Rugido final: David Coverdale pendura as botas (e a calça de couro)

15 nov 2025 - 06h20
Resumo
David Coverdale, lendário vocalista do rock e líder do Whitesnake, anunciou aos 74 anos sua despedida definitiva dos palcos, encerrando uma carreira de mais de cinco décadas com um legado memorável no hard rock.
Foto: Divulgação

David Coverdale, a voz icônica que atravessou mais de 50 anos de história do rock, entre Deep Purple, Whitesnake e a colaboração com Jimmy Page, deu o seu adeus definitivo aos palcos, confirmando, de maneira quase protocolar, que é chegada a hora de "pendurar os sapatos plataforma e as calças de couro apertadas". Aos 74 anos, o anúncio veio com a pompa esperada para quem viveu uma jornada tão intensa quanto lendária, mas regado àquela ironia sutil de quem já lida com o show business há tempo suficiente para não se levar tão a sério. Brincou, inclusive, ter cuidado da "peruca de leão" que ostenta.

A declaração, no entanto, é a confirmação de uma longa e arrastada sinfonia de despedida. O último rugido do Whitesnake foi em junho de 2022, no Hellfest, na França, um golpe de misericórdia que se seguiu ao cancelamento do restante da turnê europeia por "desafios de saúde" de vários membros. O próprio Coverdale revelou em 2023 ter enfrentado a "pior infecção sinusal da vida", uma praga bíblica para um cantor, que o forçou a tomar antibióticos e "esteróides horríveis" por meses.

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A sabedoria de Coverdale, forjada na estrada, excessos e sucessos, o levou a aconselhar os companheiros de banda a buscar outros projetos, um toque sensato diante de um futuro incerto nos palcos. Mas a energia não se extinguiu; ela apenas mudou de palco, encontrando no trabalho de reedições e projetos de arquivo do Whitesnake uma nova fonte criativa que o faz sentir como "pássaros azuis voando para fora de cada orifício".

Enquanto a banda se despede com a balada "Fare Thee Well" — nome que, curiosamente, ganhou vida nova no relançamento de Forevermore, como se fosse um epitáfio ensaiado e remasterizado — resta a reverência a um dos grandes frontmen que definiu a estética e o som do hard rock. Mais a mais, o cara canta/va para cacete e o descanso é mais do que merecido.

Os 7 melhores do Whitesnake

Em ordem crescente de preferência, seguem os álbuns que traçaram a rota de David Coverdale e do Whitesnake, desde as raízes blues setentistas até o estrelato pop-metal oitentista. Uma história de reencarnações vocais que, na maioria das vezes, visava um único destino: dominar a América.

7. Come an' Get It (1981)

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Na quarta tentativa, o Whitesnake já dava sinais da rotina perigosa do hard rock burocrático, fabricado em série para o início dos anos 80. Os lampejos de inspiração ("Hot Stuff," "Don't Break My Heart Again") se esgotavam logo no Lado A. Apesar da pouca ressonância no mercado, a serpente ainda rastejava bem na Grã-Bretanha, alcançando um invejável 2º lugar, o melhor resultado da banda por ali até então.

6. Slip of the Tongue (1989)

Depois do acerto magistral do álbum de 1987, este soou como uma cópia carbono decepcionante, sem a mínima capacidade de surpreender ou emplacar hits. A chegada do guitarrista Steve Vai adicionou toda a ginástica shred que a época pedia, mas levou a banda (e Coverdale) ainda mais para longe daquele pântano blues de onde tudo começou. A reciclagem musical, neste caso, falhou: o remake de "Fool for Your Loving" (original de 1980) foi ofuscado pelo original, provando que nem sempre é possível reviver o passado com sucesso. O lado bom? Foi o grand finale de uma fase que permitiu a Coverdale engatar seu próximo projeto de alto risco, ao lado de Jimmy Page.

5. Saints & Sinners (1982)

Este é um marco, o último suspiro do Whitesnake pré-glamour. O quinto LP é notável por, ironicamente, servir como rascunho de luxo para o sucesso futuro: duas faixas foram retrabalhadas cinco anos depois, incluindo aquela que se tornaria a power ballad definitiva da banda, "Here I Go Again" — a estrutura fundacional já estava aqui, só faltava o verniz pop para o estrelato. O álbum representou o último vestígio daquela sonoridade crua de blues-rock que definiu a fase inicial da banda. Uma mudança era inevitável, e necessária.

4. Ready an' Willing (1980)

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Com a chegada do lendário baterista Ian Paice (ex-Deep Purple), este terceiro álbum flertou, em certos momentos, com a ressaca Deep Purple de final dos anos 70, graças à união de Coverdale e Jon Lord (tecladista). Ainda assim, o disco começa a traçar a identidade própria do Whitesnake, apresentando o grupo em seu formato mais turbulento e eficaz da primeira fase da carreira. "Fool for Your Loving" é o destaque que, como um mantra, Coverdale tentaria regravar em 1989, na busca por reacender a chama que só voltaria a brilhar com força total alguns anos depois.

3. Slide It In (1984)

O penúltimo antes do grande salto, o sexto LP marca a transição de Coverdale, que já estava de olho no mercado americano, trocando o blues por um som mais reto. O processo de "limpeza de imagem e som" começou aqui, resultando numa versão americana com guitarras regravadas e uma mixagem pop. O solo de "Slow an' Easy" funciona como o teaser perfeito para o que viria a ser o Whitesnake hitmaker de 1987. A renovação do elenco por músicos mais jovens e vistosos era apenas a próxima etapa da ascensão.

2. Good to Be Bad (2008)

O Whitesnake precisou de mais de uma década para lançar este que é um autêntico exercício de ressurreição. É o primeiro álbum a soar como uma banda de verdade desde 1989, e traz Coverdale de volta à fórmula clássica do hard rock. O novo time destila riffs com a crueza do Led Zeppelin e o charme glam do Whitesnake em seu auge. 

1. Whitesnake (1987)

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O alinhamento dos astros para o Whitesnake. Após anos de batalha inglória, a banda se tornou um sucesso instantâneo, se bem que uma década após sua formação. Com uma formação reformulada – onde a química com o guitarrista John Sykes rendeu algumas das melhores composições de Coverdale – e uma produção impecável, o álbum atingiu o ponto de equilíbrio perfeito. O relançamento da música "Here I Go Again" se transformou numa versão que alcançou o 1º lugar, e "Is This Love" definiu o que era uma power ballad oitentista. A assimilação do DNA Led Zeppelin em "Still of the Night" é a prova de que Coverdale finalmente chegou lá (onde queria). O álbum chegou à 2ª posição nos EUA e solidificou o Whitesnake como um fenômeno global.

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