A Pantone se manifestou. E a cor do ano de 2026 é... o branco.
Mais precisamente, um off-white fofo chamado Dançarino das Nuvens, com tom de creme de baunilha. Mais do que uma tendência de decoração, ele se parece com o interior de um marshmallow.
Mas será que um tom acromático como este pode capturar o estado de espírito global? Bem, o professor de ciência das cores Stephen Westland, da Universidade de Leeds, no Reino Unido, não se convenceu.
Para ele, "a cor do ano é um artifício para promover interesses comerciais".
"A Pantone é o organismo de previsão mais conhecido, mas existe pelo menos uma dúzia de outros que escolhem uma cor do ano e eles normalmente não se põem de acordo."
De fato, a WGSN, outra empresa de previsão de tendências, proclamou há algum tempo o verde-azulado como sua cor do ano de 2026. E outros especialistas em design defendem que os tons terrosos serão populares no ano que vem.
Ou seja, nenhum deles nos ajuda a decidir qual cor de tinta devemos usar na nossa sala de estar.
O Dançarino das Nuvens agora faz parte de uma longa tradição de nomes de tinta que variam entre o peculiar e o absurdo — uma estratégia de marketing que, por si só, se transformou em uma forma de arte.
A fábrica de tintas britânica Farrow & Ball já nos deu cores como Salmão Morto, Hálito de Elefante, Arsênico e o clássico e saboroso Marrom-Brócolis.
E não para por aí. O fabricante americano Benjamin Moore oferece Queijo Nacho, Robô Perigoso Dunn-Edwards... e a lista fica ainda mais estranha daqui em diante.
As marcas criam estes nomes abstratos porque são sugestivos e fáceis de memorizar, não por descreverem a cor, mas porque vendem o clima que elas oferecem.
A cor como forma de expressão
A Pantone defende sua decisão de escolher um tom branco chantili como a cor do ano de 2026.
"O Dançarino das Nuvens expressa nossa aspiração por um futuro livre dos excessos e da toxicidade", declarou à BBC a diretora-executiva do Instituto Pantone das Cores, Lee Eiseman.
Em um mundo saturado pelo ruído e pela hiperconectividade, a Pantone afirma que o branco é a solução, a limpeza do terreno; uma aterrissagem suave para as mentes superestimuladas.
As cores nos moldam mais do que imaginamos.
Erguer as cortinas para apreciar o céu azul, não as nuvens cinzentas, pode alterar nossa perspectiva. E escolher uma blusa rosa em vez de preta revela mais sobre os nossos sentimentos do que pretendemos.
O clima e o estado de espírito moram no centro de qualquer paleta interna. Mas seguir a última tendência, de fato, garante a felicidade doméstica?
"A cor é uma linguagem, uma forma de expressão", afirma a vice-presidente do Instituto Pantone das Cores, Laurie Pressman.
Para ela, selecionar a cor do ano não é questão de ditar tendências, mas sim de capturar "o estado de espírito subliminar global".
A Pantone emprega um exército de "antropólogos das cores". Eles analisam a cultura, moda, arte, cinema, viagens e exibições, incorporando percepções e inspiração das ruas de cidades como São Paulo, Tóquio, Londres e Nova York.
E, com 2025 chegando ao seu final, suas conclusões indicam um mundo sobrecarregado pelo constante ruído e hiperconectividade, com uma mudança coletiva rumo à serenidade.
"Vivemos em uma cultura do alvoroço, 24 horas por dia, sete dias por semana", prossegue Pressman.
"Com os estímulos vindo para nós de todas as direções, procuramos alívio e desconexão. As cores ficam mais suaves, refletindo nosso desejo de simplicidade e autenticidade."
Mas quais tons oferecem o melhor caminho para a harmonia interior?
1. O Dançarino das Nuvens
A cor do ano de 2026 da Pantone — Dançarino das Nuvens — remete à imagem de nuvens brancas fofas e pretende induzir sentimentos de vastidão.
"Ela nos convida para um espaço onde as funções e os sentimentos são interligados, para construir atmosferas de serenidade e amplitude", explica Eiseman.
Culturalmente, o branco é sinônimo de novos começos e vestidos de noiva. A página em branco é o prelúdio de um novo poema ou desenho.
A cor branca serve de refúgio visual. Ela representa a essência da roupa de cama limpa esvoaçando.
Eiseman e Pressman concordam que o branco é versátil, estético e atemporal, combinando facilmente com tons pastéis, além do seu total contraste com o preto. E também serve de apoio para tons mais brilhantes, fornecendo essencialmente "uma base limpa e moderna, com espaço para trabalhar".
2. Verde-azulado
"O verde-azulado é um tom que defende a importância de colocar a Terra em primeiro lugar", defende o organismo previsor de tendências WGSN, que indicou este tom como sua cor de 2026.
Sua visão é que o tom marítimo reflete o desejo de conexão com as cores encontradas na natureza.
