Quando o AC/DC lançou The Razors Edge (1990) em setembro de 1990, ninguém esperava encontrar uma canção natalina no meio de guitarras estridentes e vocais rasgados. Mas a faixa "Mistress for Christmas" se destacou justamente por isso — e por seu pano de fundo curioso: inspirada nas manchetes sobre o então empresário Donald Trump e sua vida pessoal, antes dele entrar para a política.
No final dos anos 1980 e início dos anos 1990, Trump era muito citado na mídia por seus negócios imobiliários e seus relacionamentos extraconjugais, em particular seu caso com a modelo Marla Maples enquanto ainda era casado com Ivana Trump. Enquanto a banda se preparava para lançar o álbum, esses tabloides inspiraram os integrantes — especialmente Angus Young — a imaginar com humor o que seria passar o Natal como um playboy mimado.
De forma irônica e irreverente, as letras de "Mistress for Christmas" refletem esse espírito satírico, misturando referências natalinas com rimas ousadas sobre festas, relações e excessos ("Dinheiro para gastar com D maiúsculo / Quero estar no Paraíso com três numa cama"), mantendo a estética sonora que os fãs do AC/DC esperam: guitarras potentes e vocais ruidosos, sem suavizar o estilo nem para o clima festivo.
Apesar do tom divertido, a música nunca foi pensada como uma crítica profunda ou uma obra séria de arte: foi descrita pelos próprios membros da banda como uma espécie de brincadeira musical, algo que surgiu espontaneamente durante as sessões de composição e gravação do álbum — um "ol' fool-around", nas palavras de Angus Young.
"De vez em quando a gente sempre tem um tempinho pra fazer umas brincadeiras", lembrou Young em entrevista à Guitar World. "Essa música é sobre Donald Trump. Ele era notícia na época, então pensamos em fazer uma brincadeira com isso", continuou.
"Mistress for Christmas" se tornou um dos destaques mais curiosos de The Razors Edge, tanto por sua temática incomum quanto pela polarização entre fãs: enquanto alguns a consideram uma peça divertida no catálogo da banda, outros a veem como uma curiosidade que nunca chegou a fazer parte das turnês ao vivo do AC/DC.
The Razors Edge (1990): retorno ao topo do rock e legado de uma era
Lançado em 24 de setembro de 1990, The Razors Edge é considerado um dos álbuns mais importantes do AC/DC, marcando o retorno da banda ao centro das atenções do rock mundial após um período de mudanças e desafios na década de 1980.
O disco foi produzido por Bruce Fairbairn e gravado no Little Mountain Sound Studios, em Vancouver, apresentando clássicos como "Thunderstruck", "Moneytalks" e "Are You Ready" — faixas que ajudaram a consolidar o som característico da banda ao mesmo tempo em que atraíam novos fãs e consolidavam sua presença nas paradas de sucesso internacionais.
Apesar de ter recebido críticas mistas a positivas, elogiando a energia renovada e a performance de Brian Johnson e Angus Young, The Razors Edge (1990) vendeu cerca de 18,8 milhões de cópias mundialmente, tornando-se um dos álbuns mais vendidos da carreira do grupo, atrás apenas de Back in Black (1980) e High Voltage (1975).
No álbum, "Mistress for Christmas" é muitas vezes lembrada não apenas pela sua temática peculiar, mas também como exemplo da capacidade do AC/DC de misturar humor e rock pesado, algo que fez parte de sua identidade ao longo de décadas. Mesmo que a banda nunca tenha tocado essa faixa ao vivo, ela permanece uma curiosidade marcante entre fãs e críticos.
E mesmo décadas após seu lançamento, The Razors Edge (1990) — com todas as suas ironias e sons potentes — continua a ser revisitado como um momento de renovação para uma das maiores bandas de hard rock de todos os tempos.