Mosca‑branca no Brasil: a praga que ameaça nossas safras

Descubra por que a mosca‑branca é uma grande praga no Brasil, como identificar infestações e proteger suas plantações de danos severos

16 dez 2025 - 10h00

A presença da mosca-branca em lavouras brasileiras tem sido motivo constante de preocupação entre agricultores e técnicos. Esse pequeno inseto, quase sempre imperceptível a olho nu no início da infestação, pode comprometer seriamente a produtividade de diversas culturas, como soja, feijão, tomate, algodão e hortaliças em geral. A combinação de clima favorável, alta capacidade de reprodução e dificuldade de controle ajuda a explicar por que a mosca branca é considerada uma das principais pragas do país.

Nos últimos anos, a expansão de áreas agrícolas, o uso intenso de defensivos e as mudanças climáticas criaram um ambiente ainda mais propício para o avanço desse inseto. Em muitas regiões, surtos de mosca branca têm provocado perdas significativas de produção e aumento de custos com controle. Esse cenário afeta tanto grandes produtores quanto agricultores familiares, impactando a cadeia de alimentos e a economia local.

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O que é a mosca-branca e por que ela preocupa tanto?

A chamada mosca-branca, apesar do nome, não é uma mosca verdadeira, mas um inseto sugador que se aloja principalmente na parte inferior das folhas. Existem várias espécies, mas uma das mais problemáticas no Brasil é a Bemisia tabaci, que se adapta com facilidade a diferentes cultivos e ambientes. O ciclo de vida curto, que pode ser completado em poucas semanas, permite o surgimento rápido de várias gerações ao longo do ano.

Esse inseto preocupa porque se alimenta da seiva das plantas, enfraquecendo-as de forma progressiva. Em alta população, a praga provoca amarelamento das folhas, queda precoce, redução do crescimento e menor formação de frutos ou grãos. Em muitas lavouras, a mosca branca também é associada a falhas de pegamento, plantas menores e desuniformidade na área, o que prejudica diretamente a produtividade.

Além do dano direto, a mosca-branca é uma das principais transmissoras de viroses nas lavouras – depositphotos.com / utkarsh07
Além do dano direto, a mosca-branca é uma das principais transmissoras de viroses nas lavouras – depositphotos.com / utkarsh07
Foto: Giro 10

Por que a mosca-branca é uma grande praga no Brasil?

A principal razão de a mosca-branca ser considerada uma grande praga no Brasil está na soma de três fatores: amplitude de hospedeiros, transmissão de viroses e resistência a produtos químicos. Esse inseto consegue sobreviver em diversas plantas cultivadas e também em plantas daninhas, o que mantém a população ativa durante praticamente todo o ano. Assim, mesmo entre uma safra e outra, o inseto encontra abrigo e alimento em bordas de lavoura, matas próximas ou pequenos plantios.

Outro ponto central é a capacidade da mosca branca de transmitir vírus que causam doenças em culturas importantes. Em tomate, feijão e outras hortaliças, viroses associadas à presença desse inseto podem reduzir de forma drástica a produção comercializável. Muitas vezes, o dano indireto causado pelos vírus é mais severo do que o prejuízo pela sucção de seiva em si.

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Além disso, o uso repetido de inseticidas com o mesmo modo de ação ao longo dos anos favoreceu o desenvolvimento de populações resistentes. Em algumas regiões, produtores relatam menor eficiência de produtos que antes apresentavam bom resultado. Esse quadro obriga o uso de misturas ou doses mais altas, elevando custos e riscos ambientais, sem garantir, em certos casos, o controle desejado.

Quais são os principais danos causados pela mosca-branca?

Os prejuízos associados à mosca branca podem ser divididos em três grandes grupos. O primeiro é o dano direto pela sucção de seiva. O inseto enfraquece a planta, reduz a fotossíntese e compromete o desenvolvimento. Em cultivos como soja e algodão, por exemplo, isso pode significar menor enchimento de grãos e fibras de qualidade inferior.

  • Redução de vigor e crescimento das plantas;
  • Menor número e tamanho de frutos ou vagens;
  • Amarelamento e queda antecipada de folhas;
  • Desuniformidade na lavoura e falhas de produção.

O segundo grupo de danos está ligado à produção de honeydew, uma substância açucarada que o inseto excreta sobre as folhas e frutos. Esse material favorece o desenvolvimento de fungos conhecidos como fumagina, que formam uma camada escura sobre a superfície vegetal. Essa "sujeira" reduz ainda mais a capacidade de fotossíntese e, em hortaliças e frutas, afeta o aspecto visual, diminuindo o valor comercial.

O terceiro e mais crítico dano é a transmissão de viroses. Em algumas culturas, a simples presença do vírus pode tornar o produto impróprio para venda, mesmo que a planta ainda esteja em pé. Tomateiro, pimentão, feijão e mandioca estão entre os cultivos mais impactados por doenças virais veiculadas pela mosca branca em diferentes regiões do país.

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O manejo integrado é essencial para reduzir o impacto da mosca-branca e evitar resistência a inseticidas – depositphotos.com / olko1975
Foto: Giro 10

Como é feito o manejo da mosca-branca nas lavouras?

O controle dessa praga no Brasil é baseado em manejo integrado, que combina diferentes estratégias para manter a população abaixo do nível de dano econômico. Em geral, recomenda-se evitar a dependência exclusiva de produtos químicos, justamente por causa do risco de resistência. O ponto de partida costuma ser o monitoramento frequente da lavoura, com inspeções visuais e armadilhas adesivas amarelas para detectar a presença precoce do inseto.

  1. Escolha de variedades e época de plantio: sempre que possível, opta-se por cultivares mais tolerantes a viroses e por janelas de plantio que reduzam a coincidência com picos populacionais da praga.
  2. Manejo de plantas daninhas: o controle de hospedeiros alternativos nas bordas da lavoura ajuda a diminuir refúgios da mosca-branca.
  3. Uso racional de inseticidas: alternam-se produtos com diferentes modos de ação, seguindo orientação técnica e respeitando períodos de carência.
  4. Controle biológico: em várias regiões já se utiliza, de forma crescente, inimigos naturais como vespinhas parasitoides e fungos entomopatogênicos.
  5. Boas práticas culturais: rotação de culturas, destruição de restos de plantas após a colheita e espaçamentos adequados reduzem a pressão da praga.

Em 2025, o debate sobre mosca branca também envolve sustentabilidade. Pesquisas públicas e privadas buscam soluções que conciliem produtividade com menor impacto ambiental, como bioinsumos, variedades mais resistentes e sistemas de produção que favoreçam o equilíbrio entre pragas e inimigos naturais. Dessa forma, o desafio não se limita a eliminar o inseto, mas a conviver com ele em níveis que não inviabilizem a produção agrícola no país.

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