As redes sociais estão nervosas. Muita gente irada com a autora Manuela Dias após saber da reviravolta reservada a Raquel (Taís Araújo).
A empresária perderá a Paladar por artimanha de Odete Roitman (Debora Bloch). Para se sustentar, voltará a fazer e vender sanduíches.
No X, Facebook e TikTok, surgiram incontáveis postagens de protesto. Acusam a autora de praticar racismo contra a mãe de Maria de Fátima (Bella Campos).
“Tá na cara que ela não gosta de ver preto vencendo, né”, comentou um internauta no perfil Mundo Negro. “A autora fez a Raquel preta para poder humilhar a personagem”, opinou outra seguidora.
Mais exemplos: “Branco adora ver preto na miséria mesmo”; “Manuela sempre fazendo o preto comer o pão que o diabo amassou”; “Pacto da branquitude”; “A preta só se lasca nessa novela”; “Pessoas negras têm que passar SEMPRE por processo de dor para gerar entretenimento”.
Compreende-se a paixão dos fãs de Raquel e Taís Araújo. Pela 1ª vez, uma protagonista preta da faixa das 21h da Globo é realmente admirada pelo público — esse mesmo contingente de noveleiros que, ressalte-se, rejeitou na sequência as negras Brisa (‘Travessia’), Aline (‘Terra e Paixão’) e Viola (‘Mania de Você’).
Não se pode esquecer que toda heroína de folhetim vive altos e baixos ao longo da trama. Faz parte da história e da estrutura da teledramaturgia.
Em ‘Rainha da Sucata’ (1990), Maria do Carmo (Regina Duarte) perdeu tudo e se tornou compradora de ferro-velho, dirigindo um caminhãozinho pela periferia de São Paulo.
‘A Favorita’ (2008) mostrou a rica Donatela (Claudia Raia) perder tudo e parar atrás das grades por um crime que não cometeu. No fim, ambas recuperaram a fortuna e ganharam um final feliz.
Esse é o ciclo recorrente para uma personagem principal: ascender, decair e dar a volta por cima.
A injustiça em rotular Manuela Dias de racista se mostra ainda maior ao analisarmos a relevância que ela dá à família de Consuelo (Belize Pombal) em ‘Vale Tudo’.
Tornou-se o principal núcleo de humor e lança questões sociais a debate, como educação financeira, crise no casamento longo e controle sobre os filhos. Não é pouca coisa: raras vezes um autor destacou tanto um grupo de pretos na principal faixa de audiência da Globo.
Em tempo: alguns internautas debochados disseram que Manuela Dias está se segurando para não fazer Raquel vender o doce do momento — morango do amor — nas praias cariocas. A ideia renderia boas cenas, certamente. A autora deveria aceitar a provocação.