'Uma chance em 1 milhão de sobreviver': mãe celebra alta de filho que nasceu com 750 gramas
Henrique, atualmente com 10 meses, é considerado um verdadeiro milagre por Heusiléia Coelho
Mãe celebra a alta do filho Henrique, nascido com apenas 23 semanas de gestação e considerado um milagre pelos médicos, após enfrentar desafios críticos e superar uma chance mínima de sobrevivência.
A auxiliar de coordenação Heusiléia Coelho, de 41 anos, recebeu uma notícia que ninguém gostaria de ouvir: o bebê dela tinha pouquíssimas chances de viver. Na verdade, uma em um milhão em casos de nascimentos com 23 semanas de gestação.
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“Ele falou assim: ‘Eu, da minha parte como médico, vou fazer o que posso para que ele fique bem, mas tenho que ser sincero com vocês: as chances dele são muito pequenas. É um em um milhão’. E aí, eu falei para ele: Eu vou me agarrar nesse 1%”, relembra Heusiléia em entrevista ao Terra.
Ela conta que tudo começou com um sangramento quando estava grávida de 12 semanas. Apesar de um histórico de gestações delicadas, essa, que era a sua terceira experiência, estava seguindo bem. Por precaução, o obstetra pediu alguns exames e vetou esforços.
“Parecia que ia melhorar, só que com o tempo, eu comecei a ter um corrimento. O médico falou que esse corrimento poderia ser infecção de urina. E aí, ele pediu novos exames. Eu fiz o exame de urina, mas não deu nada. No exame de sangue, deu uma anemia muito alta e os leucócitos já estavam começando a aumentar”, explica.
De acordo com a auxiliar, a suspeita é que ela estava com anemia. Logo, começaram o tratamento para o diagnóstico, mas a melhora não foi 100% e, próximo do quarto mês, ela começou a sentir contrações. Em uma madrugada após montar o quartinho que viria a ser do bebê, sentiu um fisgão.
“Naquela madrugada, eu acordei com uma vontade muito forte para fazer xixi. E eu senti a bolsa estourar. Foi tipo um beliscão bem no colo do útero. Eu assustei. Quando fui levantar, o líquido já começou a escorrer”, detalha.
Heusiléia afirma que ligou para o obstetra, que pediu para que ela fosse para o hospital. No entanto, ele já a avisou que na unidade, localizada em Minaçu, no interior de Goiás, não tinha UTI. Então, dependendo da gravidade do caso, ela teria que ser transferida, pois lá tinha limites de viabilidade e equipamentos.
Na avaliação, foi constatado que estava com o colo fechado apesar da bolsa ter estourado. Ela pediu para que tentassem transferi-la, pois queria dar uma chance para que o bebê fosse salvo. Com sorte, uma vaga no Hospital Estadual Centro Norte Goiano (HCN), em Uruaçu, abriu possibilitando a transferência.
Chegando no local, o médico confirmou que o caso era grave, mas que iria tentar mantê-lo na barriga enquanto a mãe e a criança aguentassem. Foram introduzidos vários soros, além de injeções para ajudar no amadurecimento dos pulmões do bebê e para o cérebro.
Durante este período, Heusiléia fez um novo exame de sangue que apontou uma infecção alta. Em pouco tempo, o quadro piorou e avançou para a placenta. “Como ela está dentro de você, é muito perigoso. O médico falou assim: ‘Se a gente não tirar o quanto antes, sua vida vai ficar em risco. Porque você pode sair do centro cirúrgico com uma infecção generalizada", relembra.
Ela conta que foi informada constantemente pela equipe de que havia pouquíssimas chances de o bebê sobreviver. O médico explicou que ele poderia nascer vivo, mas que poderia não aguentar por ser muito prematuro.
“Antes do parto, eu pedi para Deus: ‘Dá uma chance para nós dois. A gente quer tanto. Desejamos tanto ele. Já chegamos até aqui. Então, por favor, nos dê essa chance’”, conta Heusiléia, emocionada.
