Operação contra streaming pirata no Brasil reacende debate sobre acesso desigual a conteúdos audiovisuais, preços altos e a falta de preservação cultural em plataformas legais.
No início de novembro, uma grande operação coordenada pela Anatel no Brasil, em parceria com órgãos da Argentina, resultou no fechamento de vários servidores usados por serviços de streaming piratas, como o popular My Family Cinema. A ação representa mais um passo importante no combate à pirataria digital no país. Mas, ao mesmo tempo, reacende um debate crucial: por que esses serviços ilegais continuam tão populares?
O problema vai além da mera oferta de conteúdo ilegal. O Brasil conta hoje com uma infinidade de plataformas oficiais de streaming, mas, mesmo para quem tenta ser usuário exemplar, é impossível pagar por todas e, ainda assim, acessar toda a vasta produção audiovisual. Há uma enorme quantidade de filmes e séries – muitos clássicos inclusive – que simplesmente não estão disponíveis legalmente no Brasil. Isso faz com que a pirataria permaneça como a única alternativa para acessar títulos raros e obras esquecidas pelo mercado.
Outro ponto destacado é o fator financeiro: nos serviços pirateados, por um único valor o usuário tem acesso a praticamente todo o conteúdo – inclusive os clássicos que não existem em streaming oficial. Já para acessar catálogos legais, seria preciso assinar múltiplas plataformas, muitas vezes sem conseguir encontrar determinados títulos.
Porém, ao recorrer à pirataria, surgem sérios riscos: desde exposição a vírus e golpes digitais, até o fato de que produtores, artistas e empresas não recebem pelos seus direitos autorais. O debate, portanto, não é apenas legal, mas também cultural e econômico. Urge que os amantes de filmes e séries pressionem as plataformas legais por um catálogo mais amplo e pela preservação da memória audiovisual. Não basta só ter a série da semana, é preciso garantir a perpetuação do conteúdo para as novas gerações. Só assim a pirataria pode acabar – e, de preferência, com um preço mais em conta.
A discussão está aberta, e o futuro do acesso ao entretenimento depende do equilíbrio entre combate à pirataria e oferta acessível e completa aos espectadores brasileiros.
(*) Rodrigo James é jornalista, criador de conteúdo e publica semanalmente a newsletter MALA com notícias, críticas e pensatas sobre cultura pop e entretenimento.