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Província chinesa com castelos em arrozal é destino exótico

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Antonio Broto

Estes edifícios, chamados diaolou, foram construídos principalmente no final do século XIX e princípios do XX por emigrantes de Kaiping que retornaram à sua terra após fazer fortuna nos Estados Unidos, Canadá, México, sudeste asiático ou outros países, inspirando-se nas formas arquitetônicas que tinham visto durante seu "exílio" e tentando criar construções que impressionassem os vizinhos e demonstrassem que ele e sua família haviam prosperado no estrangeiro.

Castelos foram construídos por emigrantes chineses em província de arrozais
Castelos foram construídos por emigrantes chineses em província de arrozais
Foto: EFE

Ao mesmo tempo, alguns destes diaolou também foram construídos na mesma época com doações de vários moradores de uma mesma aldeia, a fim de servir de estruturas defensivas e de vigilância em uma época na qual muitos bandidos agiam na região: eram os anos nos quais o ópio causava estragos em muitas comunidades do sul da China, e muitos dos viciados entraram nas máfias à caça das riquezas que os emigrantes traziam do exterior.

Estas torres e palácios em aldeias de ruas estreitas criam uma peculiar paisagem que, além disso, contrasta com as grandes cidades que perto dali dominam o próspero delta do rio das Pérolas: Cantão, Hong Kong, Macau, Shenzhen...

A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura incluiu quatro destas aldeias na lista de Patrimônio Mundial em 2007, por isso o lugar, até então quase esquecido, se transformou em uma das principais atrações turísticas de Cantão, embora ainda seja uma área relativamente tranquila quando comparada com as hordas que visitam outros monumentos da China também incluídos na famosa lista da Unesco, como a Muralha da China.

Mistura de culturas

Um dos melhores lugares para apreciar esta peculiar mistura entre Oriente e Ocidente é o complexo de diaolou de Zilicun, formado pelas construções que emigrantes de três aldeias vizinhas construíram principalmente nos anos 1920, após retornar de anos de trabalho nos EUA, Canadá e até nas ilhas Fiji.

Em Zilicun é possível admirar uma dúzia de torres rodeadas por campos de arroz e tanques de lótus, muitas delas transformadas em museus sobre a vida dos emigrantes chineses, verdadeiras testemunhas da cultura mestiça de Kaiping.

Os quartos combinam a rica mobília chinesa com os "tesouros" que aqueles emigrantes trouxeram do além-mar após décadas trabalhando, por exemplo, na linha ferrenha intercontinental entre o leste e o oeste dos EUA: um toca-discos, uma caixa de uísque, máquinas de costura, e até penicos e banheiras de louça, um luxo até então desconhecido na China.

Nas paredes de muitas destas casas-museu aparecem as fotos e cartas daqueles emigrantes e de seus descendentes: alguns deles são chineses que ainda trabalham nas lavouras de Kaiping, enquanto outros são médicos em Chicago, patinadores sobre o gelo em Edmonton ou destacados membros de associações de emigrantes chineses na Europa, Ásia e América, que não hesitam em visitar os diaolou dos fundadores do clã.

O diaolou mais famoso, por sua rica decoração e por ser, com nove andares, o mais alto da comarca, é o torreão Ruishi da aldeia de Jinjiangli, com seus inconfundíveis arcos e a cúpula que o torna praticamente uma construção de conto de fadas.

Campos de arroz e torreões

Não muito longe dali está a terceira aldeia incluída pela Unesco na lista de bens protegidos de Kaiping: Majianglong, que contrasta com Zilicun porque seus torreões e palacetes não se encontram em abertos campos de arroz, mas quase escondidos em uma bucólica floresta de bambus, que rodeia quatro aldeias das quais também partiram muitos emigrantes.

A quarta e última aldeia na lista do patrimônio mundial se chama Sanmenli, e nela está o diaolou mais antigo, o único que sobrou dos que foram construídos durante a dinastia Ming (séculos XIV-XVII) e que tem ares de castelo medieval. Este tinha um uso estritamente defensivo, e foi um dos construídos com doações de todos os moradores para utilizá-lo como fortaleza em caso de invasão ou ataque dos bandidos.

Além destes lugares, Kaiping oferece muitos outros atrativos ao viajante disposto a percorrer as muitas aldeias da região, como o dialou inclinado de Xiangang, emulando a torre de Pisa, e os jardins e palácios de Liyuan, de ar afrancesado.

Outra curiosa aldeia de Chikan, onde os moradores não construíram torres isoladas do resto, como nas aldeias vizinhas, mas erigiram ruas inteiras com pórticos, balcões e fachadas ocidentais, o que dá ao local um aspecto único e parece transportar o viajante para uma pequena cidade europeia.

O curioso cenário de Chikan inspirou muitos diretores de cinema chineses, e em suas ruas foram gravadas algumas das cenas do filme chinês de maior bilheteira da história: Let The Bullets Fly, do popular cineasta Jiang Wen.

As aldeias de Kaiping oferecem ao visitante um recanto de paz no Cantão e são um importante testemunho da história do sul da China, uma região tradicionalmente emigrante que, no caso desta comarca, tem mais nativos vivendo no exterior que em sua própria terra natal.

EFE   
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