Ex-detento que inspirou filme Na Quebrada processa produtores por direitos autorais
Longa conta a história real de jovem que passou pelo Instituto Criar, de Luciano Huck. Diretor é irmão do apresentador
“Ganhei apenas uma camiseta e um boné”, reclama Nelson Manoel Tobias Sant´Anna, 38 anos, paulistano, que teve sua história contada no filme Na Quebrada. Ele entrou com ação judicial para receber os direitos autorais do longa lançado em 2014.
O filme foi produzido para celebrar os dez anos do Instituto Criar, fundado por Luciano Huck para atender jovens em situação de vulnerabilidade social. O diretor de Na Quebrada é o irmão do apresentador, Fernando Grostein Andrade, que também foi processado, assim como a Paris Filmes, a Spray Filmes e a Globo Filmes.
O personagem central da trama é Gerson, interpretado por Jorge Dias, filho de Mano Brown. Ele vive a história real de Nelson Tobias, que passou pelo Instituto Criar, mas, ao contrário de outros jovens, acabou preso. Da cadeia, onde permaneceu entre 2008 e 2013, enviou uma carta narrando sua trajetória — base da história contada no filme Na Quebrada.
“Provas são robustas”, diz advogado
“Nunca assinei nada, nunca ganhei nada com o filme. Fiz umas fotos, fui em alguns eventos, mas não tive reconhecimento, nem recebi meus direitos. Só quero o que é meu”, diz Nelson Tobias, que ficou preso quatro anos e quatro meses.
Segundo o advogado Andrew de Estefano Turquetti, “é como se tivessem apagado a história dele. As provas são robustas, como Luciano Huck contando a história de Nelson em rede nacional”. Ele se refere a uma entrevista concedida à Ana Maria Braga, durante o lançamento de Na Quebrada. O vídeo é uma das provas apresentadas no processo, junto com a carta enviada da prisão — que inspirou o filme —, além de fotos de Nelson Tobias com Huck e outros documentos.
“Não houve entre as partes qualquer formalização por meio de contrato de cessão ou licença de direitos, não existe documento que estabeleça regras sobre o uso da obra ou sobre a participação do meu cliente nos ganhos econômicos provenientes do filme”, diz o advogado.
Ação quer receber direitos autorais e indenização
A ação por direitos autorais foi ajuizada em agosto e está na fase de citação das partes — etapa em que os envolvidos são formalmente notificados para apresentar suas defesas. Segundo o advogado, houve uma tentativa de resolver o caso sem ação judicial, mas apenas a Spray Filmes respondeu.
Além do reconhecimento da autoria da história, a ação pede a condenação dos réus por danos morais e materiais. A primeira decisão judicial é de 1º de outubro de 2025. A juíza Maria Elizabeth de Oliveira Bortoloto concedeu prazo de 15 dias úteis para contestação da ação. “Esgotados todos os meios de localização, cite-se por edital”, determinou a magistrada de Barueri, na Grande São Paulo.
A reportagem entrou em contato com todas as pessoas e empresas citadas por Nelson Tobias no processo. Apenas a assessoria de Luciano Huck respondeu, informando que “não fomos notificados e, por isso, não vamos nos manifestar”.