Inalar desodorante pode causar danos graves à saúde e levar à morte; entenda
Gases presentes no produto podem impedir a chegada de oxigênio às células e prejudicar o funcionamento do coração
Uma menina de 11 anos morreu neste domingo, 9, na cidade de Bom Jardim, no interior de Pernambuco, após sofrer uma parada cardiorrespiratória desencadeada pela inalação, por via oral, de um desodorante aerossol. A prática tem sido compartilhada por jovens e vídeos ensinando como "baforar" o material para provocar desmaios viralizaram no TikTok.
A atividade pode causar uma série de danos. "A inalação de aerossóis, incluindo desodorantes em spray, representa um risco à saúde devido aos gases propelentes presentes nesses produtos, como isobutano, butano e propano. Quando inalados, eles podem levar à morte por diferentes mecanismos", destaca Gabriel Santiago, coordenador nacional de pneumologia da Rede D'Or.
Os gases, segundo Santiago, podem tomar o espaço do oxigênio no pulmão, impedindo que ele entre no corpo e chegue ao sangue. Sem oxigênio suficiente, o indivíduo tem dificuldade para respirar, o que pode causar asfixia e até mesmo a morte.
Marcelo Rabahi, pneumologista do Hospital Israelita Albert Einstein, destaca que alguns desodorantes podem conter álcool, que também é um irritante das vias aéreas. "Dependendo da quantidade inalada, acontece o que chamamos de broncoespasmo, que é o fechamento dos brônquios. Isso leva a uma crise aguda respiratória".
Outro risco envolve o efeito tóxico dos gases sobre o coração. "Após a inalação, eles são absorvidos e podem desencadear arritmias cardíacas, como fibrilação ventricular, que podem levar à parada cardíaca e, consequentemente, à morte", diz Santiago.
Os gases, além disso, atuam como depressores do sistema nervoso central. Eles podem causar sonolência extrema e redução do nível de consciência, o que também pode levar à morte. "Esses riscos são mais comuns em casos de inalação intencional e recreativa, como o que foi reportado, mas também podem ocorrer em situações de exposição acidental, especialmente em ambientes fechados e sem ventilação adequada", explica o coordenador de pneumologia.
Existem grupos mais vulneráveis?
Flávia Fonseca, pneumologista e secretária-geral da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), ressalta que "nenhum indivíduo, em nenhuma circunstância, deve inalar quantidades elevadas de desodorante em spray ou qualquer outra substância desenvolvida para esse fim".
Alguns grupos, no entanto, apresentam um risco ainda maior. Crianças, por exemplo, possuem vias aéreas menores e seu sistema imunológico ainda está em desenvolvimento. Ademais, elas são mais sensíveis aos agentes químicos.
Indivíduos com doenças respiratórias pré-existentes, como asma e Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), também podem apresentar uma resposta exacerbada à irritação química das vias aéreas.
Idosos e pessoas com comorbidades cardiovasculares também devem redobrar os cuidados. "(Eles) dispõem de menor reserva funcional para compensar os efeitos sistêmicos decorrentes da hipóxia (falta de oxigênio) e da inflamação", cita Flávia.
Quais os sinais de intoxicação?
"Em situações de exposição elevada, os sintomas podem surgir de forma imediata e evoluir conforme a intensidade da toxina inalada", destaca a secretária-geral da SBPT.
Entre os sintomas iniciais estão:
- irritação imediata nas vias respiratórias, com sensação de desconforto na garganta e nariz;
- tosse ou espirros;
- dificuldade respiratória e sensação de aperto no peito;
- tontura, náusea ou desorientação (pela absorção dos componentes tóxicos).
Os sintomas podem progredir para:
- cianose (coloração azulada da pele);
- insuficiência respiratória severa.
Rabahi destaca que, em caso de inalação do produto, é preciso buscar atendimento médico de forma imediata. O tratamento pode incluir o uso de substâncias que mantenham os brônquios abertos, medicamentos anti-inflamatórios, como corticoides, e suporte de oxigênio.
