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É preciso debater o sistema todo, o balanço de carbono, e não só emissão, diz diretor da Abag

'Num sistema agrícola, se o solo não é movimentado, mantém o carbono estável; isso deveria entrar no balanço, mas nunca entrou', diz Bastos, que participou do 'Estadão Summit Agro'

7 dez 2025 - 05h42

Na pecuária, o "arroto do boi" é um grande emissor de gases de efeito estufa para a atmosfera. Esse desafio, entretanto, está sendo enfrentando pelo setor, afirma Eduardo Bastos, CEO do Instituto Equilíbrio e diretor da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), que participou do Estadão Summit Agro. Em entrevista, ele diz que o foco deve ser o ciclo completo do carbono no pasto, e não apenas parte do processo. Leia os principais trechos:

O que significa olhar para o ciclo completo do carbono na pecuária, frequentemente criticada pelas emissões?

É preciso debater o sistema todo, o balanço de carbono, e não só emissão. Hoje, 75% das emissões do mundo vêm de fontes fósseis. E, com fósseis, você só reduz. Se você tem um carro a gasolina e troca por um flex, ele emite menos; se troca por um movido a etanol, emite menos. Mas, num sistema agrícola, você pode construir matéria orgânica no solo. Assim captura e remove carbono. Se esse solo não é movimentado, mantém o carbono estável. Isso deveria entrar no balanço, mas nunca entrou.

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Bastos participou de painel no 'Estadão Summit Agro', entre Isadora Duarte, Diogo Fleury Costa, Filipe Teixeira e Rui Pereira Rosa
Bastos participou de painel no 'Estadão Summit Agro', entre Isadora Duarte, Diogo Fleury Costa, Filipe Teixeira e Rui Pereira Rosa
Foto: Helcio Nagamine/Estadão / Estadão

Vocês também têm defendido que as métricas climáticas precisam ser adaptadas para a agricultura tropical. Por quê?

Porque o Medição, Reporte e Verificação (MRV) usado é baseado na realidade do hemisfério Norte. Funciona para eles, mas o nosso precisa ser diferente. Um MRV tropicalizado deve considerar a realidade de países do cinturão tropical. Aqui chove mais, a raiz vai mais fundo, há vida mais profunda no solo. Em regiões frias, isso não acontece porque as camadas profundas são frias demais. Aqui há vida e carbono armazenado em camadas profundas, e isso precisa ser contabilizado.

É mito dizer que o "arroto do boi" é um grande vilão climático?

Não é mito, é um desafio. O Brasil emite cerca de 2,4 bilhões de toneladas de CO2 equivalente. O agro responde por cerca de 600 milhões, aproximadamente 25%. Desses 600 milhões, 500 vêm da pecuária, e cerca de 450 milhões são metano, vindos do arroto do boi. Então, sim, é um problema para a humanidade. Mas, se considerarmos o quanto o pasto captura, ou sistemas como Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), é possível ter um sistema que captura mais do que o animal emite.

Então o objetivo não é zerar a emissão, mas zerar o balanço?

Exatamente. Para chegar ao zero líquido, que é o compromisso do Brasil para 2050, não precisamos parar de comer, nem de nos mover. Tudo isso emite. Mas podemos escolher ter um ônibus a biodiesel, que emite só 18% do total do diesel. O ponto é combinar tecnologias. Assim podemos continuar comendo uma picanha no domingo sem a culpa de "estar acabando com o mundo". Se essa picanha vier de um sistema bem manejado, ela pode ser resultado de uma produção que retira mais carbono do que o animal libera. Esse deve ser o foco.

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