Verdade ou mito? Comer biscoito recheado pode 'roubar' 39 minutos de vida?
A ideia de que cada porção de biscoito recheado ultraprocessado seria capaz de reduzir, em média, 39 minutos da expectativa de vida tem sido comentada em algumas postagens nas redes sociais. Mas será que essa afirmação tem base científica?
A origem da polêmica remete a um estudo da Universidade de Michigan (EUA), publicado em 2021, que analisou mais de 5.800 alimentos e criou o chamado Índice de Nutrição e Saúde (Health Nutritional Index). A proposta era estimar quanto determinados alimentos poderiam impactar na qualidade de vida saudável, levando em conta fatores de risco ligados a doenças crônicas.
Entre os exemplos apresentados, o estudo citou que um cachorro-quente poderia “custar” cerca de 36 minutos de vida saudável, um refrigerante 12 minutos, bacon 6 minutos e um cheeseburger 9 minutos. Já outros alimentos, como frutas, legumes e nozes, poderiam acrescentar minutos à expectativa de vida.
Contudo, não há menção direta a biscoitos recheados com o número de “39 minutos perdidos por porção”.
"Isso não significa que consumir esses alimentos sejam capazes de reduzir o tempo de vida, mas sim que o consumo frequente, pode reduzir o tempo de vida com saúde". explica a Dra. Marcella Garcez, diretora da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN).
A especialista diz que essas afirmações fazem sentido no contexto do estudo, mas não há evidência de que especificamente “biscoitos recheados ultraprocessados” provoquem exatamente 39 minutos de perda. "Pode ser um arredondamento ou extrapolação informal. A afirmação, portanto, é mais mito do que um dado rigorosamente comprovado", complementa.
Quais os riscos reais de comer biscoito recheado todos os dias?
A dúvida é válida, já que o consumo frequente de biscoitos recheados traz riscos bem documentados. Esses produtos costumam ter altos níveis de açúcar, gordura saturada e aditivos, mas oferecem pouco ou nenhum valor nutricional.
"Um meta‑análise de 2025 revelou que pessoas com maior consumo de ultraprocessados, com baixo valor nutricional, têm 15% maior risco de mortalidade por todas as causas e que cada aumento de 10% na ingestão desses alimentos está associado a 10% a mais de risco de morte", explica a especialista.
E ainda estudos longitudinais, como no BMJ, mostraram que quem consome cerca de 7 porções/dia (vs. 3) desses alimentos tem 4% maior risco de todas as causas de morte e 9% maior risco de morte por causas neurológicas .
"Outros efeitos observados incluem maior risco de obesidade, diabetes tipo 2, hipertensão, doenças cardiovasculares, alguns tipos de câncer e envelhecimento biológico acelerado", completa.