-1ieyalm3kh838.jpeg "Vânia Cristina da Silva, 52 anos, assumiu a missão de continuar o legado solidário da mãe à frente do Instituto Ações Sociais Vó Tutu")
Quando se fala em Brasilândia, na Zona Norte de São Paulo, o Instituto Ações Sociais Vó Tutu é uma das principais referências. Depois da morte de Maria Paulina Avelino, a querida vó Tutu, em junho deste ano, a filha, Vânia Cristina da Silva, 52 anos, assumiu a missão de continuar o legado solidário da mãe. A transição reforça uma história iniciada há cinco anos, quando Maria começou a assar pães e distribuí-los a famílias que enfrentavam a fome durante a pandemia, com medo de que o isolamento deixasse muitos sem o que comer.
Receba as principais notícias direto no WhatsApp! Inscreva-se no canal do Terra
Hoje, sob a responsabilidade de Vânia, atual CEO da instituição localizada na Rua Virajuba, na Vila Itaberaba, são produzidos cerca de 2.800 pães por dia. O número cresceu de forma expressiva em outubro por causa das festas da região. “Só neste mês já fabricamos mais de 47 mil pães”, afirma.
A dedicação de vó Tutu nos últimos anos chamou a atenção de nomes como Luciano Huck e Paola Carosella, levando-a a participar de programas de TV e impulsionando o crescimento da instituição.
O projeto também conecta empresas e moradores da região a vagas de redes como McDonald’s, Burger King e Drogarias São Paulo, divulgadas nas redes sociais. Os candidatos passam por pré-entrevistas no local. Parcerias com a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) permitem que alunos de psicologia realizem estágios e conduzam rodas de conversa para quem precisa.
Além da padaria comunitária, o espaço oferece cestas básicas, atendimento psicológico gratuito, oficinas de culinária e cursos de informática e programação. O Instituto Vó Tutu foi criado para atender a população da Brasilândia, oferecendo apoio a quem busca capacitação ou auxílio para necessidades básicas.
Desde a fundação, Vânia Cristina ocupava a presidência formal da instituição, cuidando de toda a documentação e das decisões burocráticas. Hoje, ela apenas dá continuidade ao trabalho que já realizava. “A diferença é que agora entendo o tamanho da responsabilidade, algo que só percebi de fato depois da partida da minha mãe”, diz.
Apesar de preservar o legado da sua mãe, Vânia faz questão de marcar sua própria identidade à frente do projeto. “Preciso mostrar que somos duas pessoas diferentes. Não posso deixar que confundam a Vânia com a vó Tutu. Em alguns momentos, nossas formas de agir são diferentes, mas a essência dela está aqui e isso jamais vai mudar.”
Sem apoio do poder público, o Instituto sobrevive principalmente por doações individuais, feitas por PIX ou de forma recorrente pelo site, via PayPal. São contribuições de diferentes valores que garantem a continuidade das atividades e mantêm o projeto de pé. O suporte de parceiros fixos também é essencial para o projeto. O Moinho Anaconda, uma empresa de trigo, doa mais de uma tonelada e meia de farinha por mês e fornece o gás da padaria, mantendo uma parceria que já dura quase três anos.
Por enquanto, a CEO não pretende expandir o Instituto Vó Tutu para outras regiões. O foco, segundo Vânia, continua sendo a Brasilândia, onde o projeto nasceu. O desejo de expansão está voltado para um terreno em frente ao Instituto, que ela sonha transformar em um novo espaço de acolhimento.
“Se conseguíssemos comprar esse terreno, daria para construir uma quadra e oferecer esporte às crianças. É um sonho que a gente sabe que daria pra realizar se tivéssemos condições de comprar o terreno”, conta.
Segundo Vânia, a visibilidade da instituição ajudou a mudar a imagem da Brasilândia, distrito historicamente marcado pela violência. “Hoje, quando se fala em Brasilândia, lembram do Instituto Vó Tutu, de um lugar de acolhimento e ajuda. As pessoas entendem que aqui há muita gente boa, organizações sérias e que o bairro não é tão violento como sempre disseram.”
O aprendizado com a mãe continua guiando seu trabalho, e Vânia reforça que o Instituto deve refletir esse valor em cada gesto. “O maior ensinamento que a minha mãe deixou pra nós foi o amor à frente de tudo. Porque, se você não tiver amor, não tiver empatia, não doar o seu tempo para escutar as pessoas e atender da melhor forma possível, não faz sentido o nosso trabalho”, conclui.
