Morre Haroldo Costa, ator e escritor, aos 95 anos

Artista ficou conhecido por sua trajetória com o Teatro Experimental do Negro, a Companhia Brasiliana e livros como 'Fala, Crioulo' e sobre a história do carnaval carioca

13 dez 2025 - 21h44
(atualizado às 22h41)

Haroldo Costa, ator e escritor, morreu neste sábado, 13, aos 95 anos de idade. A informação foi divulgada pela família em seu perfil de Instagram. "Em breve iremos dar as informações sobre velório e sepultamento", diz a nota, que não informa a causa da morte.

Haroldo Costa em foto tirada em 2001, por ocasião de seu lançamento de livro sobre história do carnaval carioca
Haroldo Costa em foto tirada em 2001, por ocasião de seu lançamento de livro sobre história do carnaval carioca
Foto: Fábio Motta/Estadão / Estadão

Filho de Eurides e Luiz Costa, Haroldo nasceu em 13 de maio de 1930, no Rio de Janeiro. Sua mãe morreu quando tinha apenas dois anos, e passou boa parte da infância em Maceió, no Estado de Alagoas. Lá, destacava a importância do calendário festivo folclórico da cidade para o desenvolvimento de seu interesse pela arte.

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Com cerca de 10 anos de idade, soube que voltaria para o Rio de Janeiro. Na capital do País, surgia também o despertar de outra de suas paixões, o carnaval, quando teve contato com as músicas carnavalescas que ouvia pelo rádio.

O ator Haroldo Costa

Chegou a trabalhar como balconista de livraria antes de dar os primeiros passos de uma trajetória de sucesso que teria nos palcos, em especial com o Teatro Experimental do Negro. A entrada nos palcos, porém, se deu por acaso.

Em depoimento ao Museu da Pessoa, Haroldo relata que recebeu do pai um panfleto sobre alfabetização para adultos junto ao Teatro Experimental do Negro. Foi lá para ajudar a ensinar, já que tinha uma boa formação escolar. Certo dia, o teatro ensaiava e um ator faltou. Costa foi chamado para ler sua parte, e acabou ficando com o papel. Era o personagem Peregrino, na peça O Filho Pródigo, de Lúcia Cardoso.

Haroldo de Costa em reportagem sobre a atualização de seu livro 'Fala, Crioulo', que ganhou nova versão, em 2009.
Foto: Marcos de Paula/Estadão / Estadão

No teatro, integrou o elenco de diversas peças ao longo das décadas, incluindo montagens de O Filho Pródigo, O Pagador de Promessas, Xica da Silva, O Auto da Compadecida, Orfeu do Carnaval e Orfeu da Conceição, da qual foi protagonista.

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Posteriormente, esteve entre os fundadores do Grupo dos Novos, que buscava ir além dos clássicos do grupo anterior. O nome ainda seria alterado para Teatro Folclórico Brasileiro antes de uma apresentação no Teatro Odeon que lhe abriria outra oportunidade marcante. Um empresário inglês buscava artistas para se apresentar num festival em Londres, e também uma turnê por outros países da América do Sul. "Mudamos o nome para Brasiliana porque o empresário chegou à conclusão de que Teatro Folclórico Brasileiro dava uma conotação muito acadêmica", explicava.

Com a Companhia Braisliana, da qual foi fundador, diretor artístico e bailarino, Haroldo Costa passou por dezenas de países em apresentações que se estenderam ao longo de cinco anos.

O escritor Haroldo Costa

Como escritor, publicou seu primeiro livro em 1982, intitulado Fala, Crioulo. A obra foi feita com base no depoimento de diversas pessoas negras a respeito da realidade brasileira.

Capa do livro 'Fala, Crioulo', de Haroldo Costa, em sua edição de 2009.
Foto: Marcos de Paula/Estadão / Estadão

"O Fala, Crioulo é um livro que nasceu logo depois da extinção do AI-5. Porque sempre me incomodou esse papo de democracia racial, essas coisas que se tem oficialmente e que não correspondem à verdade. [...] Eu peguei uma série de pessoas, algumas conhecidas, a maioria, não. Tem pivete, prostituta, tem tudo. Era para dar um espectro. E saiu o Fala, Crioulo", explicava.

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Haroldo Costa foi um grande entusiasta do carnaval. Entre os principais livros que escreveu, está 100 Anos de Carnaval no Rio de Janeiro (2001). Também foi escolhido como presidente de honra da Academia Brasileira de Artes Carnavalescas. Tinha um vínculo especial com o Salgueiro, desde 1963 - sobre a escola de samba, foi autor de Salgueiro: Academia de Samba (1984), Salgueiro - 50 Anos de Glória.Também escreveu para jornais como O Globo, Última Hora, Para Todos e Leitura.

Haroldo Costa em foto de 2009.
Foto: Marcos de Paula/Estadão / Estadão

Na televisão, trabalhou como diretor de programas como Musicalíssima, Oh, Que Delícia de Show, Dercy Espetacular, Discoteca do Chacrinha e Concertos Para a Juventude.

Em frente às câmeras, esteve no elenco de novelas da Rede Manchete como Kananga do Japão, A História de Ana Raio e Zé Trovão, e Amazônia na virada dos anos 1980 para 1990. Na Globo, esteve nas minisséries Chiquinha Gonzaga e Subúrbia.

No último mês de maio, Haroldo Costa comemorou 95 anos de idade, recebendo diversas homenagens. Até os últimos meses de vida, Haroldo Costa continuou dando diversas entrevistas a respeito de sua trajetória e seu conhecimento sobre as artes e o carnaval. É possível assistir à íntegra de uma delas, à TV Câmara do Rio de Janeiro, no YouTube. Confira abaixo.

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