica.
As tratativas finais para que os bancos assumam pacificamente a Braskem são fruto de conversas que acontecem desde agosto com a Novonor, ex-Odebrecht, em torno de um plano envolvendo a transferência das ações da Braskem para um fundo sob gestão da IG4, que será a sócia da Petrobras na empresa.
Pessoas com conhecimento do caso disseram que todas as questões que emperravam as negociações junto à Novonor foram pacificadas e que os documentos finais para assinatura do acordo entre a IG4 e a empresa da família Odebrecht estão sendo finalizados.
A Novonor restará com 4% do capital total da Braskem e somente isso. A família Odebrecht desejava embutir na negociação da transferência das ações da Braskem dívidas não relacionadas a esta garantia. Alguns desses bancos têm outras dívidas com a Novonor, sem garantias, dentro do processo de recuperação judicial da ex-Odebrecht, majoritariamente os públicos. O BNDES carrega a maior porção da dívida sem garantia e, de acordo com a lista de credores apresentada em 2019, quando a Odebrecht pediu recuperação judicial, são da ordem de mais de R$ 10 bilhões.
Dívidas
Sentada à mesa com seus maiores credores, a Novonor buscou negociar melhores termos também para os créditos que estão na recuperação judicial, sob o argumento de que, ao longo dos últimos anos, a Novonor repassou 100% dos dividendos da petroquímica aos bancos, uma de suas únicas fontes de receita, já que as demais operações do grupo nunca se recuperaram do escândalo da Lava Jato. Mas essa conversa ficará para depois, disse uma pessoa a par do caso.
A dívida da Novonor garantida pela Braskem com os bancos gira em torno de R$ 19 bilhões, considerando o juro acumulado ao longo dos anos. A ideia das instituições financeiras — Bradesco, Itaú Unibanco, Santander, Banco do Brasil e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) — é vender essa participação quando a petroquímica tiver um melhor valor de mercado, suficiente para cobrir a dívida da Novonor tomada com as instituições financeiras.
Isso porque, quanto maior for o valor, não só melhor será a capacidade dessas instituições receberem boa parte do que emprestaram, mas menor será o atrito entre os próprios bancos. À medida que os empréstimos para a então Odebrecht foram sendo rolados, antes da recuperação judicial em 2019, criou-se uma cascata de prioridade de recebimento dos créditos, em razão de alguns bancos terem dado mais dinheiro ao grupo. O BNDES estaria no fim dessa fila de prioridades, o que emperrou muitas vezes o andamento das negociações da Novonor com outros interessados no controle da petroquímica.
Procurados, Bradesco, Itaú Unibanco, Santander e Banco do Brasil não comentaram. O BNDES informou que não comenta assuntos relacionados a empresas de capital aberto.
O Estadão/Broadcast apurou que, no momento, todos os bancos estão alinhados e focados em conduzir o plano de transferência de ações, recuperar valor da companhia e receber os créditos sem perdas. Entretanto, uma das pessoas ouvidas afirmou que, provavelmente, a discussão sobre a cascata de recebimento virá depois, já que as decisões referentes a essa garantia são tomadas de forma unânime. Por exemplo, na conversão em ações da Braskem das debêntures que devem ser entregues aos bancos e que constituirão o fundo a ser gerido pela IG4.
Para recuperar valor da Braskem, a IG4 deve renegociar as dívidas da empresa. Não está claro, ainda, o momento exato em que essas tratativas vão se iniciar. A dívida líquida ajustada da companhia somava, no terceiro trimestre de 2025, US$ 7,1 bilhões, com alavancagem de 14,76x (dívida líquida/Ebitda recorrente).
A situação financeira da Braskem se deteriorou frente a discussões sobre valores das indenizações pelo afundamento de sua operação de sal-gema em Maceió, combinado à demora para a venda da fatia de controle pela Novonor e ao ciclo de queda no preço dos petroquímicos. No mês passado, sua subsidiária Braskem Idesa deixou de honrar compromissos de juro com detentores de título de dívida.
O Estadão/Broadcast apurou que a companhia sinalizou a detentores de dívida emitida no exterior pela Braskem que poderá também postergar o pagamento de US$ 170 milhões em juro que vence em janeiro. Entretanto, pessoas próximas aos bancos dizem que não está claro qual será o movimento a ser feito pela companhia.