“Um dia sem rir é um dia desperdiçado”, escreveu o autor de comédias francês Sébastien-Roch Chamfort.
Na visão dele, o ser humano sempre tem infindáveis motivos para se entristecer, mas deve optar pela alegria. Nem que seja rir de si mesmo.
É a nova filosofia de vida do humorista e apresentador de podcast David Castilho.
Conforme a coluna mostrou em matéria anterior (veja post destacado), ele se submeteu à amputação do pé direito em consequência de uma infecção agravada pelo diabetes.
O longo tratamento o afasta das atividades profissionais. Para pagar o tratamento, criou uma vaquinha pelo Pix (Chave 27925615800). As contribuições serão usadas também para a compra de uma prótese.
David conversou novamente com a coluna. Desta vez, a respeito da presença de PcDs (pessoas com deficiência) no mundo do humor e da importância do riso na recuperação.
Humoristas PcDs estão em ascensão. Entre eles, Pequena Lô, Tata Mendonça e Vini Santos, que participaram do ‘Falas de Acesso’, na Globo, em setembro. O que acha desse movimento?
Eu conheço a Tatá e o Vini, entrevistei os dois em meu programa. Sou amigo também do Jeffinho Farias. Um dos meus grandes amigos é humorista e PcD, o Paulo Fabião, um cara que tem me ajudado muito com sua amizade e preocupação. Eu acho todos eles incríveis e fundamentais, tanto para promover o humor PcD quanto para alertar sobre a falta de acessibilidade a teatros e clubes de comédia.
Você se vê parte deste grupo de comediantes que inserem a própria deficiência nas piadas? Conseguirá rir e fazer rir com seu exemplo?
Quem me visita tem se alegrado em ver a maneira leve com que estou lidando com meu drama. Eu já tenho feito piada com isso e com o tempo farei ainda mais. Como é algo muito recente, eu ainda não me considero parte dessa turma, tenho que me entender como PCD, mas essa aproximação deve acontecer em algum momento, principalmente por eu já conhecê-los.
Pensa em se tornar um ativista dos direitos dos PcDs na mídia?
Eu sou palestrante e agora me torno um palestrante PcD. Já tenho pensado em falar sobre isso, dividir minha experiência. Não sei se isso fará de mim um ativista, mas como vou falar sobre o tema, vou querer ser ouvido!
Pretende lutar contra quem associa os PcDs ao vitimismo ou age com capacitismo, oprimindo e segregando?
Por ter amigos PcDs, eu conheço um pouco, bem pouco, sobre essa dor. Agora, terei a minha vivência e vou experimentar minhas próprias dores, o preconceito e os julgamentos. Não tenho a menor ideia de como vou reagir diante disso. Vamos aguardar.
Alguns cientistas defendem a ‘Terapia do Riso’, que seria capaz de modular a dor e reduzir o estresse e a depressão. Neste momento, o bom humor tem sido importante para enfrentar o desafio na saúde?
Eu me tornei humorista por causa do bullying que sofri a vida toda por ser gordo. Consegui transformar a minha dor em riso e em piadas. O humor sempre foi uma cura pra mim e, mais uma vez, tem sido assim.
Após colocar a prótese e conseguir novamente caminhar sozinho, qual será o primeiro passeio que pretende fazer?
Eu quero ir pro samba com minha esposa e minha filha. Um dia antes de me machucar, eu e minha esposa sambamos em casa, sozinhos, felizes... E a gente não para de pensar nesse dia. Vou testar a prótese numa roda de samba aqui em Jundiaí, não vejo a hora.