Sua chefe de interiores, Gemma Riberti, afirma que o verde-azulado, na intersecção entre a terra e o oceano, "incorpora a restauração e o escapismo", capturados em uma lata de tinta.
O CEO (diretor-executivo) da marca de tintas Mylands, Dominic Myland, concorda. Para ele, "os tons verde-azulados se tornarão ainda mais proeminentes, pois são calmantes e de fácil decoração".
O banheiro saturado com verde-azulado da imagem ilustra esta questão. Equivalente visual de um abraço aquático, o cômodo é embebido pela pintura das paredes, marcenaria e teto, todos da mesma cor.
"As pessoas buscam cores que envolvam um cômodo e criem uma sensação de conforto", destaca Myland.
3. Vinho, vermelho-bronze e granada
Os tons vermelhos terrosos, com suas ricas e distintas variações, continuam sendo populares, com as cores vinho e ameixa de 2025 sendo sutilmente reinventadas.
O piso de terracota restaurado desta sala de jantar combina com a tinta "vermelho-bronze" do fabricante britânico Little Greene nas paredes e no teto.
"Ricos e reconfortantes, os tons marrons, roxos e beterraba são ideais para uma atmosfera restauradora", afirma a diretora criativa da Little Greene, Ruth Mottershead. "Estas cores oferecem uma alternativa sofisticada para os marrons tradicionais."
Seus tons de sangue combinam perfeitamente com as notas caramelo dos materiais naturais da mesa de madeira e da luminária de piso.
4. Cinza-ocre
A tendência para a simplicidade dos tons neutros é evidente na sala de jantar desta casa em estilo georgiano.
A tinta cinza-ocre da marca Mylands combina com o branco-calcário no teto. Os tons simples destacam as obras de arte e a mobília antiga do ambiente.
"Deixe as texturas trabalharem um pouco", aconselha a designer de interiores Venetia Rudebeck, uma das fundadoras do Studio Vero.
"Existe uma suave nostalgia nas paletas que estão atraindo as pessoas", declarou ela à BBC. "Cerâmicas dos anos 1970, velhas bibliotecas e tons campestres, mas usados em camadas, de forma moderna."
5. Bege e castanho
O uso de paletas da mesma família com um tom comum está na moda. Este visual é capturado nos tons de bege, creme e marrom castanho da marca britânica Earthborn.
"Criar um ambiente interno restaurador começa com a definição da atmosfera", segundo a chefe de criação da Earthborn Paints Sanders, Cathryn Sanders.
"Formamos, então, camadas, com um tom intermediário nas paredes, uma tinta mais clara acima e um tom mais profundo na marcenaria."
Observe a cobertura de cores, com os tetos ou partes superiores usando um tom mais claro, em relação à cor da parede. E, por fim, acabamentos misturados, com paredes foscas e marcenaria brilhante, acrescentam novas profundidades.
6. Pêssego, marrom-claro e creme
"As cores de tinta são um pano de fundo para a decoração, não o herói principal", segundo o designer de interiores Christian Bense. "Misturar tons oferece um estilo mais orgânico para as nossas casas."
Bense escolheu um marrom neutro quente nesta casa rural inglesa, o marrom-etrusco da marca Edward Bulmer, com pêssego-creme no teto. Uma profusão de texturas, que inclui cortinas creme, abajures, um sofá com revestimento ferrugem e um tapete afegão, completa a decoração.
Os tons neutros quentes são populares, conta Sanders à BBC. "Essas cores reconfortantes estão mudando", segundo ela.
"O que antes significava bege e rosa está se ampliando para incluir castanho-acinzentado e tons neutros intermediários complexos, que oferecem calor emocional, sem sobrecarregar o espaço."
7. Azul-mineral
Ao iniciarmos o segundo quarto de século, os tons naturais estão na vanguarda dos esquemas de cores.
Da mesma forma que o verde-azulado é popular atualmente, os azuis-minerais claros também contam com a preferência dos designers e moradores.
"Estes tons parecem ser profundamente conectados à natureza", explica Rudebeck. "Eles trazem uma sensação de comodidade."
O projeto de Rudebeck acima mostra paredes em tom azul-mineral claro, ao lado de destaques em verde na decoração, para refletir o mundo natural.
8. Sálvia e verde-jade
Verde-jade e sálvia continuam sendo cores populares, com séculos de história e simbolismo que inclui desde a renovação da primavera até os tons suaves dos interiores georgianos.
A designer Birdie Fortescue prevê essa mudança na sua colaboração com a marca britânica Fenwick & Tilbrook, inspirada nos suaves cenários da região onde nasceu — Norfolk, no leste da Inglaterra.
Para ela, estes são "tons calmantes".
"Use essas cores para acentuar detalhes estruturais, que são frequentemente esquecidos quando usamos branco", orienta ela.
Por tudo isso, esteja você disposto a dançar nas nuvens, saborear um pedaço de queijo nacho ou provar a riqueza do vinho, uma coisa é certa: a cor nunca é apenas decoração. É memória e estado de espírito, com um toque de vaidade.
Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Culture.