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Medicamento usado há 30 anos pode mudar protocolos para casos de infarto

18 abr 2017 - 11h15
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O metoprolol, um medicamento usado há 30 anos para doenças cardíacas, é capaz de reduzir o dano que um infarto provoca no músculo do coração, de acordo com uma descoberta feita agora por cientistas espanhóis, o que ampliará seu uso para outras patologias e mudará os protocolos para os casos de infarto.

A descoberta, realizada por cientistas do Centro Nacional de Pesquisas Cardiovasculares (CNIC, sigla em espanhol), dos Centros de Pesquisa Biomédica em Rede (CIBER) de Doenças Cardiovasculares e do Instituto de Pesquisa de Saúde da Fundação Jiménez Díaz, foi publicada nesta terça-feira na revista científica "Nature Communications".

"Há mais de 30 anos, o metoprolol é utilizado basicamente para tratar taquicardias, arritmias, e problemas de pressão arterial. No entanto, os pesquisadores nunca haviam estudado se sua administração de forma precoce poderia reduzir os danos provocados por um infarto", explicou à Agência Efe Borja Ibáñez, diretor do departamento de pesquisa clínica do CNIC e coautor do estudo.

Em 2013, a equipe de pesquisa deste cardiologista publicou os resultados de um ensaio clínico com 300 pacientes que demonstrava que o metoprolol era útil para combater infartos.

Metade dos pacientes usou o medicamento logo após o diagnóstico, a outra metade não. O resultado foi contundente: a administração precoce do fármaco reduziu em até 25% a quantidade de músculo necrosado (morto) após o infarto.

Contudo, embora os benefícios do remédio fossem evidentes, os responsáveis pelo estudo queriam saber por que ele havia funcionado e qual era seu mecanismo de ação.

O infarto agudo do miocárdio é uma patologia grave com alta incidência. Mas como ela ocorre?

O coração é composto de três artérias coronárias, "três grandes vasos que levam sangue ao órgão, mas alguns fatores como o acúmulo de gordura, diabetes e hipertensão podem fazer que uma destas artérias fique obstruída".

Quando isso acontece, ocorre um infarto: uma parte do músculo do coração deixa de receber oxigênio e nutrientes, morre e não volta a trabalhar. São as sequelas irreversíveis do infarto.

Atualmente, o tratamento consiste em realizar um cateterismo para eliminar o coágulo, mas, "embora se consiga desobstruir o vaso, uma parte do músculo sempre fica danificada. A quantidade de coração que pode ser salvada dos danos dependerá da velocidade do atendimento", advertiu Ibáñez em declarações à Efe.

Quando acontece um infarto, o organismo libera glóbulos brancos (neutrófilos), cuja missão é defender o corpo de possíveis infecções.

"O problema dos neutrófilos é que são ativados e se acumulam no coração. Ao desobstruir o vaso com o cateterismo, (os neutrófilos) entram no músculo, produzindo danos irreversíveis", acrescentou Ibáñez.

Trata-se de um dano colateral, um dano que até agora era considerado um mal necessário "porque, se não houver a desobstrução do vaso, o paciente morre".

No entanto, após sete anos de trabalho com cobaias animais geneticamente modificadas, a equipe do CNIC comprovou que o metoprolol funciona porque age diretamente sobre os glóbulos brancos: "o remédio neutraliza os neutrófilos e reduz os danos que eles causam. De fato, se o fármaco for administrado antes de abrir a artéria, o dano pode ser reduzido em até 25%".

A descoberta poderia mudar os protocolos de ação diante dos infartos porque, "exceto quando existe contraindicação do medicamento, quanto mais rápido ele for administrado, menor será o dano no músculo", frisou Ibáñez.

Além disso, uma vez que foi descrito o mecanismo de ação do remédio, este pode ser utilizado para tratar doenças provocadas por glóbulos brancos "hiperativos", como uma sepse, entre outras enfermidades, concluiu o cardiologista.

Para Valentin Fuster, diretor-geral do CNIC e do Instituto Cardiovascular do Hospital Mount Sinai de Nova York, e coautor do trabalho, "a tecnologia de imagem presente no CNIC permitiu determinar de maneira muito concisa o estado do coração de pacientes que sofreram esta patologia, ajudando a decifrar um novo mecanismo de ação deste medicamento que é utilizado há décadas".

EFE   
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