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O que é a testagem em conjunto e como funciona?

Esta seria a mais recente estratégia para conter a pandemia do coronavírus nos Estados Unidos que matou pelo menos 123 mil pessoas e infectou mais de 2,4 milhões

29 jun 2020 - 15h11
(atualizado às 15h19)
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Em uma entrevista na quinta-feira, Anthony S. Fauci, diretor do Instituto de Doenças Infecciosas e Alergia disse numa entrevista ao Washington Post que as autoridades de saúde estão mantendo debates intensos sobre o que é conhecido como "testagem em conjunto". Esta seria a mais recente estratégia para conter a pandemia do coronavírus nos Estados Unidos que matou pelo menos 123 mil pessoas e infectou mais de 2,4 milhões.

Pesquisador trabalha em laboratório da fabricante de vacinas CanSino, em Tianjin, na China
20/11/2018 REUTERS/Stringer
Pesquisador trabalha em laboratório da fabricante de vacinas CanSino, em Tianjin, na China 20/11/2018 REUTERS/Stringer
Foto: Reuters

O que é a testagem em conjunto?

Ela combina amostras de várias pessoas e testa todas de uma só vez para o coronavírus, reduzindo o tempo e material necessário. O protocolo foi criado para testes da sífilis durante a Segunda Guerra Mundial e usado no passado para surtos de outras doenças transmitidas sexualmente, incluindo a AIDS.

"Se [o teste de] todo mundo for negativo, então está perfeito", disse Ashish Jha, diretor da T.H. Chan School of Public Health do Harvard Global Health Institute, ao Washington Post em maio.

Se o teste detectar a presença do vírus, então cada pessoa deverá ser testada e os resultados analisados individualmente para determinar que amostras produziram o resultado positivo.

"Você consegue rapidamente aumentar a capacidade de testagem", afirmou Benjamin Pinsky diretor do Clinical Virology Laboratory da Escola de Medicina de Stanford. "Por outro lado, existe uma sensibilidade reduzida. É uma espécie de equilíbrio". Amostras com baixa carga viral têm mais probabilidade de o vírus não ser detectado numa testagem em conjunto", afirmou ele.

Quantas amostras são reunidas?

Os pesquisadores, em geral, sugerem quantidades entre três e 50. Quanto maior o número de pessoas maior a probabilidade de um caso positivo com uma baixa carga viral estar por demais diluído para desencadear a detecção do vírus. Pesquisadores israelenses descobriram que uma amostra positiva seria detectada num grupo de 32 pessoas e mesmo num de 64, embora neste último caso haveria necessidade de mais ciclos de amplificação do vírus. Um lote muito grande contendo um caso positivo também significa que mais testes individuais terão de ser realizados para se encontrar a pessoa infectada. Mas os pesquisadores também vêm experimentando maneiras de organizar as amostras que facilitariam separar um caso positivo numa testagem em lote.

Quando essa amostragem em lote faz sentido e quando não?

Ela funciona melhor numa população grande em que a taxa de infecção é baixa. Se você trabalha com um grupo pequeno, esse tipo de testagem não é necessário. Mas se é um grupo grande e há suspeita de que muitas pessoas estão positivas, não é útil agrupá-las porque muitas das amostras terão de ser testadas de novo individualmente.

Jha disse que o método pode ser usado, hipoteticamente, para testar crianças que participaram de um acampamento de verão numa área em que a transmissão é baixa. "Você usa um kit de testes e, se for negativo, então tudo bem. Se der positivo, as crianças voltam para casa e pedimos aos pais para averiguarem quem é positivo", disse ele.

Jha e outros especialistas sugerem que há outros grupos em que a testagem em conjunto regular pode ser eficaz, como escolas, escritórios e prisões.

A preocupação com os falsos negativos seria menor se o mesmo grupo fosse testado várias vezes, oferecendo mais chances de se detectar o vírus.

"Seria muito útil em programas de volta à escola ou ao trabalho ou no caso de uma triagem em larga escala porque permite testar mais pessoas e testá-las mais frequentemente e essa é a chave", disse Pinsky.

Alguém mais está adotando este método?

Países em todo o mundo vêm realizado essa testagem em bloco. Na Índia, o protocolo combina 25 amostras de uma vez no caso de trabalhadores imigrantes e viajantes internacionais em quarentena, e como vigilância em "zonas verdes, onde a prevalência é baixa. A Alemanha também tem usado esse tipo de testagem em asilos e casas de saúde, e Singapura também adotou o sistema.

Se é tão bom, porque até agora não o adotamos?

Nos Estados Unidos, as restrições federais limitaram a viabilidade da testagem. A FDA (Agência de controle de alimentos e medicamentos) considera as amostras em conjunto uma modificação que não se conforma às regras. Uma exceção é Nebraska, onde o governador Pete Ricketts deu ao laboratório de saúde pública, a título de emergência, autorização para adotar essa testagem.

"Estamos com escassez de reagentes. Estamos num ponto em que vamos ter de fechar o laboratório", disse o diretor Peter C. Iwen.

A FDA posteriormente concordou com a realização de cinco testagens pelo laboratório desde que a taxa geral de positividade fosse abaixo de 10%. Iwen disse que está conversando com patologistas e a FDA sobre como permitir a testagem por conjunto a nível nacional.

"É uma enorme mudança a ser feita...permitir que isto aconteça. E é o que precisamos. Todo mundo está inquieto quanto a levar isto adiante por causa dos regulamentos".

O laboratório de Pinsky em Stanford também realizou entre dezembro e fevereiro algumas triagens em bloco de moradores de San Francisco para sintomas respiratórios, antes de o teste de coronavírus ser disponibilizado. Usando grupos de 10 eles examinaram 2.888 amostras e descobriram somente dois casos positivos, indicando que o vírus não havia se propagado na área naquele ponto.

O laboratório agora está se preparando para testes clínicos em conjunto, dependendo da aprovação da FDA.

Tradução de Terezinha Martino

* Paige Winfield Cunningham e Rosalind S. Helderman contribuíram para este artigo.

Estadão
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