ENVIADA ESPECIAL A BELÉM - A perseguição do presidente Donald Trump às universidades americanas e o cancelamento de programas da Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional (USAID) estão entre os motivos que levaram a francesa Esther Duflo, vencedora do Prêmio Nobel de Economia em 2019, a decidir deixar os Estados Unidos. Ela e o marido, o indiano Abhijit Banerjee — também vencedor do Nobel — estão de mudança para a Suíça, onde vão liderar o Centro Lemann para Educação, Desenvolvimento e Políticas Públicas, financiado pelo empresário Jorge Paulo Lemann.
Segundo Duflo contou ao Estadão, o centro na Suíça vai trabalhar com pesquisas para o mundo todo, mas focará no Brasil. Estudos sobre como políticas públicas podem realmente solucionar problemas do País devem ser desenvolvidos no centro. Pesquisadores no Brasil deverão ser capacitados e ter acesso à pós-graduação na Universidade de Zurique — parceira do projeto.
Questionada se conheceu Jorge Paulo Lemann e sobre a opinião de seu patrocinador em relação à ideia de taxar bilionários para levantar recursos para a adaptação dos mais pobres às mudanças climáticas, Duflo disse não ter conversado sobre o assunto. "Eu não falei com ele sobre isso, mas ele definitivamente sabe sobre o assunto. Então, suponho que esteja confortável com o assunto", afirmou, após sua apresentação na COP-30.
A economista lidera hoje um centro de pesquisas sediado no MIT, nos EUA, que estuda formas de reduzir a pobreza. Batizado de J-PAL, o centro recebia recursos do USAID, cortados em janeiro por Trump.
"O MIT tem gerido uma situação muito difícil de uma forma muito boa. Todo o setor científico e todas as universidades estão sofrendo com as políticas do governo Trump. Mas estamos gerenciando", disse
Duflo destacou que a decisão de deixar os EUA não tem relação apenas com os cortes de verba, mas com a "atmosfera" no país. "Também acho que (me mudar) é importante em resposta ao que está acontecendo nos EUA. Acho importante que haja centros de excelência em outros lugares além dos EUA. Estaremos melhor posicionados para contribuir com nosso trabalho sobre pobreza e mudanças climáticas se criarmos uma comunidade internacional."
Duflo continuará com as pesquisas do J-PAL. Através desse centro, a economista tenta levantar recursos para criar o Amazon Livelihood Labs (Laboratórios de Sustento da Amazônia, em português). A intenção é que o laboratório estude políticas públicas e a implementação delas para reduzir a pobreza na região.
"É surpreendente que não tenhamos muito trabalho na Amazônia, e isso é realmente louco quando você pensa na importância da região. Esperamos mudar esse cenário e esperamos conseguir arrecadar dinheiro para isso, especialmente no Brasil", disse.
Sobre como está essa arrecadação de verba, Duflo afirmou que o trabalho começou agora. "Qualquer um dos seus leitores que estiver interessado em contribuir, esse é um momento muito bom. Mas há muito interesse. No J-PAL , temos uma grande experiência não só avaliando programas, mas garantindo que as lições sejam aplicadas nas políticas públicas. Achamos que o fato de termos uma lacuna na Amazônia é uma grande questão, e podemos resolvê-la."