De acordo com ela, o parto foi muito difícil e não conseguiu nem ouvir o choro da criança. Foi de Wilson Francisco Nogueira Júnior a missão de contar que o filho tinha sobrevivido, mas ela teria que continuar internada por causa da infecção.
Um pequeno guerreiro
Henrique veio ao mundo no dia 3 de maio deste ano, com 23 semanas e 750 gramas. Heusiléia ficou internada por sete dias e quando recebeu a permissão para ver o filho, não conteve a emoção. “Quando vi ele, eu me emocionei muito porque ele era muito pequenininho.”
“As mãozinhas dele, apesar de estar tudo formadinho, o dedinhos eram grudados ainda. Você via que tinha uma membrana. O olhinho era fechadinho, ele não abria o olho. Muito delicadinho. A pele bem vermelhinha. Geralmente, ele deixam a gente abrir as portinhas [da incubadora] e tocar, mas, no caso dele, eles pediam pra gente não tocar porque a pele era muito sensível”, explicou.
Segundo ela, o pediatra colocou duas condições para a sobrevivência de Henrique: sobreviver a 48 horas após o parto e fazer xixi e cocô em até 72 horas. “Ele falou assim: ‘Isso, para nós, vai ser fundamental para a recuperação dele. Para gente saber como vai funcionar os dois dias'”, relembra.
Tudo ocorreu dentro do previsto, o que animou a equipe médica, pois indicava que o intestino e a bexiga estavam completos. “Eles nunca tiveram um bebê tão piquititico, que sobrevivesse. Me disseram que, até pra eles, foi um desafio lidar com a situação. De saber contornar as intercorrências porque para eles também era muito novo. Apesar de que eles já tinham passado por outras experiências, mas tão pequenininho, tão prematurinho”, detalha.
Ao longo de cada dia, Henrique surpreendia mais. A mãe narra que ele teve dificuldades respiratórias, hemorragias e paradas cardíacas , mas sobreviveu a cada obstáculo. “Ele, sem ver, era muito forte. A gente via a vontade que ele tinha de viver”, conta, emocionada.
“Eu tenho testemunho dos próprios médicos. De virar para mim e falar: ‘Mãe, não sei. Só sei que deu certo. Era um tiro no escuro, eles não sabiam o que ia acontecer. Quando eles viram a recuperação do Henrique, eles todos se sentiram muito felizes. Foi um sucesso mesmo pra todo mundo”, diz.
Henrique ficou 85 dias entubado e totalizou quatro meses de internação. Ele e a família receberam alta para irem para casa no dia 5 de agosto. De acordo com Heusiléia, ela e o marido ficaram preocupados a princípio, pois se questionaram se conseguiriam manter o nível de cuidados da criança, mas foram tranquilizados pelos médicos.
“Ele tem acompanhamento com pneumologista, fisioterapeuta. Não teve nenhuma regressão, nenhuma sequela”
O último procedimento que o pequeno precisará passar é uma cirurgia para tratamento de uma hérnia inguinal, comum em bebês prematuros. Apesar disso, ele está saudável. “Parece que o ambiente da casa é restaurador porque o desenvolvimento dele foi muito bom”, revela.
Nas redes sociais, Heusiléia vem compartilhando a história da família. Segundo ela, para dar esperança para mães e pais que podem estar passando pelo mesmo.
“Eu fiquei quatro meses na UTI e eu conheci muitas mãezinhas. Conheci mãezinhas que perderam seus filhos, que não tiveram a mesma sorte que eu, e outras que ainda ficaram lá. Eu procurava, eu pesquisava na internet alguma história, alguma coisa pra me agarrar. Então, eu espero que a história do Henrique sirva para isso, para dar esperanças a outras mães. Porque se você for olhar pra ele, a probabilidade dele era mínima, mas nós confiamos e foi um dia após o outro. E confiamos, principalmente em Deus, e as coisas aconteceram. Eu acredito que o Henrique foi fruto de fé e de muita oração”, declara.
