Deboche da Globo com a Netflix envolve rivalidade e milhões

Plataforma de streaming que anuncia nos intervalos da emissora representa risco à soberania da televisão

28 jul 2021 - 11h03

Já que não tem graça provocar a Record e o SBT, por conta da estagnação das principais concorrentes, a Globo decidiu desdenhar sua nova grande rival, a Netflix.

Gil do Vigor foi escalado pelo Globoplay para cutucar a concorrente Netflix nos intervalos do horário nobre da TV
Gil do Vigor foi escalado pelo Globoplay para cutucar a concorrente Netflix nos intervalos do horário nobre da TV
Foto: Divulgação/TV Globo (Fotomontagem: Blog Sala de TV)

Nos últimos dias, a imprensa repercutiu o comercial do Globoplay exibido em horário nobre – inclusive no intervalo do ‘Jornal Nacional’, onde 30 segundos custam R$ 850 mil – com provocação à plataforma americana.

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No vídeo divulgado também em redes sociais, o streaming do Grupo Globo usa o aumento do custo de vida e a redução do poder de compra do brasileiro na pandemia (alô Bolsonaro, pegou a indireta?) para criticar o reajuste na mensalidade da Netflix.

“O gás está caro, a comida está cara, o combustível está caro. Num momento onde tudo está caro, ainda tem gente aumentando preço de streaming”, diz o locutor. “Ainda bem que o Globoplay garante a todos os seus assinantes atuais, e mais quem assinar até o final do ano, que não teremos reajuste de preço até 2023.”

Em uma das versões da propaganda, o humorista Paulo Vieira e o ex-‘BBB’ Gil do Vigor interagem. “N motivos para cancelar tudinho e ficar só com a gente”, afirma o economista pop. “N? Menino, que agora é barraco”, brinca o comediante.

O Globoplay acerta ao criar uma campanha conectada com a realidade econômica do País. A equipe de Marketing de Produtos e Serviços Digitais da Globo foi criativa na linguagem compreensível a todas as camadas sociais.

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Mas a cutucada na Netflix suscita uma questão ética, afinal, a gigante do streaming é anunciante regular nos intervalos da Globo e um dos patrocinadores das transmissões da Olimpíada de Tóquio. Comprou uma cota R$ 90 milhões, valor que representa quase 20% do faturamento total da emissora no evento esportivo.

“Negócios, negócios, competição à parte”, argumentaria um publicitário. Ok, anunciar na Globo não blinda a Netflix de ser alvo de deboche e contestação pelo canal carioca. Só que por trás dessa afronta há algo mais profundo.

A Netflix tem roubado cada vez mais telespectadores da TV aberta. Muita gente simplesmente deixou de assistir às novelas, telejornais e outros programas para consumir uma série atrás da outra no streaming – e repercutir o que viu nas redes sociais, produzindo publicidade espontânea à plataforma.

Hoje, a maior ameaça à poderosa Globo, líder isolada no Ibope, não são os demais canais de sinal aberto (todos com dificuldade de se reinventar artisticamente e pouco dinheiro para investimentos), e sim o catálogo quase infinito de produções de variados gêneros da inimiga ‘N’, como zoam no comercial.

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Mesmo sob ameaça, a emissora aceita promover a concorrente nos intervalos. Se até pouco tempo seria impensável a Globo exibir comerciais da Netflix e da Amazon Prime – plataformas que afetam cada vez mais a audiência da TV –, agora a realidade se impõe.

O canal da família Marinho não pode se dar ao luxo de recusar anunciantes. De 2019 a 2020, o faturamento do Grupo Globo caiu de R$ 14 bilhões para R$ 12,5 bilhões. O lucro despencou 77%, de R$ 752,5 milhões para R$ 167,8 milhões.

Conhecida por posts espirituosos em seus perfis nas redes sociais, a Netflix não deveria deixar o sarcasmo do Globoplay sem uma resposta à altura. Estamos diante do início de uma guerra – de memes, preços e promoções – entre titãs do entretenimento. Se acomode aí no sofá porque essa briga vai ser boa de acompanhar.

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