De maldição a tarifaço: os motivos que podem tirar ‘O Agente Secreto’ da corrida pelo Oscar 2026

Filme brasileiro está bem cotado pelas revistas especializadas a brigar pela estatueta mais desejada do cinema

9 nov 2025 - 05h00
Resumo
O filme "O Agente Secreto", de Kleber Mendonça Filho, enfrenta desafios como concorrência acirrada, fatores geopolíticos e a “maldição” do diretor, além de barreiras econômicas, que podem dificultar sua indicação e vitória no Oscar 2026.
Após vitórias em Cannes, diretor de 'O Agente Secreto' fala sobre sonho e 'pressão' por novo Oscar
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O Agente Secreto, novo filme de Kleber Mendonça Filho, estreou nesta semana em diversos cinemas do País. Após o estrondoso sucesso de Ainda Estou Aqui (Globoplay), de Walter Salles, o longa-metragem surge como a nova aposta do cinema nacional para o Oscar 2026.

Antes mesmo de sua estreia oficial, O Agente Secreto se tornou um sucesso de bilheteria. De acordo com levantamento do Comscore, o filme figura entre os dez mais assistidos do Brasil pela segunda semana consecutiva, graças às sessões antecipadas. Até o momento, já arrecadou cerca de R$ 1,36 milhão e foi visto por mais de 58 mil espectadores.

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Apesar do fervor brasileiro em torno da obra, há chances de a corrida pelo Oscar 2026 não ter um final feliz. Da “maldição” que ronda o nome de Kleber Mendonça Filho a fatores geopolíticos e mercadológicos, O Agente Secreto, mesmo celebrado internacionalmente — assim como Ainda Estou Aqui (Globoplay) —, pode não resultar na redenção que os fãs tanto aguardam.

Concorrência desenfreada

Wagner Moura posa para ensaio fotográfico em Zurique
Wagner Moura posa para ensaio fotográfico em Zurique
Foto: Reprodução Instagram | @kleber_mendonca_filho

Embora tenha sido selecionado pela Academia Brasileira de Cinema para representar o País no Oscar 2026, a disputa internacional é acirrada. Dezenas de países também também irão submeter filmes para tentar disputar um espaço na categoria de Melhor Filme Internacional, e a maioria das obras vem sendo igualmente elogiada pela crítica especializada. Nesse cenário, O Agente Secreto corre o risco de ter sua atenção dividida entre outros títulos de peso. A fragmentação dos votos pode resultar na exclusão do Brasil da lista final --uma situação comum na corrida pelo prêmio mais prestigiado do cinema mundial.

Lacuna crítica

Wagner Moura e Kleber Mendonça Filho em Zurique
Foto: Reprodução Instagram | @kleber_mendonca_filho

Mesmo que o longa conquiste uma vaga na categoria de Melhor Filme Internacional --ou até mesmo em Melhor Filme e Melhor Ator, o que seria merecido--, há um obstáculo recorrente: muitos membros votantes da Academia simplesmente não assistem a todos os filmes indicados. Esse fator, inclusive, foi apontado como um dos motivos que contribuíram para que Fernanda Torres não levasse a estatueta na cerimônia do Oscar de 2025.

De acordo com veículos especializados, como a Variety, o volume de obras submetidas é tão alto que se torna humanamente impossível para todos os jurados concluírem as exibições. Por isso, a campanha de marketing desempenha um papel crucial: quanto mais visibilidade um filme tem, maiores são as chances de ser realmente assistido --e, consequentemente, votado. No entanto, mesmo com ampla circulação em festivais internacionais e exibições em cinemas norte-americanos, nada garante a vitória.

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O “efeito da sequência”

Fernanda Torres usa vestido de estilista belga para o Globo de Ouro
Foto: Reprodução | @shayan.asgharnia

O sucesso de Ainda Estou Aqui, em 2025, marcou uma vitória histórica para o cinema brasileiro. Mas o triunfo também traz um desafio: o chamado “efeito sequência” --fenômeno em que os eleitores da Academia tendem a pensar “De novo? Isso já foi feito”.

Para quebrar esse ciclo, não basta repetir a fórmula de sucesso. É preciso apresentar algo excepcional e disruptivo, capaz de renovar o encantamento e surpreender os votantes. Caso contrário, o novo representante brasileiro pode acabar ofuscado pela sombra do sucesso anterior.

O tarifaço de Donald Trump

Wagner Moura posa para ensaio fotográfico em Zurique
Foto: Reprodução Instagram | @kleber_mendonca_filho

Para conquistar uma estatueta do Oscar, não basta qualidade cinematográfica — Fernanda Torres é prova viva de que também é necessário investir em uma campanha de marketing robusta: turnês de divulgação, apoio da crítica, presença em festivais de prestígio e exibição em cinemas dos Estados Unidos.

O problema é que, em 2025 e 2026, essa missão ficou mais difícil. O presidente Donald Trump impôs um tarifaço de 100% sobre filmes estrangeiros, medida que visa privilegiar produções norte-americanas e desestimular a entrada de obras internacionais no país.

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Anunciada em maio de 2025, a medida gerou protestos na indústria cinematográfica. O produtor argentino Axel Kuschevatzky, vencedor de diversos prêmios, declarou à agência France Presse: “Há questões processuais que não são claras, porque, por exemplo, sabemos que as tarifas se aplicam apenas a bens, e não a serviços. Na realidade, a produção audiovisual é um serviço.”

Com o novo cenário econômico, O Agente Secreto tende a enfrentar maiores barreiras para penetrar no mercado norte-americano do que seu antecessor, o que pode ser decisivo em sua trajetória rumo ao Oscar.

A maldição do diretor

Wagner Moura e Kleber Mendonça Filho em Zurique
Foto: Reprodução Instagram | @kleber_mendonca_filho

Por mais que Kleber Mendonça Filho seja um dos cineastas mais respeitados e premiados do Brasil, há uma superstição silenciosa que o acompanha nas temporadas de premiações: a chamada 'maldição do diretor', que parece afastá-lo do Oscar – e que quase se repetiu.

O pernambucano já foi preterido duas vezes pela Academia Brasileira de Cinema, mesmo com produções amplamente celebradas no exterior --Aquarius (2016) e Bacurau (2019). Ambas foram destaque em festivais de prestígio, mas ficaram de fora da disputa por Melhor Filme Internacional.

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Com O Agente Secreto, o fantasma quase retornou. Após o estrondoso sucesso do longa no Festival de Cannes, em 2025, o filme entrou na lista de pré-selecionados da comissão responsável por escolher o representante brasileiro no Oscar. Nos bastidores, porém, surgiram rumores de que a obra seria novamente descartada --desta vez em favor de Manas, produção apoiada por mais de 70 empresas e considerada “mais comercial”.

A polêmica mobilizou cineastas, críticos e fãs, que acusaram a Academia de abuso político e de favorecer interesses de mercado em detrimento do mérito artístico. O debate foi tão intenso que, em setembro, a instituição recuou, e o filme foi finalmente confirmado como o escolhido do Brasil. Mesmo assim, o episódio reforçou a crença na “maldição” de Mendonça Filho: um cineasta aclamado em Cannes, Berlim e Veneza, mas que, curiosamente, encontra sempre algum obstáculo quando o assunto é o Oscar.

Claro, talvez O Agente Secreto consiga quebrar a superstição -- esperamos que sim. Mas se o passado insistir em se repetir, o Brasil acordará mais uma vez com as mãos vazias e com a sensação de déjà vu.

Fonte: Portal Terra
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