E se fosse possível tornar os tipos sanguíneos compatíveis? Na última segunda-feira (29), a ciência mostrou que isso está mais perto de se tornar realidade do que imaginamos: uma equipe da Technical University of Denmark e da Lund University (Suíça) misturou enzimas das bactérias intestinais para gerar essa compatibilidade.
Quando misturadas com glóbulos vermelhos, as enzimas da bactéria intestinal Akkermansia muciniphila foram capazes de remover açúcares específicos que compõem os antígenos A e B nos grupos sanguíneos ABO. As novidades constam na Nature Microbiology.
A razão pela qual é necessário remover os antígenos A e B para criar um sangue de doador universal é porque eles podem desencadear reações imunológicas potencialmente fatais quando transfundidos em receptores não compatíveis.
Conforme diz o estudo, a bactéria em questão se alimenta quebrando o muco que cobre a superfície do intestino. As enzimas são excepcionalmente eficientes, uma vez que os açúcares complexos na superfície da mucosa intestinal têm semelhança química com aqueles encontrados na superfície das células sanguíneas.
A descoberta vem de uma análise de 24 enzimas, que os cientistas usaram então para processar centenas de amostras de sangue.
Sangue universal
"O sangue universal criará uma utilização mais eficiente do sangue do doador e também evitará a administração de transfusões ABO incompatíveis por engano, o que pode levar a consequências potencialmente fatais para o receptor", afirma o coordenador do estudo, o professor Martin L. Olsson, em comunicado disponibilizado pela instituição envolvida.
"Quando pudermos criar sangue de doador universal ABO, simplificaremos o logística de transporte e administração de produtos sanguíneos seguros, minimizando ao mesmo tempo o desperdício de sangue", completa.
Os envolvidos esperam fazer mais progressos ao longo do estudo, que deve durar pelo menos mais três anos e meio.
O conceito também deve ser testado em ensaios controlados com pacientes antes que possa ser considerado para produção comercial e uso clínico.
Tipos sanguíneos compatíveis
A descoberta de uma técnica que poderia tornar os tipos sanguíneos compatíveis no futuro é extremamente promissora e poderia resolver muitos dos desafios enfrentados atualmente na transfusão de sangue.
A técnica poderia potencialmente eliminar a necessidade de encontrar doadores compatíveis, pois o sangue doado poderia ser convertido em um tipo universalmente compatível.
Se essa técnica com as enzimas das bactérias intestinais se mostrar eficaz e segura, poderia revolucionar a prática da medicina transfusional, permitindo transfusões mais rápidas e seguras. É claro que estamos falando de uma realidade ainda distante, mas já é muito interessante para a ciência que exista essa esperança em tornar os tipos sanguíneos compatíveis.
Fonte: Nature Microbiology, DTU
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