A inteligência artificial está remodelando o mercado de trabalho, promovendo automação, eliminando funções tradicionais e criando novas especialidades, o que exige requalificação, adaptação e estratégias éticas para a construção de futuros sustentáveis.
A inteligência artificial (IA) deixou de ser uma tendência tecnológica para se tornar um eixo central das estratégias corporativas no mundo todo. Boards executivos, investidores e profissionais de diversas áreas já entendem que a tecnologia está remodelando a economia, as profissões e até a reputação das empresas. Segundo o Future of Jobs Report 2025, do Fórum Econômico Mundial, metade dos empregadores pretende redirecionar seus negócios até 2030 por causa da IA — um dado que reforça a velocidade e a profundidade dessa transformação.
O relatório, baseado em entrevistas com cerca de mil empresas que representam mais de 14 milhões de trabalhadores em 55 países, aponta que 40% das organizações esperam reduzir a mão de obra em áreas com grande potencial de automação. Ao mesmo tempo, dois terços planejam contratar profissionais com competências específicas em IA, evidenciando a dualidade do momento: eliminação de funções tradicionais e criação de novas especialidades.
Para Herman Bessler, CEO e fundador do Templo — empresa pioneira em soluções de inteligência artificial aplicadas a negócios —, o desafio não está apenas em dominar novas ferramentas, mas em preparar pessoas e organizações para um redesenho profundo. “Não se trata apenas de adquirir habilidades técnicas, mas de redefinir a própria identidade profissional em um mundo onde a IA muda o ritmo da inovação”, afirma.
Um estudo complementar, o Global Workforce of the Future Research 2025, do Adecco Group, mostra que, apesar da automação acelerada, grande parte da força de trabalho global se mantém otimista e disposta a assumir o controle do próprio desenvolvimento. O relatório reforça que o diferencial competitivo continuará sendo humano: criatividade, colaboração, tomada de decisão ética e adaptação constante.
No Brasil, a urgência é igualmente significativa. Um relatório técnico da UFRJ, O “O Futuro do Emprego no Brasil: Estimando o Impacto da Automação”, estima que 60% das ocupações nacionais podem ser altamente afetadas nas próximas décadas. Os grupos mais vulneráveis tendem a sofrer mais com essa transição, o que exige políticas públicas e estratégias empresariais voltadas à inclusão, acesso à educação e requalificação contínua.
“Precisamos transformar o medo da automação em um movimento de aprendizagem e experimentação, porque a adaptação será o novo diferencial competitivo. Um dos maiores erros nas discussões sobre IA é falar em o futuro do trabalho. Precisamos falar em futuros, no plural — e ter sempre em mente que o que transforma uma empresa é o movimento, não a ordem”, afirma.
Para ele, a verdadeira revolução trazida pela IA não é apenas tecnológica, mas de intencionalidade. Em vez de esperar para reagir às mudanças, líderes e organizações precisam desenhar ativamente quais futuros desejam construir — com ética, produtividade e redução de desigualdades. “A tecnologia não é neutra, e uma de nossas grandes responsabilidades é decidir quais futuros valem a pena ser criados”, conclui o CEO do Templo.