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Maternidades usam suíte especial e curso com simulação de parto para reduzir cesáreas desnecessárias

Melhora da infraestrutura, análise de dados e trabalho com gestantes e médicos reduzem partos cesáreos em redes hospitalares; índice geral do País está em crescimento

14 jan 2023 - 15h21
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Para enfrentar o alto índice de cesáreas desnecessárias no País, grandes redes de hospitais e maternidades privadas têm desenvolvido ações para reestruturar suas instalações, capacitar profissionais e conscientizar gestantes sobre os benefícios do parto normal e os riscos da realização de uma cesariana sem indicação clínica.

Cursos para gestantes com simulações realísticas do parto, salas especiais para o trabalho de parto com banheira, bola de pilates e até cama de casal king size, e formação de equipes multiprofissionais com foco na humanização do parto são algumas das ações adotadas pelos estabelecimentos de saúde para tentar vencer a resistência de alguns médicos e pacientes ao parto vaginal.

No Brasil, 57% dos nascimentos em 2021 ocorreram via cesariana e o índice segue tendência de alta nos últimos anos. Conforme revelou o Estadão, o ano de 2020 teve taxa recorde desse tipo de parto. Na rede particular, o porcentual supera os 80%. A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera adequada uma taxa de 10% a 15% e ressalta que, embora uma cesariana possa salvar vidas de gestantes e bebês em condições específicas, ela coloca as mulheres e crianças em risco desnecessário quando realizadas sem necessidade.

Para reduzir esse índice em suas unidades, o Grupo Santa Joana, que administra as maternidades Santa Joana, Pro Matre e Santa Maria, iniciou em 2020 um projeto em diferentes frentes. Em primeiro lugar, realizou uma análise de dados para entender os grupos de pacientes nos quais deveria focar. Utilizou, para isso, a Classificação de Robson, criada pelo médico irlandês Michael Robson em 2001 e adotada pela OMS e pelo Ministério da Saúde para categorizar mulheres segundo algumas variáveis e, assim, monitorar cesarianas desnecessárias e outros indicadores por perfil.

Pela Classificação de Robson, as gestantes são divididas em dez grupos conforme seis variáveis: número anterior de partos, número anterior de cesáreas, como foi o início do parto (espontâneo, induzido ou cesárea antes do trabalho de parto), idade gestacional, posição do feto e número de fetos naquela gestação. Nos grupos 1 e 3, de mulheres com idade gestacional maior que 37 semanas, já em trabalho de parto e com o feto na posição cefálica, por exemplo, é raro haver necessidade de cesárea, mas, segundo dados do Ministério da Saúde, o índice é de 43,8% e 19,1%, respectivamente, segundo dados de 2021.

"Esses dois grupos, em geral, são de mulheres com gestações de baixo risco, que geralmente querem ter um parto vaginal, mas os resultados estão muito fora do esperado", disse ao Estadão o médico irlandês, que atua como consultor no projeto do Santa Joana e esteve no Brasil em novembro. Ele defende que o governo e as operadores de saúde recompensem os hospitais que coletarem e disponibilizarem dados de boa qualidade que permitam análises e intervenções no cuidado à gestante. "E temos que concentrar (os esforços) nas mães de primeira viagem", afirma Robson.

"Essa análise dos indicadores por grupos da Classificação de Robson permitiu que nos organizássemos para escolher onde atacar primeiro. Atacamos os grupos 1 e 3 e já tivemos uma queda no número de cesáreas", diz Eduardo Cordioli, diretor técnico de obstetrícia do Santa Joana. A taxa geral de cesárea nas maternidades do grupo caiu de 89% para 79% entre 2020 e 2021, com queda mais expressiva nas mulheres dos grupos 1 e 3 da Classificação de Robson. No grupo 1, o índice caiu de 65% para 45%. No 3, a taxa passou de 25% para 15%.

Entre as medidas adotadas pelo Santa Joana estão um curso para gestantes que inclui orientação sobre as fases do parto e métodos para reduzir o desconforto do trabalho de parto. "Temos um centro de simulação realística que era voltado para a educação de profissionais, mas passamos a usá-lo também para a educação de pacientes. Muitas não querem ter o parto normal por medo da dor e, nesse curso, falamos bastante sobre os métodos de analgesia", explica Monica Siaulys, diretora médica do Santa Joana.

Quando Fabiane entrou em trabalho de parto, ela, traumatizada com o primeiro parto, ainda pensava em fazer cesárea, mas, quando chegou à maternidade, a decisão mudou. "Fui acolhida não só pelo obstetra, mas por toda a equipe. Eu já estava com cinco dedos de dilatação quando cheguei e sem dores, então me perguntaram se eu não queria tentar. Me ofereceram a bola, massagem, óleo essencial. Me hidratei. Era uma sala muito confortável e eu tinha tudo para aliviar minha dor. Me senti respeitada", diz.

Após duas horas em trabalho de parto, Fabiane teve Vicente, hoje com 1 ano e 4 meses, por parto normal, e diz ter ressignificado o momento do nascimento de um filho. "O médico me falou que eu seria a protagonista do meu parto. É um momento que estamos com muita força, mas, ao mesmo tempo, muito frágeis. Se a gente não tem pessoas para nos apoiar e nos incentivar, o parto não flui", afirma.

Estadão
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