Opinião: operação contra o PCC mostra onde acontece, de fato, o crime organizado
Ao contrário de batidas policiais nas periferias, vimos busca e apreensão em escritórios chiques em São Paulo
Ir atrás dos chefões em suas instalações luxuosas e interceptar esquemas financeiros gigantescos mostra que o crime organizado nas comunidades é a mão de obra barata que arrasta muitos e enriquece poucos.
A operação contra o Primeiro Comando da Caiptal (PCC) é pedagógica: crime organizado, filhão, é quando envolve bilhões, com lavagem de dinheiro no mercado financeiro formal, crime organizadíssimo cujos chefões não estão nas periferias, mas, no caso da operação Carbono Oculto, em escritórios de boys na Avenida Faria Lima, símbolo da grana em São Paulo, entre outros locais.
Combater o crime pra valer é ir atrás de bacana, de alguns donos de postos de combustíveis e usinas de açúcar e álcool, ou de 40 fundos de investimentos. É agir em dez estados, com polícia de todo tipo brotando de madrugada – de militar a civil, de Rota a Federal, e um bonde enorme de pessoas com poder de enquadro, tipo o Ministério Público.
Foram 1400 policiais atrás de 350 alvos, cumprindo 200 mandados de busca e apreensão. Como bem explicou o Terra, a ação foi contra “envolvidos no domínio de toda a cadeia produtiva da área de combustíveis, parte da qual foi capturada pelo Primeiro Comando da Capital (PCC)”.
Vendo a entrevista coletiva sobre a operação, senti orgulho. Pensei: cara, que maravilha, enquanto a gente está aí, distraído pra morte, achando que o verdadeiro crime organizado está nadando de braçada, vem essa operação que, conforme repetido por “n” entendedores do assunto, ataca o crime onde ele realmente é vulnerável, nos recursos financeiros.
E parece que o caldo vai engrossar, envolvendo até políticos importantes. Essa ação coordenada – enfim, coordenada, conforme repetido por “n” entendedores do assunto – fez a casa cair para quem está no topo da pirâmide do crime, infiltrados em diversos setores da economia formal, entendeu?
Não é a banalizada “guerra às drogas”, sangrenta, injusta, desproporcional, midiática, aterrorizando favelas, matando inocentes e, sim, também criminosos, mas peixes pequenos. A operação contra o PCC e aliados graúdos não teve tiroteio, correria. Foi investigada, planejada, com estratégia, na mira, mexeu com as leis, abalou geral.
Fiquei me perguntando: o combate ao verdadeiro crime organizado pode evitar, quem sabe, no futuro, que menos manos abracem desorganizadamente o crime, rodando deveras?