Dólar cai 1,42% e fecha abaixo de R$ 5,00 pela primeira vez desde junho

21 mar 2022 - 18h25
(atualizado às 18h33)
Foto: Forbes

O dólar à vista emendou o seu quarto pregão consecutivo de queda na sessão desta segunda-feira, 21, e fechou abaixo do piso psicológico de R$ 5 pela primeira vez em nove meses. Mais uma vez, operadores relataram entrada de fluxo estrangeiro para a bolsa doméstica, beneficiada pela valorização das commodities, e apetite por operações de carry trade. Nova piora das expectativas de inflação no boletim Focus do Banco Central e uma alta superior a 7% das cotações do petróleo, com o impasse nas negociações para um cessar-fogo na Ucrânia, sustentam apostas de que o Comitê de Política Monetária (Copom) possa ter que estender o ciclo de aperto monetário para além da reunião em maio, na qual já está contratado aumento da taxa Selic em 1 ponto porcentual, para 12,75%.

A pressão vendedora no mercado doméstico amainou um pouco no início da tarde, em razão de discurso duro do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, que não descartou a possibilidade de aumento da taxa de juros superior a 25 ponto-base e afirmou que "há uma clara necessidade" de a política monetária ter uma postura mais "neutra" ou até "restritiva".

Publicidade

A reação dos ativos lá fora foi imediata. A moeda norte-americana acelerou os ganhos frente a outras divisas fortes, sobretudo o euro e o iene, e as taxas dos Treasuries dispararam, com o yield da T-note de 10 anos atingindo 2,31% na máxima.

Por aqui, o dólar voltou a ser negociado ao redor do patamar de R$ 4,95, mas ainda em queda superior a 1%. No fim da sessão, apresentava perda de 1,42%, a R$ 4,9445 - abaixo de R$ 5,00 pela primeira vez desde 30 de junho (R$ 4,9732) e no menor nível desde 29 de junho (R$ 4,9419). O real liderou os ganhos entre divisas de países emergentes e exportadores de commodities, seguido de perto pelo peso chileno. Outras divisas pares, como o rand sul-africano, também resistiram bem à perspectiva de mais juros nos EUA.

O head da Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, ressalta o fato de o impacto da alta das taxas dos Treasuries sobre as moedas emergentes ter sido bem modesto. "Alguns anos atrás, com uma alta desse tamanho das taxas lá fora, o dólar tinha subido mais de 2% aqui. O máximo que fez hoje foi tirar o dólar da mínima", diz Weigt. "O real é muito beneficiado por esse quadro de valorização das commodities. A taxa real de juros muito elevada também ajuda. O dólar pode descer até R$ 4,90."

Segundo dados mais recentes da B3, os investidores estrangeiros ingressaram com US$ 1,680 bilhão na bolsa doméstica na quinta-feira, 17. Isso levou o saldo acumulado em março a R$ 12,611 bilhões. Em 2022, as entradas de capital externo somam R$ 75,231 bilhões.

Publicidade

"Ainda que não implique necessariamente em fluxo cambial, os dados disponíveis do balanço de pagamentos de investimentos em ações no país reforçam que houve, sim, entrada de divisas. E este continua sendo um 'driver' importante da apreciação cambial", afirma, em relatório, a economista-chefe da Armor Capital, Andrea Damico, ressaltando que, com a Rússia tendo perdido atratividade em razão da guerra na Ucrânia, consolidou-se um novo equilíbrio de fluxo global favorável ao Brasil, que "tem vocação exportadora das mais diversas commodities e ciclo de aperto monetário em estágio avançado".

O Citi observa, em relatório, que os fluxos para ativos domésticos têm sido elevados em 2022 e estão no maior nível para esse período do ano desde 2021. O banco vê possibilidade de que essa dinâmica se mantenha no curto prazo, já que investidores continuam a ter uma visão favorável para o real como uma moeda atrelada a commodities e com boa taxa de carregamento.

Além disso, observa o Citi, existe a expectativa por parte de investidores locais de que exportadores passem a internalizar recursos que têm mantido no exterior. "Essa visão tem impulsionado parte do otimismo com o real. Concordamos com isso e acreditamos que o caminho pode ser de retomada gradual dos fluxos comerciais ao longo do ano", afirma o Citi.

Dados divulgados nesta segunda-feira à tarde pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério da Economia mostram que a balança comercial brasileira registrou superávit comercial de US$ 2,427 bilhões na terceira semana de março de 2022 (14 a 20) - o que levou o saldo acumulado no mês a US$ 6,178 bilhões. No ano, a balança é superavitária em US$ 10,108 bilhões.

Publicidade
TAGS
Curtiu? Fique por dentro das principais notícias através do nosso ZAP
Inscreva-se