URGENTE
Saiba como doar qualquer valor para o PIX oficial do Rio Grande do Sul

Catar conchinhas no Brasil é crime? Entenda

Quem nunca catou conchinhas na praia? Apesar do hábito ser popular, o impacto do comportamento no ambiente levanta dúvidas se isso seria crime no Brasil

2 mai 2024 - 14h57
(atualizado às 18h45)

Para muita gente, é normal catar conchinhas na praia como uma lembrança de um dia gostoso nas férias. No entanto, esse gesto aparentemente simples pode ter inúmeras consequências no ecossistema marinho. Por isso, não é recomendado pegar pedaços de conchas e nem de estrelas-do-mar, embora isso não seja propriamente um crime no Brasil. 

Foto: George Girnas/Unsplash / Canaltech

De forma diferente, alguns países proíbem a coleta de conchas de molusco, mesmo vazias, na praia, como ocorre na Itália, na França e até em alguns pontos dos Estados Unidos. Nestes locais, a coleta é normalmente autorizada apenas para fins científicos ou educacionais.

Publicidade

Inclusive, não levar conchinhas da praia como souvenir é uma prática do turismo ecológico e sustentável — isso significa que os visitantes não depredam o meio ambiente, enquanto contribuem para a sua preservação. No extremo oposto, há casos documentados de perda de diversidade e redução no número de conchas por causa da ação de turistas.

Catar conchinhas no Brasil é crime?

No país, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) é quem orienta a não retirada das conchas de seu habitat natural, as praias brasileiras. 

"Não colete nada", afirma o ICMBio, em nota. "Pedaços de conchas, corais, ouriços e estrelas-do-mar servem de abrigo e devem permanecer em seu ambiente natural. Leve da praia somente memórias e fotografias", acrescenta.

Além disso, o instituto orienta que as pessoas não comprem "artesanatos feitos com conchas ou corais mortos", já que "retirar essas estruturas da natureza prejudica a dinâmica do ambiente".

Publicidade

Por dentro do direito ambiental

"A mera coleta de conchas vazias para fins pessoais não costuma ensejar a responsabilidade criminal sobre o fato, embora a orientação geral dos órgãos de proteção ambiental seja a de evitar esse tipo de prática, a fim de evitar eventuais prejuízos ao ambiente marinho", explica Scarlett dos Santos, advogada especializada em Direito Ambiental do escritório Razuk Barreto Valiati e mestranda em Direito pela UFPR, para o Canaltech.

"A questão muda de figura caso a coleta envolva conchas com moluscos vivos ou o comércio de conchas e corais", alerta a advogada Santos. No art. 34 da Lei de Crimes Ambientais (Lei nº 9.605/1998), são expressamente proibidos atos que configurem pesca ilegal — isso pode ser traduzido, segundo a lei, como "todo ato tendente a retirar, extrair, coletar, apanhar, apreender ou capturar espécimes dos grupos dos peixes, crustáceos, moluscos e vegetais hidróbios, suscetíveis ou não de aproveitamento econômico".

Além disso, a venda de corais e artesanato com corais é crime no Brasil, como aponta a mesma Lei de Crime Ambiental. Nestes casos, há previsão de multas e até de detenção, que pode ser de um a três anos.

Turismo e catar conchas?

Apesar de nenhum turista necessariamente ir preso por catar conchinhas no Brasil, vale a consciência ambiental de cada um. Na praia Llarga, na Espanha, vem um dos piores exemplos do impacto dessa coleta indiscriminada de conchas.

Publicidade

Por lá, pesquisadores da Universidade da Flórida e da Universidade de Barcelona analisaram os níveis de conchas na praia em dois períodos diferentes: 1978 a 1981 e 2008 a 2010. Nestas três décadas de pesquisa, o turismo aumentou quase três vezes na região, enquanto o urbanismo e a pesca comercial se mantiveram praticamente inalterados.

Publicado na revista PLOS One, o estudo revela que, com o aumento do turismo e o hábito de catar conchinhas, o número médio de espécimes caiu drasticamente, de 1,5 mil para 578.

Catar conchinhas no Brasil deveria ser crime ambiental no Brasil, já que coloca em risco o ecossistema marinho (Imagem: Mandy Henry/Unsplash)
Foto: Canaltech

O interessante é que os autores também observaram que, dependendo do mês que se analisava, existiam mais ou menos conchas nas praias. Por exemplo, nos meses do verão europeu, entre julho e agosto, os níveis de conchas eram bem menores.

Função das conchas no ecossistema

"As conchas são admiráveis, porque desempenham múltiplas funções em ecossistemas naturais, desde a estabilização de praias até materiais de construção para ninhos de pássaros [em último caso]", explica Michal Kowalewski, pesquisador do Museu de História Natural da Flórida e um dos autores do estudo espanhol, em nota.

Publicidade

Afinal, as conchas "vazias" — após serem deixadas pelos moluscos — podem funcionar como uma superfície de fixação para algas, plantas marinhas, esponjas-do-mar e outros organismos.

As conchas também funcionam como um lar para os caranguejos-eremitas — com a falta de conchas disponíveis, estes crustáceos já foram observados usando materiais plásticos, como tampa de garrafa PET. Os peixes também podem usá-las como forma de esconderijo contra predadores.

Por fim, as conhcas desempenham um papel importante no fluxo de minerais no ambiente marinho. Como são basicamente compostas por carbonato de cálcio (CaCO3), ao longo dos anos, elas vão se dissolvendo e o composto é reciclado por outras criaturas, incluindo novos moluscos.

Então, na próxima ida à praia, a melhor forma de obter uma boa lembrança é curtir o momento presente e fazer inúmeras fotos daquele dia, mas sem retirar nenhuma "lembrancinha" ou conchinha da areia da praia.

Publicidade

Fonte: ICMBio, Museu de História Natural da Flórida e PLOS One

Trending no Canaltech:

É fã de ciência e tecnologia? Acompanhe as notícias do Byte!
Ativar notificações