Script = https://s1.trrsf.com/update-1764790511/fe/zaz-ui-t360/_js/transition.min.js
PUBLICIDADE

“Sou a própria periferia”, diz cineasta esquecido da “capital do subúrbio carioca”

Filme sobre diretor de 76 anos recupera obra esquecida há meio século. “Estava pronto para o fim”, diz Afrânio Vidal

4 ago 2025 - 06h24
Compartilhar
Exibir comentários
Resumo
Documentário Dois Nilos mostra a vida e obra do cineasta da Favela do Esqueleto, em Madureira, zona norte do Rio de Janeiro. Ele desistiu da sétima arte quando se preparava para dirigir a versão cinematográfica de A Mulher sem Pecado, peça teatral de Nelson Rodrigues, que autorizou o filme.
Cineasta Afrânio Vidal, 76 anos, cria da Favela do Esqueleto, em Madureira, trazido à público pelo documentário Dois Nilos.
Cineasta Afrânio Vidal, 76 anos, cria da Favela do Esqueleto, em Madureira, trazido à público pelo documentário Dois Nilos.
Foto: Divulgação

O documentário Dois Nilos, que vem sendo premiado, selecionado e exibido neste ano, chama a atenção para a vida e obra de Afrânio Vidal, cineasta negro que parou há quase meio século, após tentativa frustrada de transformar em filme a primeira peça de Nelson Rodrigues, A Mulher sem Pecado.

A obra do diretor de Madureira, zona norte do Rio de Janeiro, começou com curtas e, em longas-metragens, narrou o que define como “histórias urbanas envolvendo existencialismo erótico ao som de jazz”. Ele se refere a filmes como Os Noivos (1979) e O Estranho Jogo do Sexo (1983).

Vidal parou de fazer cinema quando se preparava para filmar A Mulher sem Pecado, autorizado pelo próprio Nelson Rodrigues. Tentaram substituí-lo por um diretor branco, ele desistiu de fazer cinema. “Sinceramente, aos 77 anos, me sentia pronto para o fim. Comi o pão que o diabo amassou.”

O documentário Dois Nilos reapresenta Afrânio Vidal ao público brasileiro, mostrando que uma vida de cinema não acaba assim. O trampo do nosso mano é cabeçudo, transita entre o erudito e o popular, vai do poeta Augusto dos Anjos ao cantor Ataulfo Alves.

Afrânio Vidal teve um hiato em sua trajetória após um episódio de racismo. Seus filmes tratavam de temas como vida urbana e sexualidade.
Afrânio Vidal teve um hiato em sua trajetória após um episódio de racismo. Seus filmes tratavam de temas como vida urbana e sexualidade.
Foto: Divulgação

Afrânio Vidal é de Madureira, a “capital do subúrbio carioca”

O documentário de Samuel Lobo e Rodrigo de Janeiro faz um retrato íntimo, político e poético de Afrânio Vidal. Imagina um cara nascido criado nas décadas de 50 e 60 em Madureira, zona norte do Rio de Janeiro, lugar de gente trabalhadora, preta, do corre.

Meu cinema não só dialoga com a periferia, como eu sou a própria periferia. Eu sou o retrato da periferia brasileira, não sou o centro da cidade, nem a zona Sul. Eu sou de Madureira”, apresenta-se Vidal.

Especificamente, ele é da Favela do Esqueleto, de uma família de sete irmãos. “Comecei andar por Madureira muito novo, era um lugar de muita efervescência cultural. Era o tempo dos grandes coretos de Carnaval, muito rico culturalmente. Comecei me interessar pelo cinema porque ali tinha o Alfa, o Coliseu, o Beija Flor, o Cine Madureira”.

Favela do Esqueleto no Rio de Janeiro, em 1966, época em que o cineasta Afrânio Vidal foi criado. “Meu cinema não só dialoga com a periferia, sou a própria periferia”.
Favela do Esqueleto no Rio de Janeiro, em 1966, época em que o cineasta Afrânio Vidal foi criado. “Meu cinema não só dialoga com a periferia, sou a própria periferia”.
Foto: Reprodução

Formado em Filosofia e Comunicação Social

Entre a Favela do Esqueleto e as antigas salas de rua do Cine Pathé, na Cinelândia, e do cinema Beija-Flor, em Madureira, Afrânio Vidal foi construindo seu repertório de vida inspirado pelo cinema. Se fez o corre? Ele é formado em Filosofia e Comunicação Social.

“Depois do meu último longa, comecei meu processo psicanalítico, longo, de 27 anos, complicadíssimo. Nesse tempo eu construí uma vida, constituí minha família, coisa que é o sonho de todos. Tenho duas filhas e cinco netos, fiz muita coisa”, analisa.

Montagem do Grupo Gattu para A Mulher sem Pecado, primeira peça de Nelson Rodrigues, cuja versão cinematográfica seria feita por Afrânio Vidal.
Montagem do Grupo Gattu para A Mulher sem Pecado, primeira peça de Nelson Rodrigues, cuja versão cinematográfica seria feita por Afrânio Vidal.
Foto: Bob Souza

O documentário Dois Nilos recupera a trajetória e a obra de Afrânio Vidal, que está como? Felizão. O filme acabou de ser exibido no BlackStar Film Festival, na Filadélfia (EUA), um dos principais do mundo dedicados ao cinema negro e indígena.

Terá exibição comercial em sessões diárias no Cine Brasília, na capital federal. Acabou de ser selecionado para a Mostra Sesc de Cinema e para o festival de curtas Kinoforum. Em sete meses, Dois Nilos passou por 18 festivais. A restauração das obras de Afrânio Vidal deve ser concluída ainda neste ano.

Fonte: Visão do Corre
Compartilhar
Publicidade

Conheça nossos produtos

Seu Terra












Publicidade