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Remanescentes do Juquery já podem receber alta e não sofrem surtos psicóticos

Enquanto a hora de dizer adeus ao hospital não chega, os idosos participam de atividades recreativas no hospital, como pintar quadros, andar de triciclo, costurar e participar de gincanas

6 dez 2019 - 12h11
(atualizado às 13h47)
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FRANCO DA ROCHA - Todos os que sobraram no Hospital Psiquiátrico do Juquery, em Franco da Rocha, na Grande São Paulo estão em condições de receber alta e nenhum sofre com surtos psicóticos. Mas processo de saída não é simples: eles aguardam a abertura de novas vagas em residências terapêuticas em regiões que facilitem a reconstrução dos laços afetivos.

Não há previsão para a desativação completa do Juquery. Mas, segundo a coordenadora de saúde mental da cidade de São Paulo, Claudia Ruggiero, a Prefeitura abrirá 10 novas residências até dezembro deste ano com 100 vagas ao todo, das quais 19 serão para moradores do complexo.

Enquanto a hora de dizer adeus ao hospital não chega, os idosos participam de atividades recreativas no hospital, como pintar quadros, andar de triciclo, costurar e participar de gincanas. Às vezes, participam de dinâmicas que estimulam hábitos que desaprenderam com os anos de internação, como ir a um restaurante para se servir sozinho ou escolher a própria roupa, já que vestem uniformes.

"Tudo é feito para estimular o físico e o cognitivo do paciente, respeitando a autonomia e a vontade de cada um. Nenhum deles é obrigado a nada", assegura o diretor do Juquery, Glauco Cyriaco.

Sem família

A transferência para as residências terapêuticas, no entanto, não é sinônimo de reconstrução dos laços familiares. Claudia afirma que a maioria dos 558 moradores distribuídos nos 62 lares da capital não tem familiares de sangue. Nas duas residências terapêuticas (RTs) de Franco da Rocha, só cinco dos 19 residentes recebem visitas. Com exceção de uma, todas são com baixa frequência.

No Juquery a situação é parecida: sem familiares por perto e alheios ao resto da população há décadas, os idosos se unem com os funcionários para celebrar as datas comemorativas no silêncio do complexo, rodeado por árvores, prédios vazios e com o canto dos pássaros ecoando pelos quartos.

"A sociedade não quer que os manicômios existam mais. Mas precisamos pensar que existiram por anos não só por questão de política pública, mas por conivência social. Sou culpada, ele é culpado, você é culpado. Todos somos coniventes com esse estado de abandono", diz a psicóloga Paula Karkoski.

*ESTAGIÁRIO SOB A SUPERVISÃO DE CHARLISE MORAIS

Estadão
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