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Espaço atua contra violência doméstica na periferia de Salvador

Só vai existir libertação se a mulher se emancipar, diz Diretora Estadual da Unidade Popular na Bahia

27 set 2022 - 17h46
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Casa Preta Zeferina.
Casa Preta Zeferina.
Foto: Isabella Tanajura.

De acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, houve uma queda de crimes letais contra a mulher, mas não a diminuição da violência. Houve um sensível aumento das denúncias de lesão corporal dolosa e das chamadas de emergência para o número das polícias militares, o 190, ambas no contexto de violência doméstica, assim como aumento dos casos notificados de ameaça (vítimas mulheres). A quantidade de medidas protetivas de urgência solicitadas e concedidas também tiveram aumento considerável.

O Anuário Brasileiro de Segurança Pública ainda ressalta que, praticamente todos os indicadores relativos à violência contra mulheres apresentaram crescimento no último ano: houve um aumento de 3,3% na taxa de registros de ameaça, e crescimento 0,6% na taxa de lesões corporais dolosas em contexto de violência doméstica entre 2020 e 2021. Os registros de crimes de assédio sexual e importunação sexual cresceram 6,6% e 17,8%, respectivamente.

Segundo a pesquisa “Elas vivem: dados da violência contra a mulher”, da Rede de Observatórios da Segurança, a Bahia teve um caso de violência contra a mulher a cada dois dias em 2021. De acordo com os dados, a Bahia teve 232 casos de violência contra a mulher no ano passado.

Casa Preta Zeferina.
Casa Preta Zeferina.
Foto: Isabella Tanajura.

Frente a essa realidade, em Salvador, o Movimento de Mulheres Olga Benário, responsável pela ocupação da Casa de Referência Preta Zeferina e também responsável por juntar-se a outros movimentos que construíram o partido Unidade Popular, que hoje lança a candidatura de Leonardo Péricles, age no enfrentamento da violência contra a mulher.

“Desde 2016 a gente vem fazendo em todo Brasil, casas de referência através de ocupações. Falamos bastante de ocupações pra poder dar esse caráter de resistência. Quando a gente ocupou a Casa Preta Zeferina aqui em Salvador, assim que a gente ocupou, começaram a chamar a polícia. Ficaram contra. Hoje em dia, o bairro inteiro consegue nos ver quanto uma parte institucional do bairro, temos uma relação muito boa”, explica Raissa Uchoa, uma das coordenadoras do Movimento de Mulheres Olga Benário, integrante do Diretório Estadual e Diretora Estadual da Unidade Popular, na Bahia.

A Casa Preta Zeferina que vai completar um ano de existência, no Dia Internacional de Luta contra a Violência a Mulher, fica localizada na Ladeira do Baluarte, 46, Santo Antônio Além do Carmo, Centro Histórico de Salvador, funciona sem o apoio financeiro de qualquer órgão.

“O que a gente faz para o nosso financiamento é programar algumas iniciativas próprias como o Festival da Zeferina, que acontece no dia 24, com os nossos artistas, que são nossos apoiadores e que tocam aqui na casa ou vendem comida e todo dinheiro que é arrecadado nesses movimentos, são doados para manutenção da casa por um, dois ou até três meses, além de servirem para manter a rede de apoio de psicóloga”, completa Raissa Uchoa.

Casa Preta Zeferina.
Casa Preta Zeferina.
Foto: Isabella Tanajura.

O Movimento também conta com a Serigrafia Emanuel Bezerra, criada para financiar mensalmente não só a Casa Preta Zeferina, como também a ocupação Carlos Marighella, que não é uma ocupação do movimento Olga, mas também é do movimento que ajudou na construção da Unidade Popular que abriga cerca de 290 famílias.

“A gente tem muito trabalho atuando junto sabe, retiramos famílias da rua e ajudamos essas famílias sem teto. Agimos no enfrentamento da violência contra a mulher, a Casa Zeferina ajuda não só como um complemento pro Estado da Bahia que já estava sendo o Estado que mais matava mulheres quando a gente ocupou, mas também porque a gente conseguiu dar uma assistência muito mais próxima para as mulheres da Carlos Marighella”, explica a coordenadora Raissa Uchoa.

Muitos ainda têm dúvida enquanto a caracterização da organização, acreditando que se trata de um movimento assistencialista, o que não é. A organização é classicista. Todos que são recebidos fazem esse processo de estar construindo a consciência política da mulher, “e constantemente pautando que só vai existir libertação se a mulher se emancipar”, conforme afirma Raissa Uchoa.

“Ao entrar em contato com a Casa, a leitura de todo o programa é feita, se a pessoa topar, ela é direcionada para um núcleo e a partir daí começam as reuniões. A casa também oferece acompanhamento e seu horário de funcionamento é das 13h30 às 16h. Quando acontece de chegar alguém fora do horário de funcionamento, a gente tem a estratégia de estar acolhendo a mulher e combinar o horário de abrir”, conta Raissa. 

Casa Preta Zeferina.
Casa Preta Zeferina.
Foto: Isabella Tanajura.

Com profissionais com treinamento a nível nacional e com mais 11 casas espalhadas pelo Brasil, todos que chegam na Casa Preta Zeferina passam por uma triagem. Inicia contando toda sua história, preenche uma ficha e a própria mulher diz que vai querer essa ajuda. Diferente de outras instituições, a Casa escolheu esse modelo de atendimento para que cada mulher escolha para onde ela quer ser encaminhada.

A partir do momento que uma mulher é violentada, não falo apenas de agressão física, mas também agressão patrimonial, psicológica, moral, ela perde sua dignidade, então quando ela chega num local que é pra ser acolhedor e outra mulher já impõe algo a ela, também já é um tipo de violência, conclui Raissa Uchoa.

Em quase um ano de ocupação, O Movimento Olga Benário que atendeu em média uma mulher por dia, faz questão de ressaltar que não está tirando o dever do Estado, pois ele precisa dar assistência para as mulheres. Ainda adiciona que estão dando um complemento na parte que é insuficiente.anf

ANF
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