Moradores relatam retirada de bikes na periferia de Salvador
No último mês foram retiradas as únicas estações bike Itaú próximas à periferia da capital baiana
Sem aviso prévio aos assinantes do bike Itaú, as estações são realocadas, e assim, alguns usuários são pegos de surpresa ao chegarem numa antiga estação e não encontrarem as “laranjinhas”. De acordo com a Tembici, empresa responsável, a última realocação ocorreu no dia 16 de novembro.
“Nem quis renovar a minha assinatura. Acho que vão colocar tudo na orla, um absurdo!”, foi o que disse a moradora de Sussuarana Tainá Carvalho no post feito pelo Sussuarana City, portal de notícias de Sussuarana, bairro periférico de Salvador, sobre a retirada de uma estação próxima a região, 46-CAB.
Na publicação, Adriele Lisboa, dona da página Sussuarana City, moradora e usuária das bikes, disse: “A sensação que tenho é de que a periferia não pode ter acesso ao lazer”. No atual mapa de estações da bike Itaú em Salvador, não há estações fora do centro e orla da cidade.
“Por que os moradores de Sussuarana e de outros bairros do miolo da cidade não podem mais iniciar seus exercícios em direção a orla utilizando o único equipamento que incluía essa população ao roteiro que só está nos bairros mais nobres? Vocês acham que não temos contas no Itaú?”, reivindicou o morador de Cajazeiras, Jamerson Silva.
Ao aproximar o mapa nas estações mais distantes da orla, além do centro da cidade, é possível ver a localização: Caminho das Árvores e Itaigara. Bairros considerados nobres em Salvador.
A justificativa para a retirada da estação CAB, de acordo com a Tembici, se deu pela “necessidade da alteração para um local com maior fluxo de pessoas”. E ainda, segundo a empresa, a estação foi retirada após novos estudos da equipe de Planejamento Urbano. A Tembici disse ainda que em uma futura expansão, irá considerar a volta para esse local de maneira mais integrada com todo o sistema.
De acordo com os moradores, as bikes da estação eram concorridas, já que não havia outras estações nas redondezas. “Quando eu ia andar com meus amigos, a gente tinha que ir pra estação em Itapuã porque nunca tinha aqui no CAB”, disse Adriele sobre os passeios de lazer no domingo. “O horário das 17h era pior, ou antes das 8h da manhã, cansei de chegar e não achar bike”, relatou Tiago Santiago sobre o fluxo nos dias da semana.
Mobilidade para quem?
A Tembici afirma que seu propósito é “inspirar uma revolução global de mobilidade, uma pessoa por vez”. Mas, “Mobilidade para quem?”, questionou a moradora de Sussuarana e poeta, Vamisa. Como forma de esclarecimento, a empresa compartilhou os critérios para escolha dos locais das estações.
Ciclista há 20 anos e atuante pela democratização do acesso a meios de transporte sustentáveis, o pedagogo Sérgio Bahialista, acredita principalmente na necessidade da responsabilidade pública complementada com a responsabilidade privada.
“Em Salvador, principalmente nesta gestão municipal inverteram isso. Jogaram nas mãos da iniciativa privada a responsabilidade e a prefeitura só faz complementar com pedaladas mensais de grupos de bike pela cidade com o programa ‘Salvador vai de Bike’. Efetivamente esse programa não atinge a população que precisa de fato ser atingida, que é a população que é mais limitada em relação a diversidade de formas de mobilidade, que é a população periférica”,denunciou Bahialista.
O percurso da linha 2 do metrô possui uma faixa de 12 km de ciclovia, portanto, estando ao lado da estação Pituaçu, as bikes atendiam também quem buscava uma atividade física. Dessa forma, para Victor Gonçalves, 30 anos, morador do Garcia, apenas a estação CAB, já não era capaz de atender a demanda.
“É visível que o Itaú não se interessa pela região fora do eixo centro/orla. Em outras capitais já existem serviços de aluguel de bikes, que não estão ligados ao dito banco. A prefeitura e a CCR poderiam ajudar a viabilizar a vinda de uma concorrência justa e competente, para Salvador. As bikes próximas às estações eram usadas inclusive como meio de locomoção até o trabalho. Vai fazer muita falta”, concluiu Victor.