Pedro Bial relata que família cogitou suicídio assistido da mãe: 'Ela não tinha mais prazer nenhum'

Jornalista falou sobre a despedida da mãe aos 101 anos e refletiu como seu novo livro o fez reviver o processo de luto

25 nov 2025 - 12h47
(atualizado às 13h47)
Resumo
Pedro Bial revelou que sua família considerou o suicídio assistido para sua mãe, que aos 101 anos manifestava desejo de abreviar o sofrimento; o jornalista também refletiu sobre a longevidade e o processo de luto, inspirado pela escrita de seu novo livro.
Pedro Bial e sua mãe, Susanne
Pedro Bial e sua mãe, Susanne
Foto: Reprodução | Instagram

O apresentador e jornalista Pedro Bial viveu o processo de morte da própria mãe ao mesmo tempo em que escrevia seu novo livro, Isabel do vôlei da vida: a onda mais alta de Ipanema, sobre a atleta carioca que morreu repentinamente em 2022. Em entrevista à repórter Maria Fortuna, no videocast Conversa vai, conversa vem, do jornal O Globo, ele contou detalhes da despedida da psicanalista Susanne Bial, que morreu em julho, aos 101 anos, e revelou que a família chegou a cogitar a possibilidade de suicídio assistido para atender ao pedido da mãe de abreviar o sofrimento.

Segundo Bial, mergulhar na história de Isabel acabou levando-o inevitavelmente para sua própria trajetória. "Não percebi isso no início, mas logo vi que estava contando muito da minha história. Quando descrevo aquela Ipanema, as influências que ela sofreu, é a minha vida. Isso foi me permitindo. O raciocínio muitas vezes nos trai, é infiel aos sentimentos. Você dá nomes, conceitua e não diz o que está sentindo. Como repórter, eu escrevia com o corpo todo", afirmou. 

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A escrita, segundo ele, também era guiada pelas emoções. “A gente tenta se conformar à linguagem estabelecida, mesmo que, de vez em quando, subverta. No caso desse livro, não tinha que me conformar a nada. Então, me entreguei totalmente a um discurso emotivo, sem medo dos sentimentos.”

Bial ainda afirmou que, na visão dele, a morte de Isabel será para sempre recente, por ter sido precoce. Ao mesmo tempo, ele vivia o processo de despedida de sua mãe, que morreu em julho aos 101 anos, um dia após fazer aniversário. "Mas [ela] já vinha pedindo para ir. Estava conversando sobre isso com ela, buscamos maneiras de abreviar. O Brasil tem essa lei defasada com relação à modernidade... Agora, o Uruguai já deu um passo, como sempre à frente do resto da América Latina", contou o jornalista.

De acordo com ele, a mãe chegou a pedir ajuda para morrer. O apresentador conta que ela já não tinha mais prazer na vida -- adorava ler, mas não conseguia, enfrentava as limitações da idade --, e se via apenas sendo mantida viva. "A gente pensou em fazer um suicídio assistido na Suíça. Por um motivo ou outro isso não se deu. Fomos cuidar dos paliativos, que é o jeito de deixar uma pessoa morrer dignamente. Ela era uma fortaleza. Nos paliativos, teve uma pneumonia. Pensamos: 'Não vamos dar antibiótico, nada. Se for a pneumonia, vai levar'. Ficou boa. Falei para ela: 'Você só batendo a tiros'. Isso é um outro livro...".

Antes de seguir com o relato, ele refletiu sobre como essa experiência o transformou. “Mas tudo isso me levou a ter a clareza de que todos nós, com os recursos que a medicina contemporânea nos dá, a vida estendida que se promete, vamos nos defrontar com essa questão. Como a gente quer morrer? Não é mais algo abstrato.”

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Depois, aprofundou a reflexão sobre as escolhas e limites da longevidade. “Quero viver muito tempo, mas como? Chega uma hora que é muito indigno ser mantido vivo e já não ter prazer nenhum. E claro que mesmo com um desejo de ir embora, dá um medo danado. Mesmo que não seja o medo da morte, como diz o [Gilberto] Gil, o medo de morrer. Porque morrer ainda é aqui. Morrer é ainda estar vivo”, disse ele.

Fonte: Portal Terra